Diários de Quarentena 9 – A Glória vem-nos trazer uma reflexão oportuna, na poesia de Fernando Pessoa
Há doenças piores que as doenças.
– Fernando Pessoa
– Fernando Pessoa
I
Há doenças que são mais que doenças,
que não apenas são à vida infensas
como oferecem algumas recompensas
Há doenças que são mais que doenças,
que não apenas são à vida infensas
como oferecem algumas recompensas
que tornam mais urgente e mais difícil
o já por vezes inviável ofício
de habitar o íngreme edifício
o já por vezes inviável ofício
de habitar o íngreme edifício
do não-se-estar-conforme-se-devia
e administrar a frágil fantasia
de que se é o que ninguém seria
e administrar a frágil fantasia
de que se é o que ninguém seria
se não tivesse (insistentemente)
de convencer-se a si (e a toda gente)
que não se está (mesmo estando) doente.
de convencer-se a si (e a toda gente)
que não se está (mesmo estando) doente.
II
O mundo está fora de esquadro.
Na tênue moldura da mente
as coisas não cabem direito.
O mundo está fora de esquadro.
Na tênue moldura da mente
as coisas não cabem direito.
A consciência oscila um pouco,
como uma cristaleira em falso.
Em torno de tudo há uma aura
como uma cristaleira em falso.
Em torno de tudo há uma aura
que é claramente postiça.
O mundo precisa de um calço,
fina fatia de cortiça.
O mundo precisa de um calço,
fina fatia de cortiça.
III
Nenhuma posição é natural.
Qualquer ordenação de pé e mão
e tronco é tão-somente parcial
Nenhuma posição é natural.
Qualquer ordenação de pé e mão
e tronco é tão-somente parcial
e momentânea, uma constelação
tão arbitrária e pouco funcional
quanto a Ursa Maior ou o Escorpião.
tão arbitrária e pouco funcional
quanto a Ursa Maior ou o Escorpião.
Nenhuma é estritamente indispensável.
Nenhuma é realmente lenitiva.
Nenhuma é propriamente confortável.
Apenas uma é definitiva.
Nenhuma é realmente lenitiva.
Nenhuma é propriamente confortável.
Apenas uma é definitiva.
4 Comments:
muito bem escolhido
eh. eH. EH. As meninas são SURPREENDENTES!!!
Se a DGS descobre que conseguiram assustar a corona, têm o futuro garantido.
Com o pessoal a inovar o BLOGUE NÃO PODE PARAR
A poesia sempre foi uma arma contra o obscurantismo, a tirania, os poderosos, e hoje aparece como uma arma contra a pandemia, o isolamento, a descrença, o pessimismo.
Viva a poesia!
Abaixo o coronavírus!
Zé Carlos
Grandes malucas! :)
Há que superar as adversidades,
com responsabilidade,
mas também com alguma leveza.
Beijinhos
Teresa Sousa
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