domingo, novembro 09, 2008

O ATRIUM em crise

Não é propriamente o Atrium que está em crise, mas o mundo, ou talvez mais rigorosamente uma parte dele…a nossa parte.
Nesta sessão, abrilhantada pelo José Maria, analisou-se e discutiu-se a crise financeira que alastrou no mundo ocidental, discutiram-se as suas causas e procurou-se dentro do possível antecipar o futuro mais ou menos próximo.


O debate começou com o visionamento deste pequeno filme.




Para além do indiscutível interesse e oportunidade desta discussão, saliente-se que ela teve o interesse adicional de dar a conhecer, ainda que em termos pouco rigorosos, a carteira de acções de alguns atriumnistas mais aflitos…

3 Comments:

Blogger Jorge Conceição said...

Não vem a propósito, nem comento "na hora" o "post", mas é o único meio que encontro para divulgar junto dos atriumnistas aquilo que julgo poder interessar muitos de vós.

Refiro-me ao conhecimento mais abrangente do que nos rodeia por acesso a outros "blogs". Julgo que isso ainda estará no espírito do Atrium, como o estava há vinte e tal anos quando o criàmos: conhecer o que nos rodeia, incluindo o que nos antecedeu e que nos fará melhor conhecer o presente preparar o futuro, ultrapassando o museolismo estático, mas dele tirando partido.

E é nesse sentido que divulgo, a quem não o conhece, um blogue criado em Junho de 2008 chamado «Caminhos da Memória» (com o endereço http://caminhosdamemoria.wordpress.com) e que diariamente tem colocado "posts" importantíssimos e interessantíssimos sobre o nosso (humano, mas sobretudo, luso) passado recente e tem provocado comentários e debates esclarecedores. Acho uma pena as pessoas não o aproveitarem mais e deixarem-se ficar à margem duma tão boa oportunidade de participar e de se esclarecer.

Para terem alguma referência transcrevo o genérico do blogue:

"Caminhos da Memória é um blogue que pretende dar voz a diferentes formas de lembrar, de evocar e de interpretar o passado, recorrendo a leituras contemporâneas da história e da memória.

A redacção é constituída maioritariamente por membros da Associação «Não Apaguem a Memória!», ainda que não possua um vínculo formal com a mesma. (Ler mais...)

Redacção: Diana Andringa, Irene Pimentel, Joana Lopes, Maria Manuela Cruzeiro, Miguel Cardina, Raimundo Narciso e Rui Bebiano

Colaboradores: Ana Vicente, Eduardo Graça, João Tunes, José Luís Saldanha Sanches, José Medeiros Ferreira, José Vera Jardim, Nuno Brederode Santos."

Se acharem bem, oportunamente indicarei outros blogues que considero interessante visitar.

16/1/09 13:28  
Anonymous Anónimo said...

Para quem não está imteressado em refrescar a memória da nossa história recente, mas gosta de banda desenhada de qualidade, eis uma sugestão:

- O livro de Giorgio Fratini, "As paredes têm ouvidos / Sonno elefante", que, em Outubro do ano passado, foi considerado o melhor livro italiano de banda desenhada no Festival de BD de Roma, Romics 2008.

Que dizer a juntar a qualidade com a banda desenhada, sobretudo escrita sobre acontecimentos em Lisboa, Portugal, sobre os quais os seus habitantes (lisboetas, portugueses) não se sentem motivados a fazê-lo, tendo para o efeito sido tomada a iniciativa por um jovem italiano após a sua participação no "Erasmus"?

18/1/09 17:36  
Anonymous Anónimo said...

Ainda relativamente à "Crise" transcrevo um artigo relativo a uma carta aberta enviada pelo prémio nobel da economia, Paul Krugman ao Presidente Obama.

José Carlos
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Paul Krugman, prémio Nobel da Economia 2008, assina no último número da revista Rolling Stone (anterior à tomada de posse do Presidente), uma carta ao novo Presidente dos EUA, intitulada “O que deve Obama fazer”.
1. A carta, disponível em www.rollingstone.com/politics/story/25456948, inicia-se com uma análise da “situação única” que Obama enfrenta, apenas comparável à primeira presidência de Roosevelt, 75 anos atrás.
Para acompanhar devidamente o crescimento populacional, a economia estado-unidense deveria gerar não menos do que um milhão de novos postos de trabalho/ano; ora, diz o economista, o crescimento dos primeiros anos da era Bush, conseguido através da explosão da dívida pública, nunca foi capaz de criar mais do que 800 mil empregos/ano e, em 2008, com os mercados em desalinho e a procura a esvair-se, em vez de um ganho verificou-se a perda de dois milhões de empregos e um ritmo assustador de meio milhão de postos de trabalho a desaparecer mês após mês.
Se a hemorragia não estancar – Krugman prevê um desemprego real de 15% (20 milhões de americanos) até final de 2009 – o custo económico e social será pesado, quase insuportável, próximo da catástrofe. Milhões de americanos da classe média ver-se-ão encostados à linha de pobreza e, sem a assistência na saúde que lhes advinha do contrato de trabalho, contribuirão para levar os serviços públicos e as emergências dos hospitais à ruptura.
No último meio-século terá cabido à Reserva Federal, através dos instrumentos de política monetária (no calão dos economistas, o monetary transmission mechanism), mais do que à Casa Branca, running the show. São outras e bem diversas as circunstâncias actuais: o Banco Central poderá, é certo, continuar a imprimir dinheiro, mas as taxas de juro de referência já não irão além dos 0%.
Poderia parecer o ideal, mas não só os bancos não emprestam dinheiro a esta taxa (as empresas e os particulares estão aliás a pagar o crédito, quando lhes é concedido, mais caro do que há seis meses atrás) como quem pede poderá não estar interessado em assumir novos e pesados compromissos, como a compra de uma nova casa, de um carro ou outro bem duradouro.

2. Feito o diagnóstico, Krugman passa a explanar o plano de recuperação que propõe para a economia, um plano que se inspira nos sucessos alcançados pela Administração Roosevelt, mas que evita em simultâneo os erros cometidos no caminho. Enumera-se em seguida algumas das propostas:

• O conceito que levou à aprovação do T.A.R.P. da era Bush não era diverso do Reconstruction Finance Corporation de Roosevelt, isto é, a injecção maciça de capitais públicos para evitar o colapso do sistema financeiro. A diferença está em que a Administração Roosevelt chegou a deter um terço do sistema bancário e serviu-se dessa situação para forçar os bancos a normalizarem o crédito. Caberá a Obama, ao contrário do seu antecessor, restaurar idêntico condicionalismo;
• A Fannie Mae e a Freddie Mac seriam intervencionadas em Setembro de 2008, mas continua por fazer chegar ao sector imobiliário a possibilidade de renegociar em baixa hipotecas em incumprimento;
• Estabilizar o sistema financeiro é positivo mas insuficiente para dinamizar a economia real. Um plano ambicioso de criação de novos postos de trabalho é imprescindível e não há défice orçamental, por maior que seja, que o impeça. Roosevelt foi determinado neste ponto, mas nem assim trouxe o desemprego aos níveis pré-Grande Depressão. Para travar o ritmo do desemprego (mais do que para o fazer baixar), tão logo quanto possível, só o investimento público resultará. Quanto? Krugman diz que USD 200mm/ano contribuem para baixar um ponto na taxa de desemprego; logo, a recuperação da economia poderá custar aos contribuintes perto de USD 800mm/ano e não menos de USD 500mm/ano caso se pretenda que ela comece a esboçar sinais de inversão;
• Investimentos desta ordem, feitos em clima de recessão e de acentuada quebra de receitas fiscais, ao longo de vários anos, catapultarão o défice para números assustadores. Krugman argumenta, porém, que sem eles o mesmo défice será ainda mais aterrador, além de que o principal problema da Administração Obama estará antes no onde investir esse dinheiro, ou seja, em projectos ou obras públicas prontas para arrancar no imediato. Assim sendo, há que ser criativo e encontrar áreas onde o investimento público possa gerar efeitos positivos imediatos na economia, servindo igualmente o futuro;
• Investir em escolas, estradas e pontes enriquece a Nação; mas também a internet e a infraestrutura que a suporta, a rede de distribuição eléctrica, as tecnologias da informação aplicadas ao sector da saúde e a ajuda financeira aos Estados, também eles coarctados na sua acção pelo decréscimo das receitas locais, servirão o duplo propósito de construir o futuro e de ajudar o presente, criando postos de trabalho e distribuindo salários;
• A extensão do subsídio de desemprego, a distribuição de vales-alimentação e a cobertura de riscos de saúde dos mais desfavorecidos, são medidas que também farão sentido;
• Quanto à diminuição de impostos, embora Krugman considere que não serão o melhor instrumento para combater a paralisia da economia, aceita-a desde que temporária e direccionada para as classes baixa e média-baixa, pois serão elas as que maior benefício (consumo) retirarão da medida. O Prémio Nobel lembra entretanto que, no futuro imediato, mais receitas, e não menos, serão necessárias para sustentar o crescimento e financiar reformas como a Segurança Social ou o Medicare/Medicaid.

3. A parte final da carta endereçada ao Presidente Obama demora-se no pós-crise e um pouco no que extravasa a matéria da sua especialidade, a economia. Para lá do combate imediato à pior crise económico-financeira das últimas quatro décadas, Paul Krugman convida Obama a deixar como legado um novo sistema de saúde de cobertura universal.

A situação actual trouxe à superfície duas verdades: se não tivessem de suportar a assistência médica dos seus trabalhadores, no activo e reformados, os construtores automóveis não se encontrariam em tão periclitante situação; e ligar os cuidados de saúde aos contratos de trabalho é mecanismo que só funciona em períodos de crescimento económico. Krugman sugere avançar com gradualismo neste particular, preservando os sistemas de segurança social privados, mas criando em paralelo um sistema público, de adesão voluntária. Este poderá custar alguns biliões no médio prazo, mas proporcionará ganhos no longo prazo, pois torna o sistema muito mais eficiente.

Num outro plano, Krugman vem reconhecer as vantagens do que os historiadores apelidaram de “Great Compression”, nada mais do que o encorajamento à sindicalização dos trabalhadores. O New Deal de Roosevelt criou a classe média americana, graças ao incremento substantivo dos salários e ao esbater das desigualdades sociais. Entre 1935 e 1945 o número de sindicalizados triplicou, mas o processo viria a retroceder na década de 70, graças às mudanças estruturais ocorridas na economia mundial, em particular a maior competição enfrentada pelas empresas norte-americanas.

O Prémio Nobel da Economia sugere a Obama que se volte a estimular a sindicalização e seja aprovado pelo Congresso um Employee Free Choice Act, capaz de impedir os empregadores de dificultar ou proibir a ligação dos seus empregados aos sindicatos.

As últimas palavras de Krugman, antes de desejar boa sorte ao novo Presidente, vão no sentido de pedir a constituição de uma Comissão de Verdade e Reconciliação, que esclareça o povo americano sobre o como e os porquês de uma invasão militar em busca de armas que não existiam, de como a tortura se tornou rotina na política americana, de como a Justiça foi posta ao serviço de interesses ideológico-partidários e de como a corrupção floresceu, não apenas no Iraque, mas em Washington, na Administração e no Congresso.

Krugman aceita que não seja a Casa Branca a liderar tal comissão, mas mostrar-se-à menos compreensivo se ela não influenciar ou encorajar os investigadores a, com a revelação da verdade, pôr um fim à era Bush.

30/1/09 10:57  

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