segunda-feira, dezembro 06, 2021

No Teatro da Barraca o Atrium assistiu a um desafiante elogio da loucura

Foi no passado dia 21 de outubro que fomos até ao Teatro da Barraca para assistir à peça Elogio da Loucura, um espectáculo com encenação de Hélder Mateus Costa e Maria do Céu Guerra, a partir de Erasmo de Roterdão.

Publicado pela primeira vez em 1511, "Elogio da loucura" é considerado, na história do pensamento europeu, uma das obras mais influentes da civilização ocidental e um impulso para a reforma protestante ocorrida na Europa, no século XVI.

Pelo seu interesse, transcrevemos um texto do encenador Hélder Mateus Costa, sobre a peça.

Erasmo era cristão, mas sabia ver as falhas que existiam no fanatismo religioso, na opressão da igreja católica e o seu mundo de corrupção de que foi um ponto alto e inconcebível a invenção das Indulgências! Uns papéis que eram vendidos para absolver dos pecados quando chegasse o Juízo Final! Ele denunciou essa prática, que depois Lutero imitou e deu origem à cisão Protestante.

Claro que este teólogo e pensador criticava também muitos comportamentos e pensamentos da sociedade, não só do seu tempo, mas de abrangência Universal e atemporal. E como verdadeiro homem do Renascimento, construiu um humanismo de raiz cristã, unindo a sabedoria da Antiguidade com a ética do Cristianismo, que combatia a hipocrisia de cristãos que cometiam erros e diziam que a culpa era do Diabo!

Este novo homem do Renascimento tinha confiança em si próprio, conquistada com uma luta que o transformou no grande instrumento da sua época, livre de ter como único socorro a graça divina. Fugia do medo e do pessimismo e olhava o futuro com optimismo, confiando na sua acção, no seu livre-arbítrio. E como não era fanático, compreendeu sempre que um ateu é preferível a um falso cristão, como já disse o Papa Francisco.

Foi o "homem Europeu", cidadão do mundo que espalhou a sua mensagem pela Flandres, onde nasceu, Alemanha, França, Inglaterra, Itália e Suíça, onde terminou os seus dias também fugindo à Inquisição.

Entre as muitas amizades que criou é de realçar Thomas More, autor de "Utopia" e a quem ele dedicou a obra-prima " O Elogio da Loucura", cuja agudeza satírica e coragem continuam a ser um bálsamo para os nossos tempos.

Talvez fosse de começarmos a pensar num Neo-Renascimento.