Um mergulho na obra de João Abel Manta, um artista da revolução
A visita guiada ao Palácio Anjos, no passado dia 17 de abril, onde está patente a exposição “João Abel Manta livre” foi o reencontro com a obra de um artista, conhecido sobretudo como o mais alto criador da arte gráfica ligada à luta contra a ditadura e à revolução do 25 de abril.
Mas para além
dos cartoons e cartazes revolucionários de João Abel Manta (JAM), nesta
exposição é mostrada também a grande diversidade da obra do artista. Assim,
pudemos apreciar os cartazes de filmes e colóquios, os painéis de azulejos, as
tapeçarias, os selos, as colagens, os figurinos e cenários de teatro, as
ilustrações de livros, os muitos desenhos feitos por simples prazer, e as
pinturas quase desconhecidas.
Peças nunca
antes expostas, originárias da casa do artista e da coleção particular dos
herdeiros de Vasco Gonçalves, podem ser aqui apreciadas.
Uma
referência especial às caricaturas de Salazar, onde JAM analisou e fixou a
fisionomia do ditador ao longo do tempo, constituindo um retrato satírico do
seu envelhecimento.
Nascido em
Lisboa em 1928, foi resistente ao regime de Salazar, foi arquitecto premiado,
desenhador, artista gráfico, ilustrador, cartoonista e o autor de algumas das
mais emblemáticas imagens da revolução portuguesa de 1974-75.
Recorde-se
que JAM foi preso pela PIDE em fevereiro de 1948, aos 20 anos, no Forte de
Caxias, por suposta pertença ao MUD Juvenil, e aqui, no Palácio Anjos, é
mostrada pela primeira vez, uma selecção dos desenhos que ali produziu.
Das suas
obras de maior impacto, fora do cartoon, destacaremos a famosa a tapeçaria do
Salão Nobre da Fundação Gulbenkian e o mural de azulejos da Avenida Calouste
Gulbenkian, em Lisboa.
João Abel
Manta, atualmente com 96 anos, está impossibilitando de sair de casa por razões
de saúde, mas acompanhou todo o processo de organização da sua coleção de
obras, então espalhadas pela casa da família, levado a cabo pela sua neta,
Mariana Manta Aires, e ficou entusiasmado com a ideia de ver a sua obra
exposta. "Ele está muito orgulhoso e muito contente que finalmente se
fizesse uma exposição que abrangesse todo o tipo de trabalho. Ele não fez só
cartoon, ele não fez só pintura. Fez tantas outras coisas que faltava serem
mostradas. E ficou tão satisfeito, tão feliz. Há quase vinte anos que sente que
a obra dele foi esquecida", confidenciou Mariana aos jornalistas durante
uma visita à exposição.
A exposição
conta com curadoria de Pedro Piedade Marques, design gráfico e expositivo de
Jorge Silva e colaboração de uma das netas do artista, Mariana Manta Aires.
Foi uma
excelente e enriquecedora tarde, que se iniciou com um café e um animado convívio,
na esplanada vizinha do Palácio Anjos.
1 Comments:
❤️
Enviar um comentário
<< Home