O Atrium num teatro da margem esquerda, em Direcção aos Céus…
Foi na noite do passado dia 28 de
Novembro, que rumámos ao Teatro Municipal Joaquim Benite, em Almada, para assistir
à peça Em Direcção aos Céus, da autoria do dramaturgo austro-húngaro,
de língua e cultura alemãs, Odon von Horváth (1901 – 1938).
Horváth nasce em Fiume e fixa-se em Berlim
na década de 20, para a partir daí reinventar o teatro popular de língua alemã.
Em 1933, com a ascensão do nacional-socialismo, as suas peças são proibidas, e
abandona o país, refugiando-se na Áustria, onde continua a escrever peças de
teatro e romances. Mais tarde, com a invasão nazi da Áustria, em 1938, Horváth é
obrigado mais uma vez a exilar-se, morrendo em Paris nesse mesmo ano, num
estúpido acidente, atingido por um ramo de uma árvore na sequência de uma tempestade.
Em Direcção aos Céus, escrita em 1934, constitui uma
metáfora sobre as relações políticas e sociais do seu tempo, e que o seu autor definiu
como: "uma comédia sem truques de magia: dado o momento
que vivemos, creio que este tipo de teatro pode ser bastante útil, uma vez que
nos permite abordar temas de que não nos seria possível falar de outra
forma".
Ao vermos a representação do Inferno,
com a férrea disciplina militar, as torturas e a violência, não podemos deixar
de pensar na Alemanha nazi, nos campos de concentração e em todo o terror (mais
ridículo que assustador na peça) que se instalou pela Europa, subjugada ao III
Reich.
Para reflectir é também a ténue
separação entre o Bem e o Mal, entre o Céu e o Inferno, onde as pessoas
circulam de um para o outro, culminando com uma civilizada conversa entre os altos
responsáveis dos dois poderes, no caso entre S. Pedro e o Diabo em pessoa…
Enfim um bom serão que além do
entretimento nos deu algumas pistas para pensar o nosso tempo, a nossa
sociedade e a nossa vida.
Deixamos aqui uma proposta, que é também
um desafio, a quem desejar comentar Entre o Céu e o Inferno, que nos
envie os seus textos que serão aqui publicados.
Em jeito de conclusão, reproduzimos um
texto de Odon von Horváth, de uma terrível e assustadora actualidade.
“Vivemos numa época em que grande
parte do Mundo é dominada por criminosos e loucos. O objectivo dos Estados é a
estupidificação dos povos: quanto mais um Governo zelar por que o seu povo seja
estúpido, mais esse Governo será forte.”
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