sexta-feira, junho 14, 2013

O Atrium de régua e esquadro, à descoberta de Duarte Pacheco

Esta iniciativa repartiu-se por dois dias consecutivos. No dia 31 de Maio, da parte da tarde, no Instituto Superior Técnico, uma das obras emblemáticas de Duarte Pacheco, realizou-se uma conferência pela Doutora Sandra Vaz Costa, intitulada “O país a régua e esquadro. A obra pública de Duarte Pacheco”. Foi uma comunicação interessante que nos deu a conhecer o homem no seu tempo e através da realização da sua obra, que transformou a paisagem urbana da cidade de Lisboa e também de parte importante do nosso país.
Na sua rica comunicação, fruto de uma profunda investigação, Sandra Vaz, mostrou-nos o homem dinâmico, o organizador determinado, que soube sempre concretizar os seus projectos de modernidade, dentro de um regime político que privilegiava o culto do passado e das ideias mais retrogradas, na organização da sociedade. Mesmo ocupando cargos políticos relevantes, Ministro das Obras Públicas e Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Duarte Pacheco era um homem incómodo para grande parte das classes sociais que apoiavam a ditadura de Salazar, especialmente para os proprietários da terra, a quem ele fazia a vida negra com as suas expropriações intempestivas.
No entanto, quando a obra a fazer era mais importante para o regime do que os protestos de alguns dos seus apoiantes, como foi o caso da Exposição do Mundo Português de 1940, o velho ditador recorria aos serviços, sempre eficientes de Duarte Pacheco.
No final saímos, daquela que foi a escola de Duarte Pacheco, mais conhecedores de uma personagem que deixou uma marca relevante na paisagem construída da nossa Lisboa e de parte do nosso país.
A segunda parte da iniciativa que teve lugar no dia seguinte, 1 de Junho, compreendeu uma visita, orientada pelo Albano e pelo José Cid, a algumas das obras mais representativas de Duarte Pacheco, na cidade de Lisboa.
O percurso iniciou-se pela Fonte Luminosa, cuja designação oficial, francamente em desuso, é Fonte Monumental da Alameda Afonso Henriques. Inaugurada em 1940, para celebrar o abastecimento regular de água à zona oriental de Lisboa, ela completava um ambicioso projecto concebido por Duarte Pacheco, que incluía o Instituto Superior Técnico, no outro lado da Alameda. O Técnico nasceu primeiro, a Alameda só seria construída depois, constituindo uma imensa passadeira verde que confluía na Monumental Fonte.
O seu autor foi o arquitecto Carlos Rebelo de Andrade, que desenhou um rigoroso e clássico sistema simétrico, com três altas taças, das quais a água cai em jorros sobre um primeiro patamar do lago semicircular. No segundo patamar um conjunto de estátuas é envolvido por jactos de água, sendo a do centro representativa do Rio Tejo e as restantes, as tágides, míticas criaturas criadas por Luís de Camões nos seus Lusíadas. A ladear este conjunto dois corpos laterais com baixos-relevos de Maximiano Alves.
A segunda paragem foi junto ao monumento a António José de Almeida, o sexto Presidente da I República, de 5 de Outubro de 1919 a 5 de Outubro de 1923. O monumento foi edificado segundo projecto do arquitecto Pardal Monteiro e esculpido por Leopoldo de Almeida, tendo sido inaugurado em 1937. Nele está associada a figura do estadista à figura da República, que sobressai por trás dele. É um local onde se presta homenagem aos heróis da revolução republicana, e durante a ditadura constituiu um ponto de encontro daqueles que lutavam pela liberdade.
De seguida apreciámos as casas modernistas na Av. António José de Almeida, que foram construídas por iniciativa de Duarte Pacheco e eram destinadas inicialmente aos professores do IST, que o desejassem.
A visita prosseguiu para o edifício do Instituto Nacional de Estatística, imóvel de um classicismo depurado, que foi um dos primeiros edifícios públicos expressamente concebido para a finalidade a que destinava. O seu projecto, que se insere num lote triangular que resultou do arranjo urbanístico efectuado para a construção do Instituto Superior Técnico, é também do arquitecto Pardal Monteiro tendo a sua construção sido concluída em 1935,
De salientar o janelão da escadaria principal com um vitral do pintor Abel Manta, de 1933, cujo tema é a representação da Pátria, rodeada pelas diversas actividades económicas, e também os baixos-relevos da sua fachada, da autoria de Leopoldo de Almeida, que representam as diferentes “Estatísticas” respeitantes aos sectores da Demografia, Agricultura, Comércio e Indústria.
Em seguida pudemos observar o bairro social do Arco do Cego, cujas obras se iniciaram no tempo da I República, mas que só foram concluídas na época de Duarte Pacheco, devido a problemas financeiros.
A paragem seguinte foi o Liceu Filipa de Lencastre, um projecto de 1932, da autoria dos arquitectos Jorge Segurado e António Varela. A clareza da sua composição espelha a formação “Beaux-Arts” dos seus autores e é típica do Modernismo Português.
De seguida fomos até à Casa da Moeda, na Avenida Dr. António José de Almeida, cujos autores foram também os arquitectos Jorge Segurado e António Varela. Trata-se de outro exemplar do Modernismo Português, de formas geométricas simples que destacam a simetria do conjunto. A ligação entre o conjunto industrial e o edifício administrativo é feita por dois passadiços aéreos que emprestam uma natureza peculiar ao complexo arquitectónico.
A visita concluiu-se na Igreja de Nossa Senhora de Fátima, na Avenida Marquês de Tomar, um projecto de 1934 do arquitecto Pardal Monteiro, cuja inauguração teve lugar em 1938. A sua concepção “tipicamente moderna” não deixou de causar alguma polémica nos meios mais tradicionais da sociedade portuguesa que a acusavam de contrariar a afirmação nacionalista que era dominante. Refira-se no entanto que o então Cardeal Patriarca de Lisboa veio a público defender o projecto da igreja, apelidando-a de “igreja moderna bela”. De facto várias revistas estrangeiras da época destacaram a sua concepção inovadora na procura de valores estéticos aliados à função litúrgica. Ela constitui a única igreja modernista existente na nossa capital.
A participação de vários artistas plásticos, nomeadamente de Almada Negreiros, com magníficos vitrais, mas também de Leopoldo de Almeida e de Francisco Franco, acrescentaram um especial interesse neste imóvel.
Esta deambulação pelo património que nos foi legado por Duarte Pacheco, foi rematada com uma alegre sardinhada no Grupo Dramático e Escolar os “Combatentes”, em Campo de Ourique.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Muito boa reportagem, com excelentes fotografias, a dar conta de uma actividade também muitissimo interessante.
Obrigada a dinamizador, coordenadores, fotógrafos, etc., etc.
MEugénia

14/6/13 15:05  
Anonymous Anónimo said...

Excelente programa, reportagem, fotos, participantes e atualização do blogue.
MCMC

16/6/13 15:13  

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