O Atrium debateu a Síria, em duas sessões na JF de Carnide
Foram duas
sessões realizadas nas instalações da JF de Carnide, nos dias 16 de Fevereiro e
10 de Março, nas quais se debateu a questão da Síria em particular e do Médio
Oriente em geral.
Na primeira
sessão, sob o lema “A Síria ao nosso lado”, estiveram presentes a jornalista Francisca
Gorjão Henriques e a jovem síria Alaa Alhariri, que ao abrigo de uma
bolsa de estudo, vive presentemente em Portugal.
Alaa
Alhariri através do seu testemunho pessoal, trouxe-nos uma visão do quotidiano
numa região assolada por uma terrível guerra, com todo o cortejo de sofrimentos
por parte das populações civis.
Francisca
Gorjão veio apresentar um projecto que ajudou a criar, e que tem como objectivo
a integração das mulheres do médio oriente no nosso país. Esse projecto,
denominado “Pão a Pão”, vai arrancar com a criação de um restaurante, onde uma
cozinha comunitária fornecerá a comida daquela região, possibilitando a
inclusão de refugiadas no mercado de trabalho, mantendo ao mesmo tempo a sua relação
com a cultura do seu país, através da gastronomia.
O restaurante,
de nome Mezze - nome
dado no Médio Oriente a um conjunto de pequenos pratos para comer à mão e
partilhar - terá a sua
abertura em Maio e situar-se-á no espaço do renovado Mercado de Arroios.
A segunda
sessão, cujo tema foi “As políticas da EU e o Médio Oriente”, teve a
participação da eurodeputada Ana Gomes, e permitiu, através de um diálogo
participado e enriquecedor, uma abordagem das questões políticas e sociais
daquela região do globo, com especial enfoque nas políticas (ou na falta
delas…) da União Europeia, em particular no que respeita ao conflito na Síria.
Como
complemento para uma análise da situação muito complexa, que hoje se vive no
Médio Oriente, e na Síria em particular, onde se chocam diversos interesses
geoestratégicos, transcrevemos a seguir um breve trecho do livro “Violência e Islão”, da autoria de Adonis, pseudónimo de Ali Ahmad Said
Esber, nascido na Síria, figura de vanguarda da literatura árabe, e considerado
um dos mais importantes pensadores da actualidade.
“…não é possível, no seio de uma
sociedade como a sociedade árabe, fazer uma revolução se ela não for assente no
laicismo. Além disso a aliança orgânica entre os rebeldes que se reclamaram
dessa autoproclamada revolução e as forças estrangeiras foi um segundo erro.
Porque, em vez de se considerarem independentes, os rebeldes estavam
estreitamente ligados às forças estrangeiras, e as consequências foram desastrosas.
A aliança com o estrangeiro prejudicou esse movimento. Acresce que a violência
armada desempenhou um papel importante na destruição da Revolução. As armas
sofisticadas vinham em massa do exterior. Sabe-se que os revolucionários não
podiam ter essas armas sem as forças estrangeiras. Resultado: em vez de
desestabilizarem os regimes ditatoriais, destruíram os seus países… É verdade
que na Síria o regime também praticou uma autêntica carnificina, e participou
na destruição. Mas uma revolução que pretende ser uma mudança não pode destruir
o seu próprio país. É certo que o regime era violento, mas os rebeldes deviam
evitar mergulhar o país no caos. E ainda por cima, o fundamentalismo regressou,
melhor organizado e mais cruel. Da esperança e desejo de ver melhores dias,
mergulhou-se no obscurantismo. E, em vez de uma mudança portadora de esperança,
vivemos um verdadeiro desastre. E ainda por cima não há uma palavra sobre a
liberdade da mulher. Será possível falar de uma revolução árabe se a mulher
continua prisioneira da xaria? O recurso à religião transformou essa primavera
num inferno”.
Incluímos estes dois links que se referem a dois pequenos filmes relacionados com o projecto Pão a Pão:
https://www.youtube.com/watch?v=hTHgID7wwg0
1 Comments:
Com pena de não ter assistido à 2ª sessão e ter o privilégio de conhecer pessoalmente Ana Gomes.
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