domingo, março 05, 2017

Amadeo regressou a Lisboa cem anos depois


No dia 4 de Fevereiro o Atrium foi até ao Museu Nacional de Arte Contemporânea, para revisitar Amadeo de Souza-Cardoso, numa evocação da exposição que, em Dezembro de 1916, decorreu na Liga Naval Portuguesa, em Lisboa.
Corria o ano de 1914, a Primeira Guerra Mundial já se tinha iniciado há dois meses, quando Amadeo regressa a Portugal, vindo de Paris, e fixa residência na Casa do Ribeiro, em Manhufe, sua terra natal. Nesse tempo já era um pintor reconhecido nos meios artísticos internacionais, tendo participado em várias exposições colectivas em Paris, Berlim, Londres, Nova Iorque, Chicago e Boston, e tendo desenvolvido laços de convívio e amizade com alguns dos grandes vultos, protagonistas dos movimentos de vanguarda de então, tais como Modigliani, Archipenko, Brancusi, Picabia, Juan Gris, Diego Rivera, Sónia e Robert Delaunay.
No seu regresso, conhece Almada Negreiros, que se torna seu entusiástico admirador, e através dele o Grupo da Revista Orpheu, que no seu terceiro número, que nunca chegaria a ser publicado por dificuldades financeiras, pretendia incluir obras de Amadeo.
É então no ano de 1916, que o artista realiza duas exposições em Portugal. Uma em Novembro, no Porto, mais concretamente no Jardim Passos Manuel, e a outra no mês seguinte em Lisboa, na Liga Naval. Ambas são recebidas na época com hostilidade por parte do público, provocando mesmo algum escândalo e acesos debates, destacando-se na sua defesa Almada Negreiros que, no texto-manifesto de apresentação da exposição na Liga Naval, escreveu: “Amadeo de Souza-Cardoso é a primeira descoberta de Portugal na Europa no século XX. O limite da descoberta é infinito porque o sentido da descoberta muda de substância e cresce em interesse – por isso que a descoberta do caminho marítimo prá Índia é menos importante que a exposição de Amadeo de Souza-Cardoso na Liga Naval de Lisboa.”
A marca dominante na obra de Amadeo é a sua insatisfação e a grande liberdade plástica insusceptível de ser catalogada numa escola determinada, como proclamou o próprio artista, numa entrevista a um jornal da época: “Eu não sigo escola alguma. As escolas morreram. Nós, os novos, só procuramos a originalidade. Sou impressionista, cubista, futurista, abstracionista? De tudo um pouco. Mas nada disso forma uma escola”.
Para terminar, uma referência ao enorme entusiasmo que esta exposição no MNAC causou, traduzido nas longas filas de visitantes, cujo número ultrapassou os 75.000, e nas esperas para as entradas, que por vezes foram superiores a 1 hora.