quarta-feira, julho 26, 2017

Um dia no Ribatejo à (re)descoberta de Santarém


No passado dia 27 de Maio Santarém foi o nosso destino. O encontro fez-se junto ao mercado municipal, eram 10 horas da manhã, uma manhã ensolarada com uma temperatura agradável.
À nossa espera estava a Vera Duarte que nos iria guiar durante toda a visita, enriquecendo-a com os seus vastos conhecimentos e a sua simpatia.
Procurando reproduzir um registo cronológico da visita efectuada, passaremos a dar nota dos locais de maior interesse que percorremos:

Sé Catedral - Igreja de Nossa Senhora da Conceição: A construção da Igreja de Nossa Senhora da Conceição do Colégio Jesuíta de Santarém foi iniciada no século XVII, sobre as ruínas do Paço Real, com projecto do Arquitecto Mateus do Couto. A conclusão da igreja aconteceu já no século XVIII, mais concretamente em 1711, data que está inscrita na fachada.
Durante a segunda metade do século XVIII, após a expulsão dos Jesuítas, os edifícios do Colégio serviram diversos fins, instalando-se aí o Seminário Patriarcal de Santarém, passando então a designar-se por Igreja do Seminário, nome pelo qual ficou conhecida até hoje. Foi elevada a Sé Catedral em 1975.


Estátua do Marquês de Sá da Bandeira: Existente na praça com o seu nome, perpetuando a memória de Bernardo de Sá Nogueira de Figueiredo, nascido em Santarém em 1795, um dos vultos mais importantes do liberalismo português.
Iniciou a vida militar com apenas 15 anos, no combate aos invasores franceses, e participou em todas as campanhas militares liberais, tendo atingido o posto de General. Foi o político liberal português com maior número de anos de governação. Par do Reino desde 1834, foi o obreiro da abolição da escravatura em todos os territórios portugueses, por ele decretada definitivamente em 1869.
Igreja de Nossa Senhora da Piedade: Construída em 1664, por iniciativa de D. Afonso VI, sob projecto do arquitecto João Nunes Tinoco, aquando da reestruturação da área urbana do Paço Real de Santarém. É a única igreja de planta ortogonal, em cruz grega, existente em Santarém (A cruz grega é uma cruz que possui os quatro braços do mesmo tamanho e representa o equilíbrio entre o divino e o terreno, entre a matéria e o espírito, simbolizando a união dos opostos e a sua harmonia).
Mercado Municipal: Este interessante edifício, construído em 1930 com projecto de Cassiano Branco, possui elementos decorativos da arte do ferro e outros relacionados com a arquitetura modernista. Nas fachadas possui os famosos painéis de azulejos, da Fábrica de Sacavém, onde estão representadas as principais atividades da região, bem como algumas das suas paisagens.


Convento (Mosteiro) de S. Francisco: Constitui um dos melhores exemplares do gótico mendicante em Portugal. O convento foi fundado em 1242 por D. Sancho II, aquando do estabelecimento dos franciscanos na cidade. No seu interior encontra-se um coro mandado construir, na segunda metade do século XIV, por D. Fernando para nele ser sepultado, sendo considerado como uma das mais belas manifestações de arte gótica do país.





Fonte das Figueiras: Encontra-se localizada num ponto estratégico da vila medieval, dentro da antiga cintura de muralhas, e é um dos raros exemplos da arquitectura civil gótica e de abastecimento da água às populações na Idade Média. Esta obra data do século XIV e resultou da acção conjunta do Município e do Rei, facto comprovado pela presença das respectivas pedras de armas.


Igreja de Marvila: É um templo muito antigo, doado por D. Afonso Henriques em 1147 à ordem dos Templários. Em 1244 passou a Colegiada, tendo sofrido uma reforma total no início do século XVI. Hoje é considerada um Importante testemunho do Manuelino, sendo sobretudo conhecida pelo revestimento azulejar seiscentista, que lhe conferiu o epíteto de "Catedral do Azulejo" em Portugal.


Igreja de Nossa Senhora da Graça: Construção do início de 1380, é um belo templo característico do gótico português, com três naves definidas por arcos ogivais, assentes em duas alas de colunas encimadas por capitéis ornados de motivos vegetalistas e antropomórficos. A fachada, com a rosácea e o portal, é de uma harmonia perfeita dentro da profusão de elementos decorativos do gótico flamejante. Numa das suas capelas encontra-se a sepultura de Pedro Álvares Cabral, falecido nesta cidade em 1520.



Torre das Cabaças: Teria sido uma torre do recinto muralhado do século XV, adaptada a torre-relógio, albergando hoje um espaço museológico. É coroada por uma armação de barras de ferro para apoio das vasilhas de barro (cabaças) que lhe dão o nome, e que a memória popular considera significarem as "cabeças ocas" dos vereadores que decidiram erguer tão pouco atraente maciço fortificado.
Restaurante Tejá (no Jardim das Portas do Sol): Foi aqui que os nossos estômagos, já algo engelhados porque a manhã ia longa, se reabasteceram e recuperaram forças para a segunda parte da nossa deambulação escalabitana.

Igreja de Santa Maria da Alcáçova: A igreja-colegiada de Santa Maria da Alcáçova foi fundada nos primeiros anos da segunda metade do século XII, após a conquista de Santarém aos Mouros, e a sua construção teve a iniciativa dos cavaleiros da Ordem do Templo, sob orientação de D. Frei Pedro Arnaldo, cavaleiro templário e comendador de Santarém. Ao longo dos séculos esta igreja sofreu diversas obras que acabaram por ocultar a primitiva traça. Obras recentes de restauro permitiram detectar, sob a estrutura seiscentista, vestígios importantes dos primitivos arcos medievais.


Fundação Passos Canavarro: Deixamos para o fim a referência à visita a esta fundação, que constituiu um momento extremamente interessante e enriquecedor, em grande parte pela simpatia e disponibilidade do seu fundador e director, Pedro Canavarro, e também pela riqueza do recheio desta Casa-Museu, empoleirada no Morro da Alcáçova, e outrora habitada por D. Afonso Henriques, após a conquista de Santarém.
Pedro Canavarro, trineto de Passos Manuel e comissário da XVII Exposição do Conselho da Europa sobre os Descobrimentos Portugueses, foi o guia na sua própria casa, conduzindo-nos num percurso rico em obras de arte e em histórias de vida, que nos encantou e embalou durante os longos minutos da visita.
Não resistimos a concluir esta crónica, reproduzindo um excerto do livro “Viagens na Minha Terra”, de Almeida Garrett, que a convite do seu amigo Passos Manuel aqui tinha passado alguns dias, no qual o escritor descreve a magnífica vista sobre o Tejo e a Lezíria, visão essa que tivemos o privilégio de admirar a convite do nosso simpático anfitrião, que nos franqueou o acesso ao seu próprio quarto de dormir.
“…Nunca dormi tão regalado sono em minha vida. Acordei no outro dia ao repicar incessante e apressurado dos sinos da Alcáçova. Saltei da cama, fui à janela, e dei com o mais belo, o mais grandioso, e, ao mesmo tempo, mais ameno quadro em que ainda pus os meus olhos.
No fundo de um largo vale aprazível e sereno, está o sossegado leito do Tejo, cuja areia ruiva e resplandecente apenas se cobre de água junto às margens, donde se debruçam verdes e frescos ainda os salgueiros que as ornam e defendem. Dalém do rio, com os pés no pingue nateiro daquelas terras aluviais, os ricos olivedos de Alpiarça e Almeirim; depois a vila de D. Manuel e a sua charneca e as suas vinhas. Daquém a imensa planície dita do Rossio, semeada de casas, de aldeias, de hortas, de grupos de árvores silvestres, de pomares. Mais para a raiz do monte em cujo cimo estou, o pitoresco bairro da Ribeira com as suas casas e as suas igrejas, tão graciosas vistas daqui, a sua cruz de Santa Iria e as memórias romanescas do seu alfageme.”