Um dia no Ribatejo à (re)descoberta de Santarém
No passado
dia 27 de Maio Santarém foi o nosso destino. O encontro fez-se junto ao mercado
municipal, eram 10 horas da manhã, uma manhã ensolarada com uma temperatura
agradável.
À nossa
espera estava a Vera Duarte que nos iria guiar durante toda a visita,
enriquecendo-a com os seus vastos conhecimentos e a sua simpatia.
Procurando
reproduzir um registo cronológico da visita efectuada, passaremos a dar nota
dos locais de maior interesse que percorremos:
Sé Catedral - Igreja de Nossa Senhora
da Conceição: A construção
da Igreja de Nossa Senhora da Conceição do Colégio Jesuíta de Santarém foi iniciada
no século XVII, sobre as ruínas do Paço Real, com projecto do Arquitecto Mateus
do Couto. A conclusão da igreja aconteceu já no século XVIII, mais
concretamente em 1711, data que está inscrita na fachada.
Durante a segunda metade do século XVIII, após a expulsão dos Jesuítas,
os edifícios do Colégio serviram diversos fins, instalando-se aí o Seminário
Patriarcal de Santarém, passando então a designar-se por Igreja do Seminário,
nome pelo qual ficou conhecida até hoje. Foi elevada a Sé Catedral em 1975.
Estátua do
Marquês de Sá da Bandeira: Existente na praça com o seu nome, perpetuando
a memória de Bernardo
de Sá Nogueira de Figueiredo, nascido em Santarém em 1795, um dos vultos mais
importantes do liberalismo português.
Iniciou
a vida militar com apenas 15 anos, no combate aos invasores franceses, e
participou em todas as campanhas militares liberais, tendo atingido o posto de
General. Foi o político liberal português com maior número de anos de
governação. Par do Reino desde 1834, foi o obreiro da abolição da escravatura em
todos os territórios portugueses, por ele decretada definitivamente em 1869.
Igreja de Nossa Senhora
da Piedade:
Construída em 1664, por iniciativa de D. Afonso VI, sob projecto do
arquitecto João Nunes Tinoco, aquando da reestruturação da área urbana do Paço
Real de Santarém. É a única igreja de planta ortogonal, em cruz grega,
existente em Santarém (A cruz grega é uma cruz que possui os quatro braços do mesmo
tamanho e representa o equilíbrio entre o divino e o terreno, entre a matéria e
o espírito, simbolizando a união dos opostos e a sua harmonia).
Mercado Municipal: Este
interessante edifício, construído em 1930 com projecto de Cassiano Branco,
possui elementos decorativos da arte do ferro e outros relacionados com a
arquitetura modernista. Nas fachadas possui os famosos painéis de azulejos, da
Fábrica de Sacavém, onde estão representadas as principais atividades da
região, bem como algumas das suas paisagens.
Convento
(Mosteiro) de S. Francisco: Constitui um dos melhores
exemplares do gótico mendicante em Portugal. O convento foi fundado em 1242 por
D. Sancho II, aquando do estabelecimento dos franciscanos na cidade. No seu
interior encontra-se um coro mandado construir, na segunda metade do século
XIV, por D. Fernando para nele ser sepultado, sendo considerado como uma das mais belas
manifestações de arte gótica do país.
Fonte das Figueiras: Encontra-se localizada num ponto
estratégico da vila medieval, dentro da antiga cintura de muralhas, e é um dos
raros exemplos da arquitectura civil gótica e de abastecimento da água às
populações na Idade Média. Esta obra data do século XIV e resultou da acção
conjunta do Município e do Rei, facto comprovado pela presença das respectivas
pedras de armas.
Igreja de Marvila: É um templo muito antigo, doado por
D. Afonso Henriques em 1147 à ordem dos Templários. Em 1244 passou a Colegiada,
tendo sofrido uma reforma total no início do século XVI. Hoje é considerada
um Importante
testemunho do Manuelino, sendo sobretudo conhecida pelo revestimento azulejar
seiscentista, que lhe conferiu o epíteto de "Catedral do Azulejo" em Portugal.
Igreja
de Nossa Senhora da Graça: Construção do início de 1380, é um belo
templo característico do gótico português, com três naves definidas por arcos
ogivais, assentes em duas alas de colunas encimadas por capitéis ornados de
motivos vegetalistas e antropomórficos. A fachada, com a rosácea e o portal, é
de uma harmonia perfeita dentro da profusão de elementos decorativos do gótico
flamejante. Numa das suas capelas encontra-se a sepultura de Pedro Álvares
Cabral, falecido nesta cidade em 1520.
Torre das Cabaças: Teria sido uma torre do recinto
muralhado do século XV, adaptada a torre-relógio, albergando hoje um espaço
museológico. É coroada por uma armação de barras de ferro para apoio das vasilhas de
barro (cabaças) que lhe dão o nome, e que a memória popular considera
significarem as "cabeças ocas" dos vereadores que decidiram erguer
tão pouco atraente maciço fortificado.
Restaurante Tejá (no Jardim das Portas do Sol): Foi aqui
que os nossos estômagos, já algo engelhados porque a manhã ia longa, se
reabasteceram e recuperaram forças para a segunda parte da nossa deambulação
escalabitana.
Igreja de Santa Maria da Alcáçova: A igreja-colegiada de Santa
Maria da Alcáçova foi fundada nos primeiros anos da segunda metade do século
XII, após a conquista de Santarém aos Mouros, e a sua construção teve a
iniciativa dos cavaleiros da Ordem do Templo, sob orientação de D. Frei Pedro
Arnaldo, cavaleiro templário e comendador de Santarém. Ao longo dos séculos
esta igreja sofreu diversas obras que acabaram por ocultar a primitiva traça. Obras
recentes de restauro permitiram detectar, sob a estrutura seiscentista,
vestígios importantes dos primitivos arcos medievais.
Fundação Passos Canavarro: Deixamos para o fim a referência
à visita a esta fundação, que constituiu um momento extremamente interessante e
enriquecedor, em grande parte pela simpatia e disponibilidade do seu fundador e
director, Pedro Canavarro, e também pela riqueza do recheio desta Casa-Museu,
empoleirada no Morro da Alcáçova, e outrora habitada por D. Afonso Henriques,
após a conquista de Santarém.
Pedro Canavarro, trineto de Passos
Manuel e comissário da XVII Exposição do Conselho da Europa sobre os
Descobrimentos Portugueses, foi o guia na sua própria casa, conduzindo-nos num
percurso rico em obras de arte e em histórias de vida, que nos encantou e
embalou durante os longos minutos da visita.
Não resistimos a concluir esta
crónica, reproduzindo um excerto do livro “Viagens na Minha Terra”, de Almeida
Garrett, que a convite do seu amigo Passos Manuel aqui tinha passado alguns
dias, no qual o escritor descreve a magnífica vista sobre o Tejo e a Lezíria,
visão essa que tivemos o privilégio de admirar a convite do nosso simpático
anfitrião, que nos franqueou o acesso ao seu próprio quarto de dormir.
“…Nunca dormi tão regalado sono em
minha vida. Acordei no outro dia ao repicar incessante e apressurado dos sinos
da Alcáçova. Saltei da cama, fui à janela, e dei com o mais belo, o mais
grandioso, e, ao mesmo tempo, mais ameno quadro em que ainda pus os meus olhos.
No fundo de um largo vale aprazível e
sereno, está o sossegado leito do Tejo, cuja areia ruiva e resplandecente
apenas se cobre de água junto às margens, donde se debruçam verdes e frescos
ainda os salgueiros que as ornam e defendem. Dalém do rio, com os pés no pingue
nateiro daquelas terras aluviais, os ricos olivedos de Alpiarça e Almeirim;
depois a vila de D. Manuel e a sua charneca e as suas vinhas. Daquém a imensa
planície dita do Rossio, semeada de casas, de aldeias, de hortas, de grupos de
árvores silvestres, de pomares. Mais para a raiz do monte em cujo cimo estou, o
pitoresco bairro da Ribeira com as suas casas e as suas igrejas, tão graciosas
vistas daqui, a sua cruz de Santa Iria e as memórias romanescas do seu
alfageme.”
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