25 Abril 74 - as memórias da Marina
Onde estava no
25 de abril de 74?
Estava no mesmo local onde hoje, passados 46 anos, me encontro em quarentena.
Nesse ano, em janeiro tinha nascido o Afonso, meu sobrinho, e no dia 16 de março a caminho de Lisboa para o ir visitar testemunhei a vinda (ou ida não consigo precisar) das tropas do Levantamento Militar das Caldas da Rainha, então quando na madrugada no rádio ouvi o comunicado do MFA pensei é desta que vai dar tudo certo.
O meu pai estava eufórico, a minha mãe dizia: “então hoje não vais trabalhar? Olha que pode não dar em nada…”.
Aqui na aldeia havia um pide (José Diogo, se a memória não me falha), que por várias vezes alertou nossos familiares para o facto de ainda não ter denunciado o meu pai por consideração aos meus avós, daí a preocupação da minha mãe.
A minha vontade era ir logo para Lisboa, mas a minha mãe, que já que no ano anterior (1973) não me tinha deixado ir ao Congresso de Aveiro, (a tua irmã vai porque é casada e eu não mando nela…), não autorizou.
Estávamos numa quinta-feira e no domingo casava uma amiga da família. Na altura não havia catering e eram os familiares, amigos e vizinhos que ajudavam na feitura dos bolos, comida e organização da festa.
Então lá fui eu ajudar no casório (depenar galinhas, descascar cebolas, fazer bolos etc.).
O meu dia foi passado em pulgas, a ver a TV minúscula a preto e branco, ao telefone com a minha irmã e cunhado que viviam em Sete Rios, perto da Escola da Pide, onde o meu cunhado tinha ido tirar fotos, enfim … vivi de longe um acontecimento tão bonito.
Há uma referência que queria assinalar. Os meus pais eram conservadores a nível de educação, e uma jovem de 19 anos não andava sozinha e muito menos ir para manifestações gritar “morte ao fascismo …” etc. O comportamento do meu pai mudou drasticamente, deu-me completa liberdade, e eu percebia que ele tinha orgulho em mim, na minha postura e … no primeiro 1º de Maio lá estava eu, eufórica, na rua, gritando, cantando, chorando a entrar no estádio 1º de Maio!
Estava no mesmo local onde hoje, passados 46 anos, me encontro em quarentena.
Nesse ano, em janeiro tinha nascido o Afonso, meu sobrinho, e no dia 16 de março a caminho de Lisboa para o ir visitar testemunhei a vinda (ou ida não consigo precisar) das tropas do Levantamento Militar das Caldas da Rainha, então quando na madrugada no rádio ouvi o comunicado do MFA pensei é desta que vai dar tudo certo.
O meu pai estava eufórico, a minha mãe dizia: “então hoje não vais trabalhar? Olha que pode não dar em nada…”.
Aqui na aldeia havia um pide (José Diogo, se a memória não me falha), que por várias vezes alertou nossos familiares para o facto de ainda não ter denunciado o meu pai por consideração aos meus avós, daí a preocupação da minha mãe.
A minha vontade era ir logo para Lisboa, mas a minha mãe, que já que no ano anterior (1973) não me tinha deixado ir ao Congresso de Aveiro, (a tua irmã vai porque é casada e eu não mando nela…), não autorizou.
Estávamos numa quinta-feira e no domingo casava uma amiga da família. Na altura não havia catering e eram os familiares, amigos e vizinhos que ajudavam na feitura dos bolos, comida e organização da festa.
Então lá fui eu ajudar no casório (depenar galinhas, descascar cebolas, fazer bolos etc.).
O meu dia foi passado em pulgas, a ver a TV minúscula a preto e branco, ao telefone com a minha irmã e cunhado que viviam em Sete Rios, perto da Escola da Pide, onde o meu cunhado tinha ido tirar fotos, enfim … vivi de longe um acontecimento tão bonito.
Há uma referência que queria assinalar. Os meus pais eram conservadores a nível de educação, e uma jovem de 19 anos não andava sozinha e muito menos ir para manifestações gritar “morte ao fascismo …” etc. O comportamento do meu pai mudou drasticamente, deu-me completa liberdade, e eu percebia que ele tinha orgulho em mim, na minha postura e … no primeiro 1º de Maio lá estava eu, eufórica, na rua, gritando, cantando, chorando a entrar no estádio 1º de Maio!
Marina, em 25 de Abril 2020
7 Comments:
Estes depoimentos, relatando as experiências vividas, mostram a importância do 25 Abril de 74, na mudança de mentalidades e na libertação de velhos medos e preconceitos. O que poderia ser apenas um golpe militar transformou-se, pela adesão popular, numa revolução social e política, independentemente dos caminhos que vieram a ser trilhados no futuro.
O depoimento da Marina mostra esta transformação, e ao recordar o episódio da proibição da sua ida ao III Congresso de Aveiro (que por ironia do destino eu presenciei ao vivo, e ainda retenho a imagem de uma garota de 18 anos, num inconsolável estado de revolta…) fez-me lembrar a importância da luta dos movimentos políticos da oposição, na tomada de consciência dos militares, alguns deles presentes neste III Congresso, como viriam a confessar mais tarde. Não é por acaso que partes importantes do Programa do MFA, refletem algumas das conclusões deste congresso da oposição.
Estas recordações ao avivarem as nossas memórias são um poderoso antídoto para derrotismos e pessimismos… 25 de Abril SEMPRE!
Um beijo para a Marina
Olá, miúdas giras...já percebi, o nosso alferes caiu de "bico".. ahahahahaah.
Mais um interessante relato das vidas vividas nos tempos do silêncio e do obscurantismo.
O mundo rural tinha marcas próprias, mais fechado mais afastado da informação, que limitavam
o acesso ao mundo e ao conhecimento. No entanto a repressão a guerra as injustiças, eram transversais e acabavam por gerar a revolta e a luta pela liberdade.
Abraço.
Gostei de saber das tuas memórias. Para entender alguns detalhes tive de fazer um regresso aquele tempo.
Beijinhos
QUANDO OS OLHOS SÃO ESTRELAS
Marina:
Às vezes uma imagem vale mais do que mil palavras.
Foi este o caso.
Que melhor forma de perceber quanto os momentos que estavas a viver te "enchiam a alma" !
Albano
Só depois de se ser mãe é que compreendi muita coisas sobre as atitudes dos meus pais. Parece-me que isso acontece à maioria de nós.
Como te deves ter sentido feliz e orgulhosa de ti e do comportamento que o teu pai teve para contigo. Momentos inesquecíveis. À medida que o tempo avança acredito que sintas com mais intensidade e ORGULHO esse momento que te deu tanta alegria.
“De nossos pais temos tudo: O que somos e o que nos falta”
(Bert Hellinger)
A recordar O BLOGUE NÃO PODE PARAR
A televisão era pequenina e a preto e branco mas deu para viver os acontecimentos como se lá estivesses!! EhEh.
Outros tempos que mantemos vivos.
do que mais gostei foi do teu contributo para a BODA !!!
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