O Atrium na exposição A Voz das Vítimas no Aljube.
“…Fui preso no Barreiro, em 11 de Janeiro de 1962, dentro do recinto das fábricas da CUF, tendo sido conduzido de imediato para a sede da PIDE onde se iniciou, pouco depois, uma primeira sessão de contacto directo com a violência…
Já de madrugada, fui levado para o Aljube, para os “curros”… onde acabei por ficar 127 dias, sendo que eu sabia que a maior parte dos presos não iam para ali e que raramente ficavam mais de umas semanas. Neste período estive “ausentado” três vezes num total de 23 dias e noites sem dormir, na sede da PIDE. “ (extracto de um testemunho de José Hipólito dos Santos).
Foi exactamente até ao Aljube que o Atrium se deslocou, no passado sábado 4 de Junho, com o objectivo de visitar a exposição “A Voz das Vítimas”.
Foi uma viagem a um passado não muito distante, que nos avivou a memória para um período negro da nossa história recente, onde um regime ditatorial e repressivo perseguia, prendia, torturava e matava aqueles que ousavam lutar pela liberdade do povo português.
Pudemos rever os métodos e a organização da PIDE / DGS e recordamos em imagens os seus principais dirigentes e os torcionários mais destacados. Revimos também os rostos daqueles resistentes que passaram pelas cadeias de regime, e entre eles identificamos, com emoção, velhos amigos e companheiros de luta.
No segundo piso visitamos a reconstituição dos célebres “curros”, celas de um metro de largura por dois de comprimento, onde a luz e o ar entravam por um postigo de 15x20 cm, que estava permanentemente fechado.
Tivemos também oportunidade para assistir ao interessante documentário “Há setenta anos, o Tarrafal – Os últimos sobreviventes” de Fernanda Paraíso, que retrata, através dos depoimentos dos sobreviventes, como funcionava aquele campo de concentração, situada na ilha de Santiago, em Cabo Verde, uma verdadeira máquina de morte, que funcionou desde 1936 até 1954.
Cada história, cada depoimento, cada recordação deste tempo de opressão, constitui uma pequena pedra para a construção de uma Memória Histórica, um legado indispensável para as gerações futuras terem um conhecimento do passado e um entendimento do presente, que lhes permita a construção de um futuro melhor.
A propósito desta nossa visita ao Aljube, e da necessidade de preservar a Memória Histórica dos 48 anos da ditadura, combatendo firmemente as tentativas de branqueamento, queremos chamar a atenção para o julgamento que está a decorrer em resultado da queixa dos sobrinhos do último Director da PIDE / DGS, Silva Pais, contra Margarida Fonseca Santos, Carlos Fragateiro e José Manuel Castanheira, por alegada ofensa à memória daquele que foi o último responsável máximo daquela tenebrosa polícia política.
Nesse sentido reproduzimos uma “carta dos leitores”, por nós escrita no seguimento desta visita ao Aljube, e publicada no Diário de Notícias do passado dia 7 de Junho.
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Caso Silva Pais “vs.” teatro
Ao visitar a exposição “A Voz das Vítimas”, patente no Aljube, não pude deixar de me interrogar sobre o absurdo que constitui o julgamento que decorre no 2.º Juízo Criminal do Tribunal de Lisboa, no qual os sobrinhos do célebre Major Silva Pais, o último director da PIDE/DGS, acusam a escritora Margarida Fonseca Santos e os ex-directores do Teatro Nacional D. Maria II, Carlos Fragateiro e José Manuel Castanheira, de uma alegada “difamação e ofensa à memória” do citado major-polícia, a propósito da adaptação teatral de "A Filha Rebelde", baseada no livro dos jornalistas José Pedro Castanheira e Valdemar Cruz.
Como é possível difamar e ofender a memória de alguém que foi o responsável máximo de uma polícia política, que ao arrepio da Declaração Universal dos Direitos Humanos, prendeu, torturou e matou aqueles que lutaram pela democracia e contra a ditadura?
Ao percorrer os corredores do Aljube não resisti à tentação de sugerir que os sobrinhos em causa fizessem uma visita a estas memórias, estas sim que ofenderam e humilharam os que tiveram a coragem de lutar contra um regime opressivo, no qual a instituição dirigida pelo seu tio, era o braço armado.
Mas estou certo de que os tempos já são outros. Os tribunais plenários já não existem mais, e a justiça do Estado de direito, que foi construído por muitos daqueles dos que foram vítimas da sinistra organização da qual Silva Pais foi director, fará ouvir a sua voz. O tempo dos Silva Pais e dos saudosos sobrinhos já pertence a um passado que não voltará mais.
José Carlos Pereira
Lisboa
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Para quem pretender seguir este julgamento, informamos as sessões já calendarizadas:
22 Junho (14h) – Declarações de José Pedro Castanheira.
27 Junho (14h) – Declarações de Frederico Rosa (neto de Humberto delgado), José Jorge Letria, António Torrado, Francisco Teixeira da Mota.
28 Junho (14h) – Declarações de Edmundo Pedro, Fonseca e Costa, António Casimiro, António Nóvoa, Mário Vieira de Carvalho, Lídia Franco.
29 Junho (14h) – Audição de testemunhas que ficaram por ouvir, se as houver, e visionamento da peça.
1 Julho (9h45m) - Alegações finais.
(O local é no Parque das Nações, Cidade Judicial, Edifício B, 2º Juízo Criminal, 3ª Secção – 3º andar)
Já de madrugada, fui levado para o Aljube, para os “curros”… onde acabei por ficar 127 dias, sendo que eu sabia que a maior parte dos presos não iam para ali e que raramente ficavam mais de umas semanas. Neste período estive “ausentado” três vezes num total de 23 dias e noites sem dormir, na sede da PIDE. “ (extracto de um testemunho de José Hipólito dos Santos).
Foi exactamente até ao Aljube que o Atrium se deslocou, no passado sábado 4 de Junho, com o objectivo de visitar a exposição “A Voz das Vítimas”.
Foi uma viagem a um passado não muito distante, que nos avivou a memória para um período negro da nossa história recente, onde um regime ditatorial e repressivo perseguia, prendia, torturava e matava aqueles que ousavam lutar pela liberdade do povo português.
Pudemos rever os métodos e a organização da PIDE / DGS e recordamos em imagens os seus principais dirigentes e os torcionários mais destacados. Revimos também os rostos daqueles resistentes que passaram pelas cadeias de regime, e entre eles identificamos, com emoção, velhos amigos e companheiros de luta.
No segundo piso visitamos a reconstituição dos célebres “curros”, celas de um metro de largura por dois de comprimento, onde a luz e o ar entravam por um postigo de 15x20 cm, que estava permanentemente fechado.
Tivemos também oportunidade para assistir ao interessante documentário “Há setenta anos, o Tarrafal – Os últimos sobreviventes” de Fernanda Paraíso, que retrata, através dos depoimentos dos sobreviventes, como funcionava aquele campo de concentração, situada na ilha de Santiago, em Cabo Verde, uma verdadeira máquina de morte, que funcionou desde 1936 até 1954.
Cada história, cada depoimento, cada recordação deste tempo de opressão, constitui uma pequena pedra para a construção de uma Memória Histórica, um legado indispensável para as gerações futuras terem um conhecimento do passado e um entendimento do presente, que lhes permita a construção de um futuro melhor.
A propósito desta nossa visita ao Aljube, e da necessidade de preservar a Memória Histórica dos 48 anos da ditadura, combatendo firmemente as tentativas de branqueamento, queremos chamar a atenção para o julgamento que está a decorrer em resultado da queixa dos sobrinhos do último Director da PIDE / DGS, Silva Pais, contra Margarida Fonseca Santos, Carlos Fragateiro e José Manuel Castanheira, por alegada ofensa à memória daquele que foi o último responsável máximo daquela tenebrosa polícia política.
Nesse sentido reproduzimos uma “carta dos leitores”, por nós escrita no seguimento desta visita ao Aljube, e publicada no Diário de Notícias do passado dia 7 de Junho.
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Caso Silva Pais “vs.” teatro
Ao visitar a exposição “A Voz das Vítimas”, patente no Aljube, não pude deixar de me interrogar sobre o absurdo que constitui o julgamento que decorre no 2.º Juízo Criminal do Tribunal de Lisboa, no qual os sobrinhos do célebre Major Silva Pais, o último director da PIDE/DGS, acusam a escritora Margarida Fonseca Santos e os ex-directores do Teatro Nacional D. Maria II, Carlos Fragateiro e José Manuel Castanheira, de uma alegada “difamação e ofensa à memória” do citado major-polícia, a propósito da adaptação teatral de "A Filha Rebelde", baseada no livro dos jornalistas José Pedro Castanheira e Valdemar Cruz.
Como é possível difamar e ofender a memória de alguém que foi o responsável máximo de uma polícia política, que ao arrepio da Declaração Universal dos Direitos Humanos, prendeu, torturou e matou aqueles que lutaram pela democracia e contra a ditadura?
Ao percorrer os corredores do Aljube não resisti à tentação de sugerir que os sobrinhos em causa fizessem uma visita a estas memórias, estas sim que ofenderam e humilharam os que tiveram a coragem de lutar contra um regime opressivo, no qual a instituição dirigida pelo seu tio, era o braço armado.
Mas estou certo de que os tempos já são outros. Os tribunais plenários já não existem mais, e a justiça do Estado de direito, que foi construído por muitos daqueles dos que foram vítimas da sinistra organização da qual Silva Pais foi director, fará ouvir a sua voz. O tempo dos Silva Pais e dos saudosos sobrinhos já pertence a um passado que não voltará mais.
José Carlos Pereira
Lisboa
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Para quem pretender seguir este julgamento, informamos as sessões já calendarizadas:
22 Junho (14h) – Declarações de José Pedro Castanheira.
27 Junho (14h) – Declarações de Frederico Rosa (neto de Humberto delgado), José Jorge Letria, António Torrado, Francisco Teixeira da Mota.
28 Junho (14h) – Declarações de Edmundo Pedro, Fonseca e Costa, António Casimiro, António Nóvoa, Mário Vieira de Carvalho, Lídia Franco.
29 Junho (14h) – Audição de testemunhas que ficaram por ouvir, se as houver, e visionamento da peça.
1 Julho (9h45m) - Alegações finais.
(O local é no Parque das Nações, Cidade Judicial, Edifício B, 2º Juízo Criminal, 3ª Secção – 3º andar)
2 Comments:
Parabéns à Marina e ao Zé Carlos pelo texto e pelas fotografias. Pelos vistos esta foi uma visita oportuna como o presente Julgamento o atesta.
Vou colocar no meu facebook
Abraço Irene Pimentel
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