sábado, janeiro 04, 2014

Uma Sessão sobre Segurança Alimentar, Agricultura e Ambiente

Em boa hora a Fundação Calouste Gulbenkian nos ofereceu, durante o ano de 2012, uma série de conferências subordinadas ao tema da alimentação sustentável. Algumas Atriunistas tiveram oportunidade de as frequentar e por acharem o tema particularmente pertinente propuseram-no para debate no Atrium.
Assim, no dia 13 de Dezembro de 2013,pelas 21 H, numa das salas da Junta de freguesia de Carnide, o Professor Francisco Avillez animou uma sessão sobre “ Segurança Alimentar, Agricultura e Ambiente”. Fruto da sua longa experiência enquanto professor no Instituto Superior de Agronomia e como consultor em vários organismos internacionais, nomeadamente na FAO e na UE, conseguiu captar a atenção de toda a assistência e ainda uma boa participação no debate que se seguiu à sua exposição de cerca de uma hora.
Começou por afirmar que um dos principais desafios com que iremos ser confrontados, nas próximas décadas, vai ser o de conciliarmos o combate à insegurança alimentar com a sustentabilidade ambiental.
Realçando o papel decisivo que a agricultura irá ter neste contexto, através do seu contributo, para o abastecimento da população mundial em bens alimentares, em simultâneo com a gestão sustentável dos recursos naturais e com o combate às alterações climáticas.
Desenvolveu a sua apresentação em sete pontos e iremos fazer uma breve síntese de cada um deles:
1-O que se entende por segurança alimentar
De acordo com a definição da FAO de 2006 - “Existe segurança alimentar quando a totalidade da população mundial tiver acesso físico e económico a uma alimentação quantitativa e qualitativamente suficiente para fazer face às suas necessidades nutritivas e preferências de modo a garantir uma vida ativa e saudável”.
Os quatro elementos em que deve assentar a segurança alimentar são os seguintes:
    Disponibilidade de bens alimentares, ou seja, de uma oferta capaz de assegurar um adequado abastecimento dos respectivos mercados;
    Acesso aos bens alimentares, ou seja, a capacidade das populações em obterem alimentos através da produção, da compra ou de transferências;
    Utilização dos bens alimentares em condições adequadas do ponto de vista do seu valor nutricional e das respectivas condições sanitárias;
    Estabilidade do sistema alimentar, ou seja, níveis de preços razoáveis e estáveis nos respectivos mercados, quer em condições normais, quer em situações de emergência.
2-Factores determinantes do futuro da segurança alimentar à escala mundial
Como um dos fatores determinantes do futuro da segurança alimentar está, como sabemos, o crescimento da população mundial que se projeta em: 7 mil milhões (2011) → 8 mil milhões (2030) → 9 mil milhões (2050).
Assim, com este crescimento de população vai ser necessário um aumento de 70% nas disponibilidades de bens alimentares e um consequente aumento de 50% de água disponível. Paralelamente a melhoria do nível de rendimento das populações dos países em desenvolvimento vai provocar um aumento significativo de produção animal (sobretudo se o ocidente mantiver a sua influência cultural).
Estes vários fatores levarão a uma competição crescente na utilização dos recursos disponíveis de terra, água e energia e a um aumento de preços.
Também as alterações climáticas, que levam a um aumento das temperaturas médias anuais, a irregularidade crescente do regime pluviométrico anual e uma maior intensidade e frequência dos fenómenos meteorológicos extremos vão provocar quebras de produtividade e um aumento nos custos agrícolas.
3-Principais objetivos a atingir no combate à insegurança alimentar
Como um dos principais objetivos, há muito enunciado mas ainda nunca atingido, está o de se conseguir combater a pobreza e acabar com a fome de modo a assegurar uma segurança alimentar efetiva para a totalidade da população mundial.
Paralelamente, atingir um equilíbrio sustentável entre a oferta e a procura de bens alimentares, que implicará:
- Uma melhoria sustentável da produtividade global do sistema alimentar mundial
- Uma redução significativa dos desperdícios ao longo da cadeia alimentar mundial (perdas da ordem dos 30 a 50% da produção)
- Uma mudança nos modelos de consumo alimentar
- Uma governança mais alargada e eficaz dos sistemas alimentares nacionais e mundial. (Este ponto foi posteriormente tratado na fase de debate, procurando-se saber que entidade supranacional poderia superintender nestas matérias tão relevantes para a humanidade).
4-Como alcançar um equilíbrio sustentável entre a oferta e a procura de bens alimentares
 Estudos recentes apontam para a possibilidade de se atingir, à escala mundial, aumentos de produção alimentar susceptíveis de garantir um normal abastecimento de mercados com base na expansão das áreas cultivadas, numa intensificação dos sistemas de agricultura atualmente praticados e num aumento das produtividades físicas. Outros estudos desenvolvem teses que demonstram que este equilíbrio entre a oferta e a procura, não será facilmente atingível.
5-Um novo modelo tecnológico de intensificação agrícola
Existe um consenso, cada vez mais alargado, que o modelo tecnológico de intensificação agrícola atualmente dominante (modelo químico-mecânico) não só tem consequências ambientais e sociais muito negativas como se encontra economicamente esgotado.
Por esse motivo considera-se fundamental para o futuro da agricultura ao nível mundial a sua substituição por um novo modelo tecnológico agrícola de “intensificação sustentável”.
6-Papel do comércio internacional no combate à insegurança alimentar
A segurança alimentar de um dado País está dependente da disponibilidade de bens alimentares nos mercados internos desse País independentemente de a sua origem ser a produção nacional ou as importações.
O comércio internacional de produtos agrícolas desempenha um papel vital neste contexto, uma vez que é ele que permite o equilíbrio entre os deficits alimentares dos Países importadores líquidos e os excedentes alimentares dos Países exportadores líquidos, assegurando, assim, níveis mais favoráveis dos preços, no produtor e no consumidor, desses bens nos dois tipos de Países.
 Chamou-se no entanto a atenção para que haja uma melhoria das políticas é indispensável uma maior cooperação internacional na gestão dos stocks de bens alimentares.
7-Papel dos Países Desenvolvidos no combate à insegurança alimentar
Por último frisou, que embora os Países desenvolvidos não tenham atualmente (nem terão num horizonte temporal previsível) problemas relacionados com a segurança alimentar, devem participar ativamente no combate à insegurança alimentar à escala mundial
Depois da exposição seguiu-se um debate, em que o Prof. Francisco Avillez aprofundou alguns conceitos e respondeu às questões levantadas pela assistência.
 Temos consciência que estas temáticas são de grande complexidade e que não é possível numa única sessão adquirir os conhecimentos suficientes.
O nosso objetivo era criar “a vontade” de procurarmos mais informação e ficarmos mais conscientes para adotar novos comportamentos mais amigos do nosso corpo e do ambiente!

Para saber mais:
Livro:
“ O Futuro da Alimentação: Ambiente, Saúde e Economia” - Edição: Fundação Calouste Gulbenkian, Abril 2013