Uma Sessão sobre Segurança Alimentar, Agricultura e Ambiente
Em boa hora a
Fundação Calouste Gulbenkian nos ofereceu, durante o ano de 2012, uma série de
conferências subordinadas ao tema da alimentação sustentável. Algumas
Atriunistas tiveram oportunidade de as frequentar e por acharem o tema
particularmente pertinente propuseram-no para debate no Atrium.
Assim, no dia
13 de Dezembro de 2013,pelas 21 H, numa das salas da Junta de freguesia de
Carnide, o Professor Francisco Avillez animou uma sessão sobre “ Segurança
Alimentar, Agricultura e Ambiente”. Fruto da sua longa experiência enquanto
professor no Instituto Superior de Agronomia e como consultor em vários
organismos internacionais, nomeadamente na FAO e na UE, conseguiu captar a
atenção de toda a assistência e ainda uma boa participação no debate que se
seguiu à sua exposição de cerca de uma hora.
Começou por
afirmar que um dos principais desafios com que iremos ser confrontados, nas
próximas décadas, vai ser o de conciliarmos o combate à insegurança alimentar
com a sustentabilidade ambiental.
Realçando o
papel decisivo que a agricultura irá ter neste contexto, através do seu
contributo, para o abastecimento da população mundial em bens alimentares, em
simultâneo com a gestão sustentável dos recursos naturais e com o combate às
alterações climáticas.
Desenvolveu a
sua apresentação em sete pontos e iremos fazer uma breve síntese de cada um
deles:
1-O que se entende por segurança alimentar
De acordo com
a definição da FAO de 2006 - “Existe segurança alimentar quando a totalidade da
população mundial tiver acesso físico e económico a uma alimentação
quantitativa e qualitativamente suficiente para fazer face às suas necessidades
nutritivas e preferências de modo a garantir uma vida ativa e saudável”.
Os quatro
elementos em que deve assentar a segurança alimentar são os seguintes:
– Disponibilidade
de bens alimentares, ou seja, de uma oferta capaz de assegurar um adequado
abastecimento dos respectivos mercados;
– Acesso
aos bens alimentares, ou seja, a capacidade das populações em obterem
alimentos através da produção, da compra ou de transferências;
– Utilização
dos bens alimentares em condições adequadas do ponto de vista do seu valor
nutricional e das respectivas condições sanitárias;
– Estabilidade
do sistema alimentar, ou seja, níveis de preços razoáveis e estáveis nos
respectivos mercados, quer em condições normais, quer em situações de
emergência.
2-Factores determinantes do futuro da
segurança alimentar à escala mundial
Como um dos
fatores determinantes do futuro da segurança alimentar está, como sabemos, o
crescimento da população mundial que se projeta em: 7 mil milhões (2011) → 8
mil milhões (2030) → 9 mil milhões (2050).
Assim, com este crescimento de população vai
ser necessário um aumento de 70% nas disponibilidades de bens alimentares e um
consequente aumento de 50% de água disponível. Paralelamente a melhoria do
nível de rendimento das populações dos países em desenvolvimento vai provocar
um aumento significativo de produção animal (sobretudo se o ocidente mantiver a
sua influência cultural).
Estes vários
fatores levarão a uma competição crescente na utilização dos recursos
disponíveis de terra, água e energia e a um aumento de preços.
Também as
alterações climáticas, que levam a um aumento das temperaturas médias anuais, a
irregularidade crescente do regime pluviométrico anual e uma maior intensidade
e frequência dos fenómenos meteorológicos extremos vão provocar quebras de
produtividade e um aumento nos custos agrícolas.
3-Principais objetivos a atingir no combate
à insegurança alimentar
Como um dos
principais objetivos, há muito enunciado mas ainda nunca atingido, está o de se
conseguir combater a pobreza e acabar com a fome de modo a assegurar uma
segurança alimentar efetiva para a totalidade da população mundial.
Paralelamente,
atingir um equilíbrio sustentável entre a oferta e a procura de bens
alimentares, que implicará:
- Uma
melhoria sustentável da produtividade global do sistema alimentar mundial
- Uma redução
significativa dos desperdícios ao longo da cadeia alimentar mundial (perdas da
ordem dos 30 a 50% da produção)
- Uma mudança
nos modelos de consumo alimentar
- Uma
governança mais alargada e eficaz dos sistemas alimentares nacionais e mundial.
(Este ponto foi posteriormente tratado na fase de debate, procurando-se saber
que entidade supranacional poderia superintender nestas matérias tão relevantes
para a humanidade).
4-Como alcançar um equilíbrio sustentável
entre a oferta e a procura de bens alimentares
Estudos recentes apontam para a possibilidade
de se atingir, à escala mundial, aumentos de produção alimentar susceptíveis de
garantir um normal abastecimento de mercados com base na expansão das áreas
cultivadas, numa intensificação dos sistemas de agricultura atualmente
praticados e num aumento das produtividades físicas. Outros estudos desenvolvem
teses que demonstram que este equilíbrio entre a oferta e a procura, não será
facilmente atingível.
5-Um novo modelo tecnológico de
intensificação agrícola
Existe um
consenso, cada vez mais alargado, que o modelo tecnológico de intensificação
agrícola atualmente dominante (modelo
químico-mecânico) não só tem consequências ambientais e sociais muito
negativas como se encontra economicamente esgotado.
Por esse
motivo considera-se fundamental para o futuro da agricultura ao nível mundial a
sua substituição por um novo modelo
tecnológico agrícola de “intensificação sustentável”.
6-Papel do comércio internacional no
combate à insegurança alimentar
A segurança
alimentar de um dado País está dependente da disponibilidade de bens
alimentares nos mercados internos desse País independentemente de a sua origem
ser a produção nacional ou as importações.
O comércio
internacional de produtos agrícolas desempenha um papel vital neste contexto,
uma vez que é ele que permite o equilíbrio entre os deficits alimentares dos Países importadores líquidos e os
excedentes alimentares dos Países exportadores líquidos, assegurando, assim,
níveis mais favoráveis dos preços, no produtor e no consumidor, desses bens nos
dois tipos de Países.
Chamou-se no entanto a atenção para que haja uma
melhoria das políticas é indispensável uma maior cooperação internacional na
gestão dos stocks de bens alimentares.
7-Papel dos Países Desenvolvidos no combate
à insegurança alimentar
Por último
frisou, que embora os Países desenvolvidos não tenham atualmente (nem terão num
horizonte temporal previsível) problemas relacionados com a segurança
alimentar, devem participar ativamente no combate à insegurança alimentar à
escala mundial
Depois da
exposição seguiu-se um debate, em que o Prof. Francisco Avillez aprofundou
alguns conceitos e respondeu às questões levantadas pela assistência.
Temos consciência que estas temáticas são de
grande complexidade e que não é possível numa única sessão adquirir os
conhecimentos suficientes.
O nosso
objetivo era criar “a vontade” de procurarmos mais informação e ficarmos mais
conscientes para adotar novos comportamentos mais amigos do nosso corpo e do
ambiente!
Para saber mais:
Livro:“ O Futuro da Alimentação: Ambiente, Saúde e Economia” - Edição: Fundação Calouste Gulbenkian, Abril 2013
Vídeo: http://youtu.be/hHQ-KVza6Y4
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home