O Atrium no MNAA, perdido no labirinto de Franco Maria Ricci (FMR)
E é exactamente no centro de um enorme labirinto de bambu, construído
por FMR em Parma, sua terra natal, que irá nascer em Maio, o museu que vai
acolher toda a riquíssima colecção, da qual tivemos a oportunidade de apreciar
uma parte, na visita guiada ao MNAA, no passado dia 14 de Fevereiro.
Esta exposição, “A colecção Franco Maria Ricci”, é a primeira
apresentação internacional, após uma grande mostra realizada em 2004, em
Colorno (comuna italiana da região da Emília-Romanha), do notável espólio deste
reconhecido colecionador, editor e designer italiano, nascido em Parma em 1937.
Foi uma viagem de cinco séculos (dos séculos XVI a XX),
através de cerca de uma centena de obras notáveis da escultura e da pintura, e
de nomes como Filippo Mazzola, Jacopo Ligozzi, Philippe de Champaigne, Bernini,
Canova ou Thorvaldsen.
O gosto heterodoxo de FMR está bem presente nesta colecção,
pela coexistência entre o clássico e o moderno, quebrando as habituais
barreiras formais, sempre numa perspectiva de evolução, bem explícita na
afirmação do colecionador, “Sou especialmente sensível à beleza neoclássica
porque é um modo de olhar o futuro repensando o passado”.
Filho de aristocratas genoveses, FMR nasceu em Parma, a 2 de
Dezembro de 1937. Estudou geologia, e numa prospeção de petróleo no Sudoeste da
Anatólia, aquando do seu primeiro trabalho como geólogo, decidiu que tinha de
dedicar a sua vida à divulgação da beleza.
Em 1963, já em Itália, começou a gerir uma tipografia, e aqui
tomou conhecimento com a obra de Giambattista Bodoni (1740-1813), considerado
um dos maiores tipógrafos do Século XVIII, facto que o marcou de tão profundamente,
que reimprimiu o seu manual de “typefaces” (ou tipos de letra) de 1818.
Relembremos que a “fonte” Bodoni, existente nos nossos
computadores e considerada a mais clássica e pomposa letra de sempre (linhas
finas e subtis, contrastando fortemente com hastes mais pesadas), é da autoria
deste ilustre mestre tipógrafo italiano.
Ainda no capítulo da edição, uma referência à revista de
arte FMR – à qual Jacqueline Kennedy chamou “a mais bela revista do Mundo” – e
de obras de referência, entre elas “Presépios de Machado de Castro” e “A Bíblia
dos Jerónimos” (“os dois mais belos livros de arte alguma vez publicados em
Portugal”, segundo João Bénard da Costa).
Na sua produção como designer gráfico, destacamos os
bilhetes da Alitalia, que, nos anos 90, apresentavam obras-primas da arte
italiana, e que tivemos a oportunidade de apreciar na exposição.
Em jeito de conclusão, reproduzimos um texto de FMR que
define a sua obra e a sua reconhecida admiração por Giambattista Bodoni.
“A minha actividade de designer esteve na base da minha
actividade de editor, juntamente com a minha paixão por Bodoni que, no Settecento,
foi como eu tanto designer gráfico quanto editor… Ele foi um campeão do
neoclassicismo, da clareza e elegância. Trabalhou toda a vida na minha cidade,
Parma, e descobri a beleza das suas obras nos anos 1960, quando abriu o Museu
Bodoni em Parma. A partir daí segui sempre o seu exemplo”.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home