terça-feira, fevereiro 24, 2015

O Atrium no MNAA, perdido no labirinto de Franco Maria Ricci (FMR)

E é exactamente no centro de um enorme labirinto de bambu, construído por FMR em Parma, sua terra natal, que irá nascer em Maio, o museu que vai acolher toda a riquíssima colecção, da qual tivemos a oportunidade de apreciar uma parte, na visita guiada ao MNAA, no passado dia 14 de Fevereiro.
Esta exposição, “A colecção Franco Maria Ricci”, é a primeira apresentação internacional, após uma grande mostra realizada em 2004, em Colorno (comuna italiana da região da Emília-Romanha), do notável espólio deste reconhecido colecionador, editor e designer italiano, nascido em Parma em 1937.
Foi uma viagem de cinco séculos (dos séculos XVI a XX), através de cerca de uma centena de obras notáveis da escultura e da pintura, e de nomes como Filippo Mazzola, Jacopo Ligozzi, Philippe de Champaigne, Bernini, Canova ou Thorvaldsen.
O gosto heterodoxo de FMR está bem presente nesta colecção, pela coexistência entre o clássico e o moderno, quebrando as habituais barreiras formais, sempre numa perspectiva de evolução, bem explícita na afirmação do colecionador, “Sou especialmente sensível à beleza neoclássica porque é um modo de olhar o futuro repensando o passado”.
Filho de aristocratas genoveses, FMR nasceu em Parma, a 2 de Dezembro de 1937. Estudou geologia, e numa prospeção de petróleo no Sudoeste da Anatólia, aquando do seu primeiro trabalho como geólogo, decidiu que tinha de dedicar a sua vida à divulgação da beleza.
Em 1963, já em Itália, começou a gerir uma tipografia, e aqui tomou conhecimento com a obra de Giambattista Bodoni (1740-1813), considerado um dos maiores tipógrafos do Século XVIII, facto que o marcou de tão profundamente, que reimprimiu o seu manual de “typefaces” (ou tipos de letra) de 1818.
Relembremos que a “fonte” Bodoni, existente nos nossos computadores e considerada a mais clássica e pomposa letra de sempre (linhas finas e subtis, contrastando fortemente com hastes mais pesadas), é da autoria deste ilustre mestre tipógrafo italiano.
Ainda no capítulo da edição, uma referência à revista de arte FMR – à qual Jacqueline Kennedy chamou “a mais bela revista do Mundo” – e de obras de referência, entre elas “Presépios de Machado de Castro” e “A Bíblia dos Jerónimos” (“os dois mais belos livros de arte alguma vez publicados em Portugal”, segundo João Bénard da Costa).
Na sua produção como designer gráfico, destacamos os bilhetes da Alitalia, que, nos anos 90, apresentavam obras-primas da arte italiana, e que tivemos a oportunidade de apreciar na exposição.
Em jeito de conclusão, reproduzimos um texto de FMR que define a sua obra e a sua reconhecida admiração por Giambattista Bodoni.

“A minha actividade de designer esteve na base da minha actividade de editor, juntamente com a minha paixão por Bodoni que, no Settecento, foi como eu tanto designer gráfico quanto editor… Ele foi um campeão do neoclassicismo, da clareza e elegância. Trabalhou toda a vida na minha cidade, Parma, e descobri a beleza das suas obras nos anos 1960, quando abriu o Museu Bodoni em Parma. A partir daí segui sempre o seu exemplo”.