25 Abril 74 - as memórias da Guida Boavida
Sobre o 25 de Abril de 1974... Teria sido o dia mais
feliz da minha vida? Ah, e ainda há o 1.º de Maio, e não por ser o dia do meu
aniversário. Foi aquele mundo de gente numa explosão de alegria incontida, num
desfilar de afetos e uma felicidade jamais sentida!
Vou contar um pequeno episódio cómico que se passou comigo num dos dias a seguir ao 25 de Abril. A história remonta aos dias em que os PIDES andavam a ser procurados, não só pelas forças armadas mas com grande contributo dos populares, a conhecida caça aos pides...
Seria na tarde de 26 ou 27, parámos o carro no Rossio, logo ali à frente da Pastelaria Suíça, e havia muita gente aos gritos, pois andavam pides que tinham sido obrigados a fugir para o telhado do Teatro Nacional D. Maria, na sequência da perseguição de que eram alvo por aqueles dias.
Logo saímos do carro para nos juntarmos à multidão e observarmos a cena e eis senão quando se ouve uma rajada de tiros de metralhadora.
Nessa altura enfio-me de imediato no carro, um mini, e cheia de medo, em vez de me sentar no banco, encaixo-me no chão, à frente da cadeira do “pendura”. Isto já seria estranho e difícil para qualquer pessoa, quanto mais para uma grávida de 7 meses...
Mas lá me consegui acomodar no exíguo espaço, e aí fiquei aguardando o silenciar das armas. Mas eis que, quando viro a cabeça e consigo olhar para cima, verifico que estavam as pessoas todas à volta do carro, a espreitarem pelos vidros, a rirem a bandeiras despregadas e a dizerem adeus àquela ridícula criatura ali encolhida. Enfim, todos a gozar à grande a pobre mulher... Depois abriram-me a porta e ajudaram-me a levantar e lá nos abraçámos - o que naquele tempo ainda era possível - e assim continuámos a nossa divertida festa.
E nunca mais vi os pides, mas sabemos que continuaram vivos!
Guida Boavida, em Abril 2020
Vou contar um pequeno episódio cómico que se passou comigo num dos dias a seguir ao 25 de Abril. A história remonta aos dias em que os PIDES andavam a ser procurados, não só pelas forças armadas mas com grande contributo dos populares, a conhecida caça aos pides...
Seria na tarde de 26 ou 27, parámos o carro no Rossio, logo ali à frente da Pastelaria Suíça, e havia muita gente aos gritos, pois andavam pides que tinham sido obrigados a fugir para o telhado do Teatro Nacional D. Maria, na sequência da perseguição de que eram alvo por aqueles dias.
Logo saímos do carro para nos juntarmos à multidão e observarmos a cena e eis senão quando se ouve uma rajada de tiros de metralhadora.
Nessa altura enfio-me de imediato no carro, um mini, e cheia de medo, em vez de me sentar no banco, encaixo-me no chão, à frente da cadeira do “pendura”. Isto já seria estranho e difícil para qualquer pessoa, quanto mais para uma grávida de 7 meses...
Mas lá me consegui acomodar no exíguo espaço, e aí fiquei aguardando o silenciar das armas. Mas eis que, quando viro a cabeça e consigo olhar para cima, verifico que estavam as pessoas todas à volta do carro, a espreitarem pelos vidros, a rirem a bandeiras despregadas e a dizerem adeus àquela ridícula criatura ali encolhida. Enfim, todos a gozar à grande a pobre mulher... Depois abriram-me a porta e ajudaram-me a levantar e lá nos abraçámos - o que naquele tempo ainda era possível - e assim continuámos a nossa divertida festa.
E nunca mais vi os pides, mas sabemos que continuaram vivos!
Guida Boavida, em Abril 2020
3 Comments:
Assisti também a uma cena muito parecida. A caça aos pides foi uma das facetas mais interessantes do 25 de abril.
Abraço
Mais um curioso testemunho do 25 Abril, deste vez de uma jovem grávida, que por momentos virou caçadora de PIDES…
São estas vivências que todas juntas nos estão a dar a diversidade daquela data que mudou o rumo de muitas das nossas vidas.
Viva o 25 de Abril!
Abraços para a Guida e para toda a comunidade do Atrium
Uma pequena e deliciosa história do 25A. Esses momentos iniciais devem ter sido ricos em pequenas "histórias"....Para mim,que não vivi cá o 25A, é importante conhecer esses dias através de testemunhos como o teu.
Abraço
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