25 Abril 74 - as memórias do Fernando Menezes
Estremunhado, acordei às cinco da madrugada do dia 25
de Abril de 1974 com o som estridente do telefone. Era 5ª feira e encontrava-me
em Lisboa gozando uma especial e saborosa licença por motivo do meu casamento com
a Tina que ocorrera no dia onze daquele mês.
Naquele tempo os dias eram cinzentos e o futuro era incerto.
Cumpria o serviço miliar obrigatório e estava nessa altura em Tancos cursando “minas e armadilhas” antes de seguir para a Guiné para onde estava mobilizado. Na tropa desde Outubro de 1973, já experimentara seis meses na Escola Prática de Infantaria em Mafra de onde saíra com a especialidade de “atirador de infantaria”.
Contrariamente ao que era suposto, em vez de oficial acabara em cabo miliciano em virtude de certas circunstâncias e desventuras acontecidas naquele Convento e que não interessam para esta história.
Atendido o telefone em sobressalto, do outro lado da linha, um “camarada” e amigo informava-me com grande excitação que tinha havido um golpe militar. Surpreendido e apreensivo precipitei-me para o rádio de pilhas na busca de mais informação, mas foram precisas algumas horas e vários comunicados do MFA para perceber de que lado era o golpe.
Finalmente e após confirmação do meu quartel de que não era necessário apresentar-me ao serviço, avançamos para a rua e para a baixa para nos juntarmos aos militares e ao povo que naquele momento, e com incontida alegria, já invadia as ruas e as praças da cidade.
Entre o Rossio e a rua do Ouro, no meio dos carros de combate e chaimites, de unimogs e berliets, das espingardas floridas, dos soldados e de tanta gente, por ali ficamos todo o dia entre gritos e palavras de ordem celebrando aquele dia inicial inteiro e limpo/onde emergimos da noite e do silêncio/E livres habitamos a substância do tempo, como escreveu Sophia com extraordinária inspiração poética.
E pela primeira vez em liberdade e durante todo o dia gritámos bem alto:
“O POVO UNIDO JAMAIS SERÁ VENCIDO!”
Fernando Menezes, em Abril 2020
Naquele tempo os dias eram cinzentos e o futuro era incerto.
Cumpria o serviço miliar obrigatório e estava nessa altura em Tancos cursando “minas e armadilhas” antes de seguir para a Guiné para onde estava mobilizado. Na tropa desde Outubro de 1973, já experimentara seis meses na Escola Prática de Infantaria em Mafra de onde saíra com a especialidade de “atirador de infantaria”.
Contrariamente ao que era suposto, em vez de oficial acabara em cabo miliciano em virtude de certas circunstâncias e desventuras acontecidas naquele Convento e que não interessam para esta história.
Atendido o telefone em sobressalto, do outro lado da linha, um “camarada” e amigo informava-me com grande excitação que tinha havido um golpe militar. Surpreendido e apreensivo precipitei-me para o rádio de pilhas na busca de mais informação, mas foram precisas algumas horas e vários comunicados do MFA para perceber de que lado era o golpe.
Finalmente e após confirmação do meu quartel de que não era necessário apresentar-me ao serviço, avançamos para a rua e para a baixa para nos juntarmos aos militares e ao povo que naquele momento, e com incontida alegria, já invadia as ruas e as praças da cidade.
Entre o Rossio e a rua do Ouro, no meio dos carros de combate e chaimites, de unimogs e berliets, das espingardas floridas, dos soldados e de tanta gente, por ali ficamos todo o dia entre gritos e palavras de ordem celebrando aquele dia inicial inteiro e limpo/onde emergimos da noite e do silêncio/E livres habitamos a substância do tempo, como escreveu Sophia com extraordinária inspiração poética.
E pela primeira vez em liberdade e durante todo o dia gritámos bem alto:
“O POVO UNIDO JAMAIS SERÁ VENCIDO!”
Fernando Menezes, em Abril 2020
3 Comments:
O nosso furriel, desenfiado e em plena lua-de-mel, obviamente estremunhado (…), despertou a tempo de viver este dia extraordinário que mudou a vida de todos nós, especialmente daqueles cujo futuro que se adivinhava, era o exílio em terras estrangeiras ou uma comissão nas matas da Guiné, de Moçambique ou de Angola, numa guerra que sabiam injusta e criminosa.
Um abraço ao Fernando e a toda a comunidade do Atrium
Camarada Fernando :
Gostei ! Relembrei velhos tempos, velhas lutas!|
O slogan final que gritávamos nas ruas terá sido cumprido???
Abraço forte !!
Albano
Bem arranjadinho e com ar aprumado. O que é curioso é a especialidade , "minas e armadilhas...se calhar o nosso militar estava a preparar-se para acabar com o regime à traulitada, maias propriamente à "bombada"..ahahaha. Pois é, tal era a nossa vontade de acabar
acabar com aquela gente.
Abraço.
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