25 Abril 74 - as memórias da Lena
Em 25 de Abril 1974 estava em Luanda e tinha feito 25
anos, há cerca de um mês. Trabalhava no Instituto de Serviço Social, desde
Março do ano anterior. Por essa altura, já tinha decidido regressar à
“Metrópole” no final do ano lectivo. Tinha sido um ano lectivo esquisito, com
conselhos pedagógicos onde tinham sido expulsas ou suspensas, creio que, três
ou cinco alunas. Era uma situação inexplicável para mim pois elas só
reivindicavam participar dos conselhos pedagógicos. Se mais reivindicavam não
me lembro e era, com certeza, trivial. Naquela altura, achava eu que tal
pretensão era perfeitamente normal e que jamais poderia levar a uma suspensão
ou expulsão o que levou as “mestras” do local a comentarem, maternalmente, que
eu ainda me encontrava muito “próxima” das alunas (eu só conhecia estas
três/cinco de as ver no corredor mas, na verdade, eu só tinha entregado o
trabalho final do curso no ano anterior).
Claro que, pós 25 de Abril, houve uma reviravolta na escola. Já não me recordo muito bem …mas, rapidamente, perante a turbulência instalada, a maior parte do corpo docente interno demitiu-se. Perante isto, um pequeno grupo tentou “segurar as pontas” para que os alunos acabassem o ano e, finalmente, vieram as passagens administrativas.
Naquele contexto, meio crispado, soube na manhã do próprio dia 25 de Abril que alguma coisa se estava a passar em Lisboa. Veio alguém chamar uma dessas alunas que trabalhava numa rádio local, se bem me recordo...!. Nessa manhã, ela encontrava-se em estágio num bairro periférico e como o conflito já extravasava o Instituto, fiquei receosa que fosse alguma represália que se preparava para ela. Perante a minha hesitação em prestar a informação a pessoa que a procurava deu alguma informação sobre o que se passava.
Fui para casa almoçar e depois aterrei em casa de uns amigos, ele militar, e fiquei por lá a colher as pouquíssimas informações disponíveis. Só nos dias seguintes, e pelos mesmos canais, tive a certeza do que se passara.
Lena, em Abril 2020
Claro que, pós 25 de Abril, houve uma reviravolta na escola. Já não me recordo muito bem …mas, rapidamente, perante a turbulência instalada, a maior parte do corpo docente interno demitiu-se. Perante isto, um pequeno grupo tentou “segurar as pontas” para que os alunos acabassem o ano e, finalmente, vieram as passagens administrativas.
Naquele contexto, meio crispado, soube na manhã do próprio dia 25 de Abril que alguma coisa se estava a passar em Lisboa. Veio alguém chamar uma dessas alunas que trabalhava numa rádio local, se bem me recordo...!. Nessa manhã, ela encontrava-se em estágio num bairro periférico e como o conflito já extravasava o Instituto, fiquei receosa que fosse alguma represália que se preparava para ela. Perante a minha hesitação em prestar a informação a pessoa que a procurava deu alguma informação sobre o que se passava.
Fui para casa almoçar e depois aterrei em casa de uns amigos, ele militar, e fiquei por lá a colher as pouquíssimas informações disponíveis. Só nos dias seguintes, e pelos mesmos canais, tive a certeza do que se passara.
2 Comments:
Mais um testemunho, desta vez de uma jovenzinha (tão novinhos que nós eramos…) que em terras de África, e ao ralenti (na altura as comunicações não davam para mais…) se foi apercebendo do que se estava a passar no “puto”.
Estas diferentes vivências são muito interessantes para se ter uma ideia mais ampla do impacto daquele dia inicial inteiro e limpo.
Um abraço para a Lena e para todo o pessoal do Atrium.
Estavas no "Ultramar" e desejavas vir para a "Metrópole". Nomes que tentámos esquecer rapidamente pois nos faziam lembrar situações que queríamos ultrapassar.
Hoje as notícias são muito mais rápidas mas para se colher a correcta é preciso fazer uma grande selecção.
25 de Abril Sempre
Enviar um comentário
<< Home