quinta-feira, junho 04, 2020

25 Abril 74 - as memórias da Joana


Morava em Moscavide em casa duma amiga que trabalhava no aeroporto. De manhã cedo recebemos um telefonema de um colega que também trabalhava com ela a informar--nos que estava a haver uma revolução que não sabia bem o que se estava a passar e pedia que não saíssemos de casa. Nós cumprimos à risca, mas estivemos sempre atentas às notícias.
Quando começamos a ouvir” Grândola Vila Morena” é que percebemos que algo se estava a passar e que estávamos perto de conquistar a tão esperada democracia.
Ficámos felicíssimas e fomos comemorar com os amigos do prédio.
Só no dia 26 é que finalmente saí. Fui até à baixa, mais precisamente Rossio, para com alegria me juntar a amigos para festejarmos esta tão grande vitória. De repente ouvi tiros e não percebendo o que se estava a passar, escondi-me atrás duma tenda, como se esse sítio me protegesse de alguma coisa. Depois é que me disseram que os tiros para o ar eram por causa da caça aos pides. Ficámos a noite toda a festejar.
Cresci em Aljustrel, vila mineira e de muitas lutas pela liberdade e pelo pão, tendo havido forte repressão
E pelo que estávamos a testemunhar a política e a vida estava a mudar o que nos dava muita alegria.
Lembro-me perfeitamente quando um tio, anos antes, uma noite apareceu em nossa casa, saltou um muro alto que temos no quintal que faz ligação com a casa de um amigo para se juntar a ele. Ambos fugiram e entraram na clandestinidade durante bastante tempo. O 25 de Abril permitiu que todos os sofrimentos derivados da política acabassem.
Viva o 25 de Abril
Joana, em Maio 2020

3 Comments:

Anonymous Guida Boavida said...

Joana,
Se calhar foram os mesmos tiros que eu ouvi...
Bjs

4/6/20 15:28  
Anonymous Zé Carlos said...

No testemunho da Joana, de novo a “caça” aos Pides, com alguns tiros para o ar (se calhar os mesmos tiros que a Guida Boavida ouviu, como nos conta nas suas memórias…) e também uma fuga para a clandestinidade de um tio que anos antes tinha “saltado o muro” para se juntar a um amigo, desaparecendo durante bastante tempo.
Dois retratos de um Portugal, em tempos diferentes: Um depois de Abril, construindo a liberdade, e outro nos tempos escuros da ditadura!
Abraços para a Joana e para o pessoal do Atrium.

4/6/20 16:26  
Anonymous José Duarte said...

A memória daqueles que conheceram de perto a forma brutal com que o PIDE tratava, com grande zelo ,todos aqueles que tinham militância pela democracia e pela liberdade.
Nos tempos que correm, com o aparecimento de ideias que nos pareciam de outros tempos, é bom recordar na primeira pessoa, o que foram os tempo da escuridão.
J. Duarte

5/6/20 11:22  

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