25 Abril 74 - as memórias do Jorge Menezes
Em Abril de
1974, sobretudo por influência do mano mais velho, estudante de direito em
Coimbra, já tinha uma consciência politica razoavelmente consistente que me
permitia longas discussões em casa de um dos amigos mais velhos, um deles com
experiência das lutas estudantinas coimbrãs.
No dia 25, preparava-me para ir trabalhar para a Repartição de Finanças da Horta quando o meu pai regressando das compras diárias do mercado municipal disse-nos que qualquer coisa “politica” se tinha passado no Continente mas que ainda era tudo muito vago.
Sintonizadas diversas estações de rádio, nenhuma informação, só música (a televisão apenas chegou aos Açores em agosto de 1975 exceção às Flores e Corvo, onde só foi possível fazer chegar o sinal em 1988).
Saí sem saber nada de concreto, quando cheguei à Repartição o chefe informou que tinha recebido ordem de Lisboa para manter encerrados os serviços nesse dia. Procurei então aqueles meus amigos, a que se juntou o mano terceiro, e onde nos mantivemos todo o dia na casa de um deles agarrados ao rádio (os telefonemas eram caros e as ligações eram feitas através das operadoras dos CTT, o que antes de estar tudo esclarecido não convinha!).
Pela hora do almoço, penso que já tinha havido o primeiro comunicado do MFA, e era praticamente consistente a informação de que o fascismo tinha sido derrotado (naquela altura a hora nos Açores era inferior a 2 horas do que no Continente). Lembro-me mais tarde quando cheguei a minha casa ter encontrado os meus pais felicíssimos, sobretudo porque anteviam que a guerra colonial iria acabar e que os três filhos mais velhos, tínhamos 19, 20 e 22 anos, já não iriam para a guerra (o mais velho estava mobilizado para a Guiné)!
Medo que os perseguia sem nós sabermos, ter três filhos em simultâneo em “África”!
Em agosto fui de férias a Lisboa, pedi “audiência” ao Director-Geral dos Impostos já com requerimento em papel selado para pedir transferência para uma Repartição de Finanças da capital com argumento forte - tirar curso de economia como trabalhador estudante. Saí do gabinete do Director-Geral com o despacho positivo. Infelizmente, tive que aguardar um ano para entrar no ISEG porque não foram aceites inscrições no ano lectivo 74/75.
O resto foi o que todos fizemos, andar constantemente em luta e manifes porque “FASCISMO NUNCA MAIS!”.
No dia 25, preparava-me para ir trabalhar para a Repartição de Finanças da Horta quando o meu pai regressando das compras diárias do mercado municipal disse-nos que qualquer coisa “politica” se tinha passado no Continente mas que ainda era tudo muito vago.
Sintonizadas diversas estações de rádio, nenhuma informação, só música (a televisão apenas chegou aos Açores em agosto de 1975 exceção às Flores e Corvo, onde só foi possível fazer chegar o sinal em 1988).
Saí sem saber nada de concreto, quando cheguei à Repartição o chefe informou que tinha recebido ordem de Lisboa para manter encerrados os serviços nesse dia. Procurei então aqueles meus amigos, a que se juntou o mano terceiro, e onde nos mantivemos todo o dia na casa de um deles agarrados ao rádio (os telefonemas eram caros e as ligações eram feitas através das operadoras dos CTT, o que antes de estar tudo esclarecido não convinha!).
Pela hora do almoço, penso que já tinha havido o primeiro comunicado do MFA, e era praticamente consistente a informação de que o fascismo tinha sido derrotado (naquela altura a hora nos Açores era inferior a 2 horas do que no Continente). Lembro-me mais tarde quando cheguei a minha casa ter encontrado os meus pais felicíssimos, sobretudo porque anteviam que a guerra colonial iria acabar e que os três filhos mais velhos, tínhamos 19, 20 e 22 anos, já não iriam para a guerra (o mais velho estava mobilizado para a Guiné)!
Medo que os perseguia sem nós sabermos, ter três filhos em simultâneo em “África”!
Em agosto fui de férias a Lisboa, pedi “audiência” ao Director-Geral dos Impostos já com requerimento em papel selado para pedir transferência para uma Repartição de Finanças da capital com argumento forte - tirar curso de economia como trabalhador estudante. Saí do gabinete do Director-Geral com o despacho positivo. Infelizmente, tive que aguardar um ano para entrar no ISEG porque não foram aceites inscrições no ano lectivo 74/75.
O resto foi o que todos fizemos, andar constantemente em luta e manifes porque “FASCISMO NUNCA MAIS!”.
Jorge Menezes,
em Junho 2020
5 Comments:
Muito bem mano. Confirmo as tuas memórias daquele dia. A partir daí, como o já era antes, fomos companheiros permanentes do chamado PREC, nas lutas diárias e no MES ( partido a que então pertencemos, muito por culpa do "seu" Zé Maria Duarte ....)
Muito bem Jorge. Quem era o referido cavalheiro que estava em Coimbra. Abraço forte.
Fernando
Boas memórias, algumas vezes passei pela repartição de finanças no Príncipe Real para encontrar vocês e o primo Mário.
Andámos todos naquele, quase louco processo revolucionário, com a vontade da mudança e com momentos de forte militância. Agora uma outra confidencia: quando fui fazer a campanha do MES para a Terceira foram vocês que me pagaram a viagem, lembram-se?
Tempos inesquecíveis para todos nós.
Abraço
J. Maria
Zé Maria, sinceramente, não me lembrava nada dessa de pagarmos a viagem, Grandes tempos. Loucos mas cheios de muito boas recordações. Já agora, uma confidência também e que não sei se voçês se lembram. Quando foi a campanha para a Constituinte e eu fui indicado como candidato pelo MES pelo círculo da do Faial (penso que na altura ainda Distrito da Horta) situação que veio a ser abortada à última da hora porque o Carlos Tareco foi pressionado pela FLA e desistiu de ser o mandatário local, estava programado uma ida a várias ilhas para se fazer a campanha eleitoral. Nessa dita viagem e não me lembro porquê, nem em que contexto, o Zeca Afonso tinha sido convidado para fazer parte da comitiva e aceitou. Contudo, há última hora, foi tudo desmarcado porque essa iniciativa tinha chegado ao conhecimento da FLA e, entre outros mimos, eles ameaçaram de nos darem uma carga de porrada logo à chegada e nos enviarem de regresso no mesmo avião para Lisboa. Como a coisa, naquela altura, estava mesmo feia na Terceira, foi decidido anular-se a dita cuja campanha nos Açores. Nessa mesma altura, um grande amigo do PCP, o Carlos Corvelo (infelizmente permaturamente desaparecido) foi cercado por vários indivíduos da FLA junto ao Banco de Portugal na Rua da SÉ em Angra do Heroísmo e levou uma tamanha carga de porrada que acabou no Hospital e com um olho "vasádo" do qual nunca mais recuperou totalmente e, claro, foi recambiado para Lisboa.Só voltou à Terceira, e por minha insistência, onze anos depois no âmbito dos trabalhos dos Planos Directores Municipais das Ilhas do Triângulo. Enfim, "estórias" ...
Estas deliciosas recordações do “pessoal” açoriano, até com troca de confidências políticas, sem esquecer o respeitinho ao “mano” mais velho, que comandava as “tropas” a partir de Coimbra, são a confirmação da riqueza desta série de memórias do 25 Abril 74, como um documento de grande interesse no conhecimento do dia inteiro e limpo que mudou as nossas vidas.
25 de Abril, Sempre!
Abraços ao Jorge, aos Manos e demais pessoal do Atrium
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