Irlanda 2014 – (1) O Atrium à descoberta da Ilha Esmeralda
Depois das viagens ao Perú (a
viagem do milénio, em 2000), Cuba (2002), México (2004), Argentina (2008),
Canadá e EUA (2010) e Uzbequistão (2012), o Atrium apontou as suas baterias
para a Ilha Esmeralda, uma terra plena de mitos e lendas com uma história rica,
dramaticamente rica, que só há bem pouco tempo parece ter encontrado uma
situação de paz e estabilidade.
Um outro motivo de interesse para
esta viagem à Irlanda, prendia-se com as nossas origens comuns. De facto,
segundo estudos recentes, realizados em 2004 por Daniel Bradley do Trinity
College de Dublin, e confirmados por geneticistas da Universidade de Oxford, os
habitantes das áreas célticas, como Gales, Escócia, Irlanda, Bretanha e
Cornualha, são descendentes dos celtas da península ibérica, que teriam migrado
para as ilhas Britânicas e Irlanda entre os anos 4.000 e 5.000 a.C., e aí ocupado
as terras recém libertadas da cobertura glacial.
Íamos pois ao reencontro dos
nossos familiares afastados, que já não víamos há cerca de seis mil anos… ainda
os reconheceríamos? Eles ainda se lembrariam de nós?
Foi com estes sentimentos e estas
dúvidas, que o grupo de 18 atriunistas e amigas se encontrou pelas 13 horas no
Aeroporto da Portela. Aí iríamos conhecer a nossa guia Marisa, bem como os
restantes 32 viajantes que completavam o grupo.
O voo a bordo do Airbus da Aer
Lingus, que durou duas horas e um quarto, decorreu sem incidentes… e também sem
uma refeição ou qualquer coisa que se mastigasse, ou que se bebesse… a bendita
da crise dá para tudo. Que saudades das refeições quentinhas servidas a bordo,
acompanhadas de um bom vinhito ou de uma refrescante cerveja!
Mas, com mais
ou menos buraco no estômago, lá desembarcámos no aeroporto internacional de
Dublin, e cumpridas as formalidades habituais, fomos recebidos pelo Rui Pinto
Lopes que nos conduziu para o autocarro da empresa, que haveria de ser o nosso
transporte durante toda a viagem.
Tivemos então
o primeiro contacto com a cidade, num percurso de autocarro, que permitiu
situar os seus principais locais de interesse. Dublin, cujo nome deriva da palavra irlandesa
"Dubhlinn" que significa "Lago Negro", é a capital
da República da Irlanda, e tem cerca de 530.000 habitantes.
O seu centro
histórico é atravessado pelo rio Liffey, que possui diversas e interessantes
pontes, das quais se podem desfrutar belos panoramas sobre a cidade. Este centro,
no qual se situam as principais atracções, tem uma área relativamente reduzida,
o que permite percursos pedonais entre os seus locais mais emblemáticos.
Destes
destacamos o Castelo de Dublin, a Catedral de St. Patrick, a Christ Church
Cathedral, o Trinity College, a National Gallery, a O’Connel Street, a City
Hall (onde está instalada a Câmara Municipal), a Estação Central dos Correios
(símbolo da Revolta da Páscoa de 1916, ao ser ocupada durante uma semana pelos combatentes
pela independência da Irlanda, numa acção que culminou com a prisão e o
fuzilamento dos seus catorze lideres, pelos ingleses) e, como não poderia
deixar de ser, a omnipresente Guiness Storehouse (a das “pints” e das
“half-pints”, o ouro negro dos irlandeses).
O núcleo primitivo da actual
cidade situa-se na zona sudoeste, a sul do rio Liffey, em volta do Dublin
Castle, e foi povoado na pré-história. Em 841, os Vikings estabeleceram aí uma
colónia mercantil que se desenvolveu gradualmente, dando assim origem à cidade que
hoje existe.
A tarde já ia adiantada quando
chegámos ao Hotel Maldron Parnell Square, situado a Norte do Liffey, muito
próximo da O’Connel Street. Um ligeiro descanso nos quartos e pelas 20 horas
descida ao restaurante do hotel, para a primeira refeição na Ilha Esmeralda. Muitos
de nós não resistiram ao chamamento (… em Roma sê romano), e o repasto foi
abrilhantado com as incontornáveis Guiness, que escorreram pelas lusas
gargantas, sequiosas por provar o peculiar sabor a malte, e a espuma cremosa,
da afamada stout irlandesa.
Depois do jantar, o apelo pela
noite de Dublin foi mais forte que o cansaço do primeiro dia de viagem, e o
Temple Bar ali estava, exuberante, musical, colorido, com os seus pubs a convidar
ao convívio descontraído em torno de umas “pints” ou de uns copos de “whiskey”,
ao som das baladas celtas. Sentimo-nos em casa, e pela primeira vez tivemos a
sensação que os nossos genes comuns, com os familiares afastados de seis mil
anos, começavam a despertar…
Este bairro, de estreitas vielas,
antes de ser hoje o centro da animação noturna e artística de Dublin, tinha
sido, no séc. XVIII, uma zona de má reputação graças aos bordéis aí existentes
e, posteriormente, um próspero centro de artesãos, sobretudo relojoeiros e
tipógrafos, que a industrialização do pós-guerra veio a destruir.
O primeiro dia estava cumprido. Uma
noite retemperadora aguardava-nos no Maldron.
O domingo amanheceu claro, e
depois do pequeno-almoço pusemo-nos a caminho da Catedral de St. Patrick, para
uma visita guiada. Aqui faremos um parêntesis para falar um pouco desta
personagem de marcada importância na história irlandesa.
St Patrick foi um missionário que
teve um papel fulcral na cristianização da Irlanda, sendo hoje considerado o
seu santo padroeiro. Nascido na Grã-Bretanha, quando tinha dezasseis anos foi
capturado e vendido como escravo para a Irlanda, de onde fugiu e regressou a
casa, seis anos mais tarde. Voltou à ilha em 432 iniciando o seu trabalho de
evangelização das tribos celtas aí existentes. Segundo a lenda, a importância
do trevo como símbolo da Irlanda, é-lhe atribuída porque utilizava as suas três
folhas, para explicar como a Santíssima Trindade era três e um, ao mesmo tempo.
Esta Catedral
de S. Patrick, a maior igreja da Irlanda, foi fundada no local onde St. Patrick
teria baptizado os primeiros convertidos ao cristianismo. O actual edifício
data da segunda metade do séc. XIII, mas sofreu diversas alterações ao longo do
tempo. Em 1860 foi sujeito a grandes obras de restauro, financiadas por Sir
Benjamin Guinness, neto de Arthur Guinness, o fundador da fábrica de cerveja… o
ouro negro já praticava o mecenato no século XIX…
O Phoenix
Park, cujo nome irlandês Fionn uisce significa "água limpa", foi
o nosso objectivo seguinte. Com uma área de 707 hectares, constitui um dos maiores
parques urbanos da Europa.
Do alto da colina onde está instalada a Cruz Papal, que assinala a presença
neste local do papa João Paulo II, em 1979, a vista perde-se pela imensidão do
verde. Foi um momento de descanso que permitiu ainda uma bebida no agradável
Victorian Kitchen Garden, um jardim que reproduz uma horta vitoriana, com o
cultivo de frutas, legumes e flores.
Uma
curiosidade, que talvez reflita a estreita ligação entre a República da Irlanda
e os E.U.A., é o facto de no Phoenix Park existirem dois edifícios do século
XVII, sendo um deles a residência oficial do Presidente da República e o outro,
nada mais, nada menos do que a residência oficial do embaixador dos “States”…
vizinhanças comprometedoras, estas…
Entretanto a
hora do almoço chegou. E lá fomos de volta ao Maldron no lusitano autocarro da
Pinto Lopes que, com as suas portas estrategicamente postas do lado contrário
do passeio, implicava uma cuidadosa ginástica nas entradas e saídas, para
evitar o atropelamento por um qualquer distraído condutor circulando pela
esquerda (este hábito bretão de fazer tudo ao contrário dos continentais…).
A tarde foi
livre, pelo que se verificou uma divisão por subgrupos, segundo os interesses
de cada viajante e segundo as suas capacidades físicas de locomoção.
O escriba
destas linhas integrou um grupo que, para além de calcorrear a pé a zona ribeirinha
ao rio Liffey, para escutar o respirar da cidade, foi visitar a Christ Church
Cathedral. Esta bela catedral, fundada em 1038 pelo rei da comunidade
viquingue, Sitric “Barba Sedosa”, é a mais antiga das duas catedrais medievais
de Dublin, sendo a outra a Catedral de St Patrick.
Ligada por
uma ponte em arco à Christ Church Cathedral, está a Synod Hall, onde visitámos
a exposição “Dublinia”, que tem como tema a chegada dos viquingues a esta região,
fazendo uma recriação histórica dos vários aspectos da vida e da cultura deste
povo navegador, fundador desta cidade de Dublin.
O jantar
deste segundo dia foi acompanhado por um espectáculo de música e danças
irlandesas. Tivemos assim a oportunidade de ouvir os instrumentos tradicionais,
como o bodhrán (um tambor de pele de
cabra, tocado com uma haste de madeira), o melodeon
(a versão básica do acordeão de botões) e a flauta
irlandesa (uma pequena flauta de metal de timbre claro e agudo).
Ao escutar a
música e as danças tradicionais irlandesas, imediatamente nos vem à memória a
música e as danças do Norte de Portugal, Minho e Trás-os-Montes, e as
afinidades culturais com os nossos familiares afastados de seis mil anos
voltaram aos nossos espíritos… aos poucos estamos e reencontrá-los…
E foi embalados
nestes pensamentos, que regressámos ao hotel para a segunda noite nesta Ilha
Esmeralda.
1 Comments:
Muito bonita a descrição, aliás como sempre.
Fico a aguardar o resto para pôr no meu album de viagens. Comodista...
Bjs
Joana
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