Irlanda 2014 - (2) O Atrium à descoberta da Ilha Esmeralda
O dia amanheceu claro e sem
ameaças de chuva, com uma temperatura convidativa à viagem. O poderoso Finn
MacCool e os seus terríveis guerreiros Fianna, pela tradição os defensores da
Irlanda dos inimigos estrangeiros, caprichavam em acolher de braços abertos os
viajantes lusitanos, por certo reconhecendo neles os descendentes dos longínquos
antepassados celtas, oriundos das terras ibéricas…
A jornada começou cedo. Pelas
oito e meia, já nos despedíamos da cidade de James Joyce, atravessando o rio
Liffey, por uma das suas inúmeras pontes, rumo aos verdejantes campos do Lower
Shannon, onde se situa o primeiro objectivo do dia de hoje, o Rock of Cashel,
do qual falaremos mais adiante.
Por agora a nossa atenção ficou
presa pelos prados verdes, divididos por muros de pedra (o paralelo com a paisagem
açoriana foi inevitável), onde pastam rebanhos de ovelhas “irish black face” e
pachorrentas vacas. É fácil de perceber que, com estas condições naturais, esta
região possua uma importante indústria de lacticínios.
Os vales férteis do rio Shannon,
o maior rio da Irlanda que deu o nome a esta região, foram desde muito cedo um
local de fixação das populações, como mostram os vestígios existentes, datados
da Idade da Pedra. No séc. X os viquingues chegam aqui, e posteriormente, durante
o período normando, foram erigidos importantes castelos, como o de Bunratty,
que visitaremos no dia de amanhã.
Vencidos os 163 quilómetros da jornada,
eis-nos chegados ao Rock of Cashel. Erguido sobre o rochedo de Cashel, este
castelo serviu como residência para os reis de Munster durante centenas de anos,
até à Invasão Normanda. Embora muito pouco das primitivas estruturas tenha
sobrevivido até aos nossos dias, a maioria das edificações no actual sítio
histórico, datam dos séculos XII e XIII.
A beleza deste conjunto
arquitectónico e a vista soberba sobre a planície de Tipperary, com os nossos
olhos a perderem-se no infinito, pintado de verde-esmeralda, transmitiram-nos
uma sensação de tranquilidade e de uma certa magia, ampliada pela existência no
exterior de um cemitério, com bonitas cruzes adornadas de motivos celtas. Talvez
influenciados pelo ambiente, por momentos, deixamos o pensamento viajar alguns
séculos atrás, e imaginar o quotidiano dos nossos antepassados celtas, vivendo
neste local.
Nos primórdios da Idade Média,
tinham surgido na Irlanda quatro províncias célticas: eram elas: Munster (no
sudoeste), Leinster (no sudeste), Connaught (no noroeste) e Ulster (no nordeste).
O Rock of Cashel foi o local da conversão do rei de Munster, por St. Patrick,
no século V, existindo aqui uma cruz com gravações atribuídas a este santo
feitas aquando da sua estadia.
Este complexo medieval é
constituído por vários edifícios: A catedral gótica, a capela de Cormac, com
uma admirável talha românica, o dormitório dos monges, o salão do coral dos vigários, onde
hoje está instalado o museu, e a torre redonda. Deste conjunto de construções,
a mais alta e mais antiga, é a torre redonda. Muito bem preservada, data do
início do séc. XII, e eleva-se a 28 metros de altura, dominando toda a planície
envolvente. Constituía por isso um posto de vigia privilegiado, para a
segurança dos ocupantes do castelo.
Com os olhos mais cheios e o
espírito mais leve, regressámos à crua realidade dos nossos estômagos, que já
ansiavam por algum aconchego… descemos então por um bucólico caminho pedonal e
passados alguns minutos deparámos com uma magnífica residência em estilo Queen
Anne, datada de 1730, o Cashel Palace Hotel, que foi outrora o palácio de um
bispo. Hoje é um hotel de charme e um restaurante, e é neste ambiente
requintado que o nosso almoço se irá realizar… os deuses celtas não param de
nos surpreender.
Depois do repasto, ainda houve
tempo para dar uma mirada rápida pela vila de Cashel. Com o grupo já instalado
no Pinto Lopes’s bus, lá arrancámos rumo ao objectivo seguinte, a Old Midleton
Distillery, a destilaria do famoso Jameson, um dos ex-libris desta Irlanda, que
nos vai conquistando aos poucos.
Esta Old Distillery, instalada
num edifício do séc. XVIII, é hoje um excelente museu no qual tivemos
oportunidade de apreciar os equipamentos e as máquinas autênticas, que pararam
de laborar há bem pouco tempo, em 1975.
Foi uma visita guiada por uma
jovem espanhola que, de um modo descontraído e bastante eficiente, nos introduziu
no mundo da fabricação deste “whiskey”. Ficámos peritos na moagem, na maltagem,
na tripla destilação, característica que distingue definitivamente o “whiskey”
irlandês, do “whisky” escocês e do “bourbon” americano. Aliás, no final da
visita, dois dos nossos valentes luso-atriunistas ofereceram-se para participar
numa difícil prova para identificação destes três tipos de bebidas, e tiveram
um sucesso total, não falharam uma… são muitos anos a virar copos…
Foi com a alma aquecida e os
humores mais soltos (todos os visitantes tiveram oportunidade de provar um
trago de Jameson), que nos lançámos à estrada na direcção de Cork, o último
destino deste dia. Antes de nos instalarmos no Atrium Clarion Hotel (o nosso
Atrium também chegou a estes locais, talvez pela mão de algum dos nossos
antepassados celtas…), fizemos um pequeno tour, no Pinto Lopes’s bus, pela
cidade, que seria completado por um passeio pedonal, antes e depois do jantar.
O pouco tempo que tivemos para
conhecer esta cidade, não foi suficiente para ter uma ideia sobre os seus
motivos de interesse. Passeámos um pouco ao longo do rio Lee que a atravessa,
vagueámos pela sua principal artéria, a rua de St. Patrick e, para além de uns
bonitos edifícios, alguns com varandas de ferro estilo “arte nova”, o que nos
chamou mais a atenção foram os originais candeeiros que faziam lembrar
guindastes de cais.
Por leituras paralelas, ficamos a
saber que Cork (cujo nome em irlandês significa pântano e é devido às terras
alagadiças das margens do rio Lee), no séc. XIX, foi uma base do movimento
denominado “Irish Republican Brotherhood”, que desenvolvia a luta pela
independência da Irlanda e contra o domínio britânico. Ainda hoje os seus
habitantes têm fama de uma certa rebeldia política.
De novo a alvorada foi cedo, e depois
do habitual pequeno-almoço, fizemo-nos à estrada na direcção Norte, à conquista
de um castelo. Não de um qualquer castelo, mas sim de uma preciosidade
construída no séc. XV, e que constitui um belo exemplar da construção do
período normando, o Castelo de Bunratty.
Este castelo, como se verifica
aqui na Irlanda, não é apenas um edifício militar mas é também uma residência
de ilustres irlandeses. Aqui viveram cerca de 150 anos os O’Brien, condes de
Thomond. O castelo tem uma planta quadrada com quatro torres, e o seu interior
desenvolve-se em altura, com quatro pisos e com magníficas salas em todos eles.
Destacam-se o “Great Haal”, o salão de audiências e banquetes que era a
principal divisão, a “Main Guard”, onde os soldados viviam e onde hoje se realizam
os banquetes medievais, e o “South Solar”, alojamentos para convidados com uma
decoração típica do período Tudor, com belos painéis de madeira e elaborados
tectos, hoje extremamente bem reconstituídos.
Já com as pernas em franca
tremedeira, por tanto subir e descer escadas, deixámos a modesta residência dos
O’Brien e após um breve repouso para recuperação de forças, dirigimo-nos ao
“Bunratty Folk Park”, um curioso parque que fica junto ao castelo, e que
procura reconstituir a vida rural na Irlanda, em finais do séc. XIX. É uma
autêntica aldeia de Astérix, onde estão representadas as diversas actividades e
são reproduzidas as habitações e as lojas da época. Pudemos apreciar as casas
de pedra com telhado de colmo, típicas da região de Burren, assim como elegantes
moradias georgianas.
Uma referência especial ao
ferreiro que na altura desenvolvia uma intensa actividade, na fornalha, para a
qual obteve a ajuda de uma assustada luso-atriunista, que se desenvencilhou da
tarefa airosamente…
Voltámos
então à estrada para vencer os 65 quilómetros que nos separavam das falésias
dos Cliffs of Moher, um dos pontos de maior beleza natural do litoral de Clare.
Ao longo de 8 quilómetros, estes penhascos chegam a atingir uma altura de mais
de 200 metros acima do mar, oferecendo uma vista espectacular sobre o oceano.
No ponto mais elevado das falésias encontra-se a Torre de O'Brien, uma torre de pedra redonda construída em 1835 para
servir como ponto de observação. Toda a zona constitui um ponto importante de
nidificação de aves marinhas (mais de 30 mil pares de aves na época da
nidificação), e está incluída numa área especial de protecção ambiental. Aqui
podem-se observar o Papagaio-do-mar, Mergulhões, Fulmares, gralhas-de-bico-vermelho, uma espécie rara
conhecido como corvo celta e também Falcões peregrinos.
Percorrer
estas falésias, formadas há mais de 300 milhões de anos atrás, num dia em que a
luminosidade nos presenteou com uma visão magnífica sobre o Atlântico, ao som
de uma melodiosa harpa, tocada por uma jovem celta, é uma experiência rara que
nos deixou num estado de feliz quietude… mas, de repente, o nosso sossego foi
quebrado por uns gritos estridentes que ecoaram dos penhascos, e de uma das
cavernas vimos surgir, em grande correria, Harry Potter e Dumbledore perseguindo
o maléfico Voldemort que se precipitou por um atalho que descia a pique pelas
falésias… esfregámos os olhos, estaríamos a sonhar? Não, afinal não era nada de
transcendente, tratava-se simplesmente de uma cena do filme “Harry Potter e o
Príncipe Misterioso”, aqui rodado em 2009. Já nos vamos habituando, neste terra
de duendos, de fadas, de lendas e de mitos, o passado e o presente, a magia e a
realidade dão-se as mãos com a maior das simplicidades...
Mais tranquilos e para finalizar a visita, fomos conhecer o Centro de Acolhimento, um edifício subterrâneo com uma estrutura estilo caverna, que minimiza o impacto visual, e no qual existe uma exposição e diversos materiais de divulgação.
De novo instalados no Pinto Lopes’s bus, lançámo-nos nos últimos 78 quilómetros do dia, na direcção de Galway onde pernoitaremos. Pelo caminho atravessámos bonitas aldeias e belos panoramas em que as montanhas contrastavam com os extensos prados verdes e as tranquilas baías. Numa delas, na baía de Galway, o nosso olhar, e a objectiva da nossa Lumix, ficaram presos a uma visão magnífica de um castelo. Mais tarde, a partir de leituras e pesquisas, verificámos que se tratava de um dos mais visitados castelos da Irlanda, o Castelo de Dunguaire, uma casa torre do século XVI que deve o seu nome ao rei Guaire of Connaught (uma das quatro províncias célticas), cuja corte acolhia numerosos poetas e trovadores. Hoje em dia é o palco de banquetes medievais, enriquecidos por recitais de música celta e de poesia irlandesa.
De novo instalados no Pinto Lopes’s bus, lançámo-nos nos últimos 78 quilómetros do dia, na direcção de Galway onde pernoitaremos. Pelo caminho atravessámos bonitas aldeias e belos panoramas em que as montanhas contrastavam com os extensos prados verdes e as tranquilas baías. Numa delas, na baía de Galway, o nosso olhar, e a objectiva da nossa Lumix, ficaram presos a uma visão magnífica de um castelo. Mais tarde, a partir de leituras e pesquisas, verificámos que se tratava de um dos mais visitados castelos da Irlanda, o Castelo de Dunguaire, uma casa torre do século XVI que deve o seu nome ao rei Guaire of Connaught (uma das quatro províncias célticas), cuja corte acolhia numerosos poetas e trovadores. Hoje em dia é o palco de banquetes medievais, enriquecidos por recitais de música celta e de poesia irlandesa.
Finalmente chegámos a Galway, a quarta maior
cidade da Irlanda, que é o centro das regiões de língua gaélica, onde cerca de
metade da população fala irlandês como primeira língua. Hoje é uma animada
cidade universitária, tendo sido um importante entreposto comercial no séc.
XIV, sob o domínio dos anglo-normandos.
Fomos directos ao hotel Imperial, um curioso
hotel que parece ter-se desenvolvido inspirado num projecto do célebre Dédalo,
tal a confusão de corredores e de portas que tivemos de percorrer para atingirmos
os nossos quartos… só faltou mesmo que esbarrássemos com o Minotauro ao virar
de uma esquina.
Já instalados, com o sol ainda alto, houve
tempo para um passeio pela cidade. Numa primeira impressão ficámos
agradavelmente surpreendidos pela animação de rua, com músicos, malabaristas,
contorcionistas, mímicos e outros artistas, que se estendiam pelas pedonais
Shop street, High street e Mainguard street. A população muito jovem confirmava
o estatuto de cidade universitária.
Deambulámos pelas ruas do centro histórico, até
às margens do rio Corrib, e percorremos a zona portuária que encerra ainda alguns
vestígios da sua importância, dos quais destacamos o “Spanish Arch”, que data
de 1584 e que tinha por missão proteger o porto onde os mercadores espanhóis
descarregavam os seus barcos.
Já depois do jantar, tivemos a oportunidade de
voltar a mais um contacto directo com Galway, desta vez o passeio foi até à
Catedral de St. Nicholas de recente construção, data de 1965, e sob a ponte
“Salmon Weir”, já com a noite a cair assistimos ao curioso exercício da pesca
ao salmão e à truta por parte de uns teimosos pescadores que não desistiam na
sua tarefa, apesar do adiantado da hora.
E por fim foi o regresso ao labiríntico hotel
para mais uma noite, que irá retemperar as nossas forças para o dia seguinte,
que nos irá levar até à Irlanda do Norte, mais concretamente à cidade de Derry
(Londonderry para os anglófilos).
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