O Atrium deambulando nos dédalos da renovada e multicultural Mouraria
Bem longe estava o nosso Afonso Henriques, depois da
conquista de Lisboa, que ao atirar para fora da sua cidadela os mouros, estava
a dar origem a um bairro que, passados mais de oito séculos e meio, se viria a
transformar num verdadeiro melting-pot, onde se misturam gentes das mais
variadas paragens e culturas (Cerca de 25% da população na Mouraria é imigrante,
e existem pelo menos 51 nacionalidades diferentes a residir no bairro).
De facto, a Mouraria de hoje, que percorremos no passado dia
28 de Fevereiro, na companhia de dois jovens colaboradores da Associação Renovar a
Mouraria (ARM), ambos emigrantes, um da República Democrática do Congo e outro do
Bangladesh, apareceu-nos na sua diversidade étnico-cultural, onde se cruzam os
talhos halal e os cabeleireiros do Bangladesh, com as tradicionais tascas e as
mercearias portuguesas, onde o Centro Comercial do Martim Moniz se encontra
paredes meias com a rua do Capelão, berço da Maria Severa e dessa canção
lisboeta, hoje património da humanidade, e onde coexistem os templos católicos,
dos quais sobressai a Capelinha da Senhora da Saúde e a sua ancestral procissão,
velha de 444 anos, com as mesquitas, as igrejas evangélicas e os locais de
culto de outras religiões.
Esta coexistência entre a tradição e os mitos do “bairro
típico”, por um lado, e a nova comunidade multicultural, por outro, esta confluência
de pessoas e de grupos sociais heterogéneos, por vezes é geradora de situações mais
tensas, que justificaram algumas das práticas e políticas de intervenção
sócio-territorial, visando gerir a diversidade de forma construtiva e inovadora.
Esta realidade é analisada num artigo do jornal local Rosa
Maria, publicação da ARM, que transcrevemos: “Não existe uma visão consensual e
homogénea sobre o que a Mouraria é. Apesar dos discursos recorrentes anexados a
ela, e que estamos habituados a ouvir e ler, como sendo multicultural e berço
do fado, existem também visões contraditórias em relação aos mesmos. A Mouraria
é um bairro inserido em Lisboa, em que, constantemente, se tenta criar um
discurso identitário de forma a destacar-se dos restantes, seja por necessidade
ou por realidade. Contudo, existem tensões que a desmitificam”.
A visita guiada que efectuámos, está inserida no projecto
Mouraria para Todos, iniciativa da Associação Renovar a Mouraria, uma
organização comunitária criada em 2008, com o objectivo de revitalizar o bairro
da Mouraria, nos diversos níveis, cultural, social, económico e turístico,
visando a melhoria das condições de vida da população local.
Acompanhados pela simpatia dos nossos guias, percorremos
alguns locais emblemáticos do bairro, num percurso que se iniciou junto da
igreja de S. Domingos e que terminou num convívio na Casa Comunitária da
Mouraria, sede da ARM, que contou com algumas especiarias gastronómicas
oriundas das diversas regiões presentes no bairro, culminando com uma exibição
de danças do Bangladesh.
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