No Teatro S. Luís confrontámo-nos com o tempo, esse inimigo que nos persegue pela vida inteira
“Eu não peço piedade, só peço compreensão – nem sequer isso –
não. Apenas o reconhecimento de mim em ti, e do inimigo, o tempo, em todos
nós.”. É esta a última fala de Chance Wayne, quando enfrenta os seus algozes,
os capangas enviados por Boss Finley, o poderoso político sem escrúpulos que
jurou castigá-lo, pelo que aconteceu à sua filha, Heavenly, fruto da sua
relação com Chance.
Mas Chance quando profere a frase está virado para a plateia,
para o público que assiste à peça, para todos nós. E é a todos nós que
Tennessee Williams se dirige, convidando-nos a reflectir sobre o
envelhecimento, sobre o que resta dos nossos sonhos e dos doces anos da nossa
juventude.
É pois evidente que a peça “Doce Pássaro da Juventude”, que
assistimos no passado dia 22 de Abril, não é uma peça cómoda, ela aborda
aspectos da condição humana, que de um modo ou de outro, todos nós já
enfrentámos, os sonhos, os desesperos, as desilusões, o envelhecimento… o tal
inimigo que nos persegue desde o primeiro dia da nossa existência.
Tudo começa num quarto de hotel, onde Alexandra del Lago (Maria
João Luís), uma atriz destroçada pelo tempo e Chance Wayne (Rúben Gomes), um gigolô
que tem como sonho tornar-se um ator famoso, e reconquistar uma antiga paixão, Heavenly
(Catarina Wallenstein), a filha de um poderoso político da cidade.
É domingo de Páscoa, e o toque dos sinos marca o arranque de
uma luta para tentar alcançar aquilo que o tempo vem destruindo. Trata-se de
voltar a um passado que a esta distância, imaginam ter sido feliz. Mas nem a
Páscoa lhes concede o desejo, e o tempo não voltará para trás.
Boa encenação (de Jorge de Silva Melo com produção dos
Artistas Unidos), bom nível de interpretações, em especial dos dois
protagonistas, um texto rico de um grande dramaturgo, um espectáculo
inteligente. Em suma, um serão bem aproveitado!
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