domingo, maio 17, 2015

No Teatro S. Luís confrontámo-nos com o tempo, esse inimigo que nos persegue pela vida inteira

“Eu não peço piedade, só peço compreensão – nem sequer isso – não. Apenas o reconhecimento de mim em ti, e do inimigo, o tempo, em todos nós.”. É esta a última fala de Chance Wayne, quando enfrenta os seus algozes, os capangas enviados por Boss Finley, o poderoso político sem escrúpulos que jurou castigá-lo, pelo que aconteceu à sua filha, Heavenly, fruto da sua relação com Chance.
Mas Chance quando profere a frase está virado para a plateia, para o público que assiste à peça, para todos nós. E é a todos nós que Tennessee Williams se dirige, convidando-nos a reflectir sobre o envelhecimento, sobre o que resta dos nossos sonhos e dos doces anos da nossa juventude.
É pois evidente que a peça “Doce Pássaro da Juventude”, que assistimos no passado dia 22 de Abril, não é uma peça cómoda, ela aborda aspectos da condição humana, que de um modo ou de outro, todos nós já enfrentámos, os sonhos, os desesperos, as desilusões, o envelhecimento… o tal inimigo que nos persegue desde o primeiro dia da nossa existência.
Tudo começa num quarto de hotel, onde Alexandra del Lago (Maria João Luís), uma atriz destroçada pelo tempo e Chance Wayne (Rúben Gomes), um gigolô que tem como sonho tornar-se um ator famoso, e reconquistar uma antiga paixão, Heavenly (Catarina Wallenstein), a filha de um poderoso político da cidade.
É domingo de Páscoa, e o toque dos sinos marca o arranque de uma luta para tentar alcançar aquilo que o tempo vem destruindo. Trata-se de voltar a um passado que a esta distância, imaginam ter sido feliz. Mas nem a Páscoa lhes concede o desejo, e o tempo não voltará para trás.

Boa encenação (de Jorge de Silva Melo com produção dos Artistas Unidos), bom nível de interpretações, em especial dos dois protagonistas, um texto rico de um grande dramaturgo, um espectáculo inteligente. Em suma, um serão bem aproveitado!