Um reencontro com o passado em Mafra, destruindo velhos fantasmas
Os portões
estão lá, são os mesmos, mas o tempo, a resistência e a luta de alguns, fizeram
mudar a história, e agora já não representam mais a porta de entrada para um
mundo de cruéis incertezas, que muitos da nossa geração tiveram de enfrentar – “E agora? África e a guerra colonial, matar
e morrer? Ou o caminho da deserção e o exílio para terras estrangeiras? Até
quando?”.
Foi no
passado dia 13 de Outubro, quarenta e quatro anos e alguns meses depois do dia inicial inteiro e limpo, que o
Atrium passou por esses portões, hoje hospitaleiros anfitriões, para realizar a
segunda parte de uma interessante visita ao Convento de Mafra, completando
aquela que tínhamos feito no passado dia 9 de Junho.
À nossa
espera estava o Paulo Salcedas, que com a sua simpatia se disponibilizou
novamente para nos guiar, desta vez pela parte do convento sob jurisdição
militar, onde anteriormente esteve instalada a Escola Prática de Infantaria, e
a partir de 2013 passou a albergar a Escola das Armas do Exército.
Iniciámos o
percurso pela Sala de Espera da
chamada Hospedaria, destinada aos visitantes do convento, que não teriam acesso
à zona conventual, e continuámos até ao Jardim
do Buxo, em torno do qual se situavam as celas dos frades.
Seguimos depois
até à Sala dos Actos Literários,
situada no extremo Sul do Corredor das Aulas, destinada aos exames das aulas de
Teologia, Moral, Lógica, Física, Metafísica e Gramática, criadas no convento durante
o reinado de D. João V.
Passámos
pela Aula de Teologia e parámos na Sala Elíptica ou do Capítulo, uma das mais importantes
salas do barroco em Portugal, com 24 metros de comprimento e 12 de largura,
iluminada por 28 janelas ovais. Sobre a porta principal, uma tribuna em mármore
branco, com acesso a partir do Palácio, servia para o Rei assistir a algumas
cerimónias. Era nesta sala, com uma excelente acústica, que se realizavam as
reuniões do Capítulo dos religiosos, onde se discutia e planeava a gestão de
toda a vida quotidiana do Convento.
Regressámos
ao Corredor da Aulas e visitámos sucessivamente a Sala das Bicas, a Sala de
Profundis e o Refeitório.
A Sala das Bicas, de forma octogonal, possui
quatro grandes lavatórios em forma de urna, destinados à lavagem das mãos,
cada um com seis torneiras de bronze que recebiam água vinda da Tapada. Na Sala de Profundis eram feitas as
orações antes da refeição. O Refeitório
era o espaço das refeições da comunidade, com forma rectangular, o tecto
abobadado e 45 janelas, das quais 25 são cegas. Possui 36 mesas de madeira do
Brasil, e de cada lado da sala existe um púlpito que servia para o Leitor
recitar trechos dos livros sagrados durante os repastos.
Foi aqui no
Refeitório, que alguns de nós recordaram com maior nitidez o tempo em que,
durante os três meses da recruta do 1º ciclo do C.O.M., aqui devorámos as nossas
refeições, por vezes de qualidade muito duvidosa, mas a fome era negra e o
cansaço era muito…
Terminada a
visita à zona militar, fomos até à Basílica
onde visitámos a Sacristia, ligada à
igreja por um corredor onde estão colocados confessionários. No fundo da sala,
mobilada com armários em pau-santo destinadas a guardar os paramentos, podemos
apreciar uma capela dedicada a S. Francisco que tem, sobre o altar, uma tela do
pintor Inácio de Oliveira Bernardes, representando As Chagas de S. Francisco.
Como já vem
sendo hábito, a manhã terminou com um almoço no restaurante “O Brasão” onde, na
companhia do Paulo Salcedas, se reconfortaram os estômagos e se animaram as
almas, num ambiente de animado convívio.
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