O Atrium makavenkando, lá para as bandas dos Restauradores…
E tudo começou naquela manhã do dia 12 de Maio, na Fábrica da Nata dos Restauradores, onde os atriunistas e amigos, quais Makavenkos experientes e cumpridores, deram largas à alegria e elasticidade à tripa…
Já com os apetites mais pacificados, o grupo dirigiu-se ao ponto de encontro, onde se iniciaria a visita, e onde o nosso simpático anfitrião, o Jorge Augusto, já nos esperava.
Antes da entrada no magnífico vestíbulo, ao qual nos referiremos mais adiante, fomos presenteados com uma introdução à história deste edifício, que passamos a resumir.
Projetado no início do século XVIII, o Palácio Foz, inicialmente chamado de
Palácio Castelo Melhor, possui uma fachada de estilo setecentista, já liberta da influência barroca, enquanto o interior, que
foi remodelado posteriormente, tem uma decoração de caráter revivalista, típico
da segunda metade do século XIX, época em que a sua construção foi concluída.
Em 1755, o sismo que abalou Lisboa, danificou seriamente o edifício então existente, tendo sido necessário proceder-se à construção de um novo palácio.
Não há a certeza sobre quem projetou o novo palácio, no entanto sabe-se que o arquiteto italiano Francisco Xavier Fabri, por solicitação do Marquês de Castelo Melhor, dirigiu as obras até à ocasião da morte do Marquês. Nessa altura, os trabalhos ficaram suspensos sendo retomados anos mais tarde, e concluídos em 1848, ano da sua inauguração.
Em 1889 a 6ª Marquesa de Castelo Melhor, D. Helena de Vasconcelos, vendeu o Palácio a Tristão Guedes, um nobre de grande fortuna, na altura administrador da Companhia Real do Caminho-de-Ferro, e que mais tarde seria distinguido com o título de Marquês da Foz.
Documentos da época parecem indiciar que o negócio foi pouco transparente e que Tristão Guedes se aproveitou das suas funções nos Caminhos-de-ferro, para comprar o Palácio por uma pechincha, alegando que a construção do túnel do Rossio implicaria a expropriação daqueles terrenos. Propositadamente, não iremos adiantar mais nada sobre o caso, com receio que o Correio da Manha (a falta do til foi voluntária… soa mais verdadeiro) e a sua associada, a Procuradoria-Geral da República, venham a abrir mais um mega-processo que, com toda a propriedade, poderia ser intitulado “Operação Marquês – Parte II".
Em 1755, o sismo que abalou Lisboa, danificou seriamente o edifício então existente, tendo sido necessário proceder-se à construção de um novo palácio.
Não há a certeza sobre quem projetou o novo palácio, no entanto sabe-se que o arquiteto italiano Francisco Xavier Fabri, por solicitação do Marquês de Castelo Melhor, dirigiu as obras até à ocasião da morte do Marquês. Nessa altura, os trabalhos ficaram suspensos sendo retomados anos mais tarde, e concluídos em 1848, ano da sua inauguração.
Em 1889 a 6ª Marquesa de Castelo Melhor, D. Helena de Vasconcelos, vendeu o Palácio a Tristão Guedes, um nobre de grande fortuna, na altura administrador da Companhia Real do Caminho-de-Ferro, e que mais tarde seria distinguido com o título de Marquês da Foz.
Documentos da época parecem indiciar que o negócio foi pouco transparente e que Tristão Guedes se aproveitou das suas funções nos Caminhos-de-ferro, para comprar o Palácio por uma pechincha, alegando que a construção do túnel do Rossio implicaria a expropriação daqueles terrenos. Propositadamente, não iremos adiantar mais nada sobre o caso, com receio que o Correio da Manha (a falta do til foi voluntária… soa mais verdadeiro) e a sua associada, a Procuradoria-Geral da República, venham a abrir mais um mega-processo que, com toda a propriedade, poderia ser intitulado “Operação Marquês – Parte II".
“…A entrada faz-se por um
amplo vestíbulo, sóbrio e cheio de dignidade, onde se encontram excelentes
telas do italiano Manini, uma bela figura de mármore representando uma mulher
sobre uma concha e um baixo-relevo grego de mármore branco emoldurado por
mármore negro. Dali parte a bela escadaria de mármore italiano, sumptuosa e
clara, por onde se vai para a galeria circundante, apoiada sobre colunas também
do mesmo magnífico mármore. O corrimão ricamente decorado de cobre aço, abre
com uma cabeça de carneiro de cobre reluzente. Outros motivos decorativos se
seguem, com o timbre da nobre família dos Marqueses da Foz. Este admirável
corrimão foi executado em Paris e custou então cerca de 9000 libras. É um
espécime mais sumptuoso que o do Castelo de Chantilly, dos Duques de Aumale,
que é tido como o mais belo do mundo. As colunas da galeria apoiam-se sobre
pedestais de mármore, e as bases e capitéis são de cobre. Na galeria superior
encontram-se duas belas telas de Snijders, O Vendedor de Fruta e O Vendedor de
Peixe, uma de Bruyère, O Triunfo de Luís XIV, e as armas da família Foz, de
Francisco Vilaça.”
Prosseguimos a visita percorrendo as diversas
salas do palácio, admirando a sua decoração, os entalhes em madeiras exóticas do Brasil, os trabalhos
em ferro forjado, onde se podem observar vários símbolos associados ao Rei Sol,
e as esculturas executadas pelos artistas da Flandres.
Um destaque especial para as pinturas de José Malhoa e
Columbano Bordalo Pinheiro e para o rutilante Salão Nobre, ou Sala
dos Espelhos - inspirado
na sala dos espelhos do Palácio de Queluz - já conhecido de alguns de nós
através dos diversos concertos que ali se realizam.
Passámos depois ao pátio
interior do palácio, que dá acesso ao Museu Nacional do Desporto, aberto ao
público em 2012, por altura da comemoração dos 100 anos de participação de Portugal
nos Jogos Olímpicos.
E foi neste pátio que fomos
confrontados com um fantasma, que hoje não é mais do que um quadrado negro no
empedrado do chão, mas que nos atormentou durante uma longa noite, igualmente
negra, de mais de 36 anos. A sua estátua, de borla e capelo, em boa hora foi
arrumada num qualquer armazém, no rescaldo daquele dia inicial inteiro e limpo,
não restando mais do que este triste fantasma para nos lembrar um tempo que pretendemos
enterrado para sempre.
E após esta breve paragem ao ar
livre, regressámos ao interior do palácio, onde nos esperava uma surpresa, com
uma componente algo esotérica. Escondido na profundeza das caves do edifício, o
templo dos Makavenkos esperava por nós…
Guiados pelo Jorge Augusto, lá
descemos as estreitas escadas de acesso às caves, e subitamente aos nossos
olhos surge um espaço com uma decoração incrível, cuja exuberância de elementos
revivalistas transmite uma atmosfera algo extravagante.
Acabávamos de penetrar na
Abadia, um dos espaços onde os Makavenkos realizavam as suas reuniões – o outro
eram as caves do edifício do antigo cinema Condes - dedicadas à boa comida, à
boa bebida e ao culto da beleza feminina, tudo isto acompanhado por uma
fraternidade iniciática, que passou pelo seu envolvimento na conspiração que
conduziu ao movimento revolucionário do 5 de Outubro de 1910.
Mas o que era a Sociedade dos
Makavenkos? Em traços gerais poderemos dizer que era uma associação filantrópica,
com preocupações sociais, que existiu em Lisboa entre os anos de 1884 e 1919, e
que integrava personalidades Maçónicas tais como Francisco de Almeida Grandella, considerado
o seu fundador, e que ele próprio se definia como, “maçon, republicano,
comerciante, industrial, especialista em marketing, avalista de revoluções,
regimes livres e bom-vivant", António Lopes, historiador, professor e
diretor da Revista Grémio Lusitano e o artista Rafael Bordalo
Pinheiro, além de outros aristocratas.
Numa agremiação em que uma das
prioridades era dar largas à alegria e elasticidade à
tripa, não admira
que tenham adoptado para patrono a personagem bíblica de Noé, pois
foi ele que plantou uma vinha após o dilúvio. A divisa escolhida para a sociedade foi a da
britânica Ordem da Jarreteira, "honni
soit qui mal y pense", e consta que todos se esforçavam arduamente no
exercício das suas queixadas, de forma a evitarem o dito por Aristófanes, “os dentes dão móveis inúteis se não mastigam”.
Nas suas reuniões gastronómicas,
eram admitidas mulheres, sobretudo bonitas actrizes, e rezam as crónicas que
ali reinava um genuíno espírito democrático, pois: "Todos eram iguais perante a sopa, o copo e as makavenkas, e nenhum
podia namoriscar com a mesma por mais de quinze dias. Findo esse período, ela
seria declarada "praça aberta" e ele, se insistisse, levava o título
de lamechas…”.
Posto este introito eminentemente
histórico, voltemos à Abadia, admiremos as suas colunas com capitéis dourados, as
representações das fábulas
de La Fontaine, as naves góticas de colunatas policromadas, os encordoados
manuelinos, os grifos, os dragões e os elefantes, em duplicado, para simbolizar
a sabedoria do espírito e a virtude da alma. Uma última referência ao poço, que
supostamente liga aos subterrâneos de Lisboa, e que está sob uma fonte de
corais, simbolizando a Fonte da Sabedoria.
Esta Abadia está dividida em três partes, o Claustrum (com a
sua “taberna vínica”, como se pode ler num dístico em ferro forjado), o Refectorium (inspirado nos
claustros do românico cisterciense peninsular) e o Coro
(agrupando pequenas dependências de carácter reservado).
No Refectorium, no
cimo dos pilares, a representação dos bustos de 24 Makavenkos, alguns ostentando
símbolos maçónicos, e lá estava vigilante, de esquadro e compasso ao peito, Francisco
de Almeida Grandella.
E por estes intrigantes espaços nos perdemos, minutos sem
conta, dando voltas á nossa imaginação, tentando captar o espírito ao mesmo
tempo boémio, libertário e revolucionário, destes amantes do prazer da boa mesa e da “alegre rapioqueira”, que procuravam a compensação dos seus pecados,
com a realização de actos de benemerência…
No final da deambulação, perto do Refectorium,
pareceu ouvir-se uma voz grave e arrastada, vinda do local onde se encontrava o
busto do Grandella, que sussurrava repetidamente: “Lamechas, vós não passais de uns reles lamechas…”.
Para evitar quaisquer outros comentários menos abonatórios das
capacidades dos atriunistas e amigos, presentes na visita, encerramos aqui
mesmo esta crónica sobre uma visita deveras interessante, enriquecida pela preciosa
colaboração do nosso anfitrião, Jorge Augusto.
1 Comments:
Finalmente consegui visitar o museu. A vista foi muito animada e enriquecedora.
A reportagem descreve ao pormenor algumas peças de arte e também algumas curiosidades muito interessantes e divertidas.
Mas, a descrição “cabeça de carneiro reluzente” até me faz sentir o “reluzir”.
Bons momentos, boa visita e boa reportagem.
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