O Atrium ao reencontro das muralhas de Lisboa
A cidade de Lisboa, espraiando-se por vales férteis, que
deslizam suavemente até ao largo estuário de águas tranquilas, e dispondo de um
clima ameno (“Cidade a ponto luz bordada/Toalha à beira mar estendida”, nas
palavras inspiradas de Ary), desde muito cedo foi cobiçada por vários povos que
lutaram pela sua posse.
Esta localização estratégica e a sua relação com o rio,
levaram à construção de muralhas, pelos seus sucessivos ocupantes, procurando
assim proteger-se dos possíveis invasores.
Lisboa foi ocupada por vários povos, de várias culturas,
desde Fenícios, Romanos, Alanos, Suevos e Visigodos, Mouros e por fim Cristãos,
após a conquista e a integração da cidade no reino de Portugal, por D. Afonso
Henriques, em 1147.
A muralha mais antiga de Lisboa de que se tem conhecimento, e
da qual existem vestígios, a denominada “Cerca Moura” ou “Cerca Velha”, terá
sido construída pelos muçulmanos aquando a sua ocupação do território,
provavelmente entre inícios do século X até 1147. No entanto, pesquisas
recentes levadas a cabo por duas arqueólogas da CML, concluíram que esta cerca foi
construída sobre uma outra pré-existente, de origem romana.
No reinado de D. Dinis (1279-1325), Lisboa afirma-se como
centro administrativo, comercial e cultural do reino, e regista um considerável
desenvolvimento económico. A cidade cresce para fora da Cerca Moura e
estende-se pela zona ribeirinha, pelo que se torna necessário construir uma
defesa que a proteja dos ataques vindos do mar. Assim surge a Muralha Dionisina
(também designada por “Muralha de Dom Dinis”), da qual existe um troço na
cripta da antiga Igreja de São Julião, hoje propriedade do Banco de Portugal.
A Muralha de D. Dinis esteve em uso cerca de 75 anos e foi
uma estrutura fundamental para a defesa da cidade, até que a construção da
Cerca Fernandina em 1373, ditou o seu progressivo abandono.
Esta nova cerca, mandada edificar por D. Fernando, abrangia
uma área de 101 hectares, e protegia urbe da época, que contava com cerca de 65
mil habitantes. Face à ameaça da guerra com Castela, ela foi construída num
espaço de tempo extraordinariamente curto. Em apenas dois anos foram erguidos os
5 400 metros de muralha, com as suas 77 torres e 38 portas.
Esta actividade, de “redescoberta” das cercas, dividiu-se em
dois momentos distintos: Uma apresentação, suportada pela projecção de um
slide-show, que teve lugar nas instalações da Junta de Freguesia de Carnide, na
noite do dia 3 de Julho, e no dia seguinte, uma caminhada pelos locais onde os
vestígios das velhas muralhas são mais visíveis.
A caminhada iniciou-se no terraço superior do Mercado Chão
do Loureiro, e percorreu, da parte da manhã, um traçado que incluiu os
seguintes pontos: Rua do Chão da Feira; Pátio D. Fradique; Porta do Sol; Rua
Norberto de Araújo; Porta de Alfama; Torre e Postigo de S. Pedro; Porta do
Chafariz d’ El Rei; Porta do Furadouro; Postigo Marquês do Lavradio; Arco da
Conceição; Casa dos Bicos; Porta do Mar; Porta do Ferro; Porta de Alfofa.
Após o almoço, que se realizou num restaurante da Rua dos
Bacalhoeiros, tivemos a rara oportunidade de caminhar sobre um troço da Cerca
Fernandina, que existe em excelente estado de conservação, no jardim do Palácio
de Independência. Aqui uma referência à preciosa colaboração da Dr.ª Ana Maria
Proserpio, da Sociedade Histórica para e Independência de Portugal, que nos
guiou nesta parte da visita.
Já a tarde ia avançada quando a deambulação terminou, junto
à Torre do Jogo da Pela, da Cerca Fernandina, ao Martim Moniz. Misturado com algum
cansaço, o contentamento de nos sentirmos mais ricos no conhecimento da
história e dos segredos desta Lisboa, cidade mágica e poética, “a última das
cidades mediterrâneas”, no dizer de Orlando Ribeiro.
O principal dinamizador da iniciativa foi o Albano, e contou
com a colaboração do Pedro Moniz e do Zé Carlos.
1 Comments:
Atrasei-me na apreciação. Aqui vai, parabéns pelo texto e pelas fotos. Gostei da actividade penso que é bom para quem organiza pq dá trabalho e tb para quem pode participar. O ATRIUM tem esta grande particularidade - aprendizagem ao longo da vida.FN
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