quarta-feira, setembro 02, 2015

O Atrium ao reencontro das muralhas de Lisboa

A cidade de Lisboa, espraiando-se por vales férteis, que deslizam suavemente até ao largo estuário de águas tranquilas, e dispondo de um clima ameno (“Cidade a ponto luz bordada/Toalha à beira mar estendida”, nas palavras inspiradas de Ary), desde muito cedo foi cobiçada por vários povos que lutaram pela sua posse.
Esta localização estratégica e a sua relação com o rio, levaram à construção de muralhas, pelos seus sucessivos ocupantes, procurando assim proteger-se dos possíveis invasores.
Lisboa foi ocupada por vários povos, de várias culturas, desde Fenícios, Romanos, Alanos, Suevos e Visigodos, Mouros e por fim Cristãos, após a conquista e a integração da cidade no reino de Portugal, por D. Afonso Henriques, em 1147.
A muralha mais antiga de Lisboa de que se tem conhecimento, e da qual existem vestígios, a denominada “Cerca Moura” ou “Cerca Velha”, terá sido construída pelos muçulmanos aquando a sua ocupação do território, provavelmente entre inícios do século X até 1147. No entanto, pesquisas recentes levadas a cabo por duas arqueólogas da CML, concluíram que esta cerca foi construída sobre uma outra pré-existente, de origem romana.  
No reinado de D. Dinis (1279-1325), Lisboa afirma-se como centro administrativo, comercial e cultural do reino, e regista um considerável desenvolvimento económico. A cidade cresce para fora da Cerca Moura e estende-se pela zona ribeirinha, pelo que se torna necessário construir uma defesa que a proteja dos ataques vindos do mar. Assim surge a Muralha Dionisina (também designada por “Muralha de Dom Dinis”), da qual existe um troço na cripta da antiga Igreja de São Julião, hoje propriedade do Banco de Portugal.
A Muralha de D. Dinis esteve em uso cerca de 75 anos e foi uma estrutura fundamental para a defesa da cidade, até que a construção da Cerca Fernandina em 1373, ditou o seu progressivo abandono.
Esta nova cerca, mandada edificar por D. Fernando, abrangia uma área de 101 hectares, e protegia urbe da época, que contava com cerca de 65 mil habitantes. Face à ameaça da guerra com Castela, ela foi construída num espaço de tempo extraordinariamente curto. Em apenas dois anos foram erguidos os 5 400 metros de muralha, com as suas 77 torres e 38 portas.

Esta actividade, de “redescoberta” das cercas, dividiu-se em dois momentos distintos: Uma apresentação, suportada pela projecção de um slide-show, que teve lugar nas instalações da Junta de Freguesia de Carnide, na noite do dia 3 de Julho, e no dia seguinte, uma caminhada pelos locais onde os vestígios das velhas muralhas são mais visíveis.
A caminhada iniciou-se no terraço superior do Mercado Chão do Loureiro, e percorreu, da parte da manhã, um traçado que incluiu os seguintes pontos: Rua do Chão da Feira; Pátio D. Fradique; Porta do Sol; Rua Norberto de Araújo; Porta de Alfama; Torre e Postigo de S. Pedro; Porta do Chafariz d’ El Rei; Porta do Furadouro; Postigo Marquês do Lavradio; Arco da Conceição; Casa dos Bicos; Porta do Mar; Porta do Ferro; Porta de Alfofa.
Após o almoço, que se realizou num restaurante da Rua dos Bacalhoeiros, tivemos a rara oportunidade de caminhar sobre um troço da Cerca Fernandina, que existe em excelente estado de conservação, no jardim do Palácio de Independência. Aqui uma referência à preciosa colaboração da Dr.ª Ana Maria Proserpio, da Sociedade Histórica para e Independência de Portugal, que nos guiou nesta parte da visita.
Já a tarde ia avançada quando a deambulação terminou, junto à Torre do Jogo da Pela, da Cerca Fernandina, ao Martim Moniz. Misturado com algum cansaço, o contentamento de nos sentirmos mais ricos no conhecimento da história e dos segredos desta Lisboa, cidade mágica e poética, “a última das cidades mediterrâneas”, no dizer de Orlando Ribeiro.

O principal dinamizador da iniciativa foi o Albano, e contou com a colaboração do Pedro Moniz e do Zé Carlos.


1 Comments:

Anonymous FNeves said...

Atrasei-me na apreciação. Aqui vai, parabéns pelo texto e pelas fotos. Gostei da actividade penso que é bom para quem organiza pq dá trabalho e tb para quem pode participar. O ATRIUM tem esta grande particularidade - aprendizagem ao longo da vida.FN

8/9/15 23:21  

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