O Atrium a bordo de um navio da armada soviética, dividido entre a anarquia e a ordem revolucionária
Foi em Almada, no Teatro Municipal
Joaquim Benite, na noite de 13 de Janeiro, que subimos a bordo de um navio de
guerra soviético, algures num porto do mar Negro, para assistir ao embate entre
uma tripulação de marinheiros anarquistas - que se opõem à autoridade do
partido bolchevique, no poder após a Revolução de Outubro de 1917 - e a jovem
comissária política do Exército Vermelho, enviada com a missão
de restabelecer a ordem, e de pôr os marinheiros ao serviço da causa
revolucionária.
Ao longo da peça assiste-se a um
debate ideológico, no qual se discutem, e se põem em causa, os ideais da
Revolução, em oposição a uma certa ideia de anarquismo, aqui apresentado não
como uma perfeita e completa ordem social (como defendem os teóricos deste
corrente), mas antes como um bando, dominado por um influente cabecilha, que se
rege por instintos bastante primários e despidos de qualquer preocupação de
justiça (recorde-se da cena do pretenso roubo de uma velha por um marinheiro,
que acaba com os dois atirados borda fora) ou de respeito pela mulher (as
tentativas de violação da comissária, que terminam com o agressor devidamente
baleado pela sua potencial vítima).
Esta tragédia optimista,
aparentemente muito datada, terá de ser vista e interpretada à luz da realidade
política e social dos nossos dias, pois pensar o comunismo bolchevique no
contexto da antiga União Soviética é uma tarefa que se afigura destituída de
interesse.
Trata-se fundamentalmente da eterna
discussão acerca da contradição entre a liberdade individual (e individualista)
e a consciência colectiva, ou seja, entre o interesse individual e o interesse
colectivo.
O seu autor
é Vsevolod Vichnievski
(1900-1951), um dramaturgo e escritor russo que celebrou a revolução russa nas
suas obras. Para além da sua carreira literária, também se distinguiu como
militar, tendo participado no cerco a Leninegrado. Foi correspondente de guerra
do jornal Pravda. A tragédia
optimista é a sua obra mais conhecida, tendo sido levada à cena pela primeira
vez em 1933.
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