domingo, janeiro 31, 2016

O Atrium no Teatro Nacional de S. Carlos, numa antevisão da ópera “Diálogo das Carmelitas”

Paris, Setembro de 1792. Nas imediações do Carmelo de Compiégne, uma multidão ululante desfila e os seus gritos, “Vive la Révolution!”, “Liberté, égalité, fraternité”, “Mort aux Traîtres”, ecoam abafados no interior dos muros do convento, onde as dezasseis Carmelitas, reunidas em torno da Madre Superiora, a irmã Teresa de Santo Agostinho, percebem desesperadas que tudo está perdido para elas.
Confiscadas as instalações do convento, por decreto do Comité de Salvação Pública, foi-lhes dado um prazo de dois dias para as abandonar, dissolver a sua comunidade e abdicar dos seus votos e práticas religiosas.
No final de 1989, um decreto da Assembleia Nacional tinha proibido expressamente o pronunciamento de votos religiosos e a profissão religiosa.
Por recusarem estas exigências, todas as irmãs expressaram o desejo de viver e morrer como uma carmelita, mais tarde foram transferidas para a Conciergerie de Paris e compareceram diante do Tribunal Revolucionário de Fouquet-Tinville, que as condenou à morte por “fanatismo”.
A 17 de Julho de 1794, as dezasseis carmelitas saem da prisão da Conciergerie, na carreta fatal, e percorrem o caminho até à Place de la Revolution, entoando hinos religiosos. Durante as execuções reinou absoluto silêncio ouvindo-se apenas o canto das Carmelitas, que se tornava mais fraco à medida que as execuções se iam fazendo. A última a subir ao cadafalso foi a Madre Superiora, e as suas últimas palavras foram "O amor sempre vencerá; o amor tudo pode".
Vivia-se no auge do período da Revolução Francesa, conhecido como Reino do Terror, que decorreu entre Agosto de 1792 (quando se deu a queda dos girondinos, os republicanos moderados) e 27 de Julho de 1794 (o dia em que Robespierre, o líder dos jacobinos, foi preso e executado – ironia da História - na mesma guilhotina que tinha supliciado, dez dias atrás, as dezasseis Carmelitas).
Neste período de tempo, as garantias civis foram suspensas e o governo revolucionário, controlado pela facção da Montanha, uma ala radical do partido jacobino, perseguiu e assassinou seus adversários e cerca de 17.000 pessoas foram guilhotinadas.
A ópera de Francis Poulenc (1899-1963) foi baseada na peça de George Bernanos, e através dos seus diálogos e da sua música procura transmitir o terror, a intolerância e o martírio, e ao mesmo tempo a coragem, a serenidade e a força de uma crença.
Uma especial referência à cena final, que através de processos cénicos simples, consegue transmitir todo o dramatismo da execução das Carmelitas.
Foi no passado dia 26 de Janeiro, que o Atrium teve a feliz oportunidade de assistir a um ensaio completo deste espectáculo, que será estreado a 3 de Fevereiro no Teatro Nacional de São Carlos, numa co-produção com o Teatro da Cornucópia, com encenação de Luís Miguel Cintra e direção musical de João Paulo Santos.