segunda-feira, novembro 23, 2009

Cova da Moura – um bairro para a História

No passado domingo, dia 22 de Novembro, o Atrium viajou até ao bairro da Cova da Moura onde, pela mão da Associação Cultural Moinho da Juventude (ACMJ), contactou com a vida, os projectos, os problemas e as aspirações das gentes de muitos mundos que habitam neste bairro do concelho da Amadora.
Esta associação nasceu de um trabalho informal de animação de crianças, da organização de mulheres e da luta pelo saneamento básico, nos primeiros anos da década de 80, e foi oficialmente constituída por escritura pública em 1987.
A ACMJ é hoje um Projecto Comunitário levado a cabo pelos moradores do Bairro da Cova da Moura, e actua tanto ao nível social, através da melhoria das condições de residência e legalização dos seus habitantes, como ao nível cultural e económico.
Todas as actividades de desenvolvimento comunitário levadas a cabo por esta associação, são conduzidas pelos princípios da Interculturalidade, Cooperação, Criatividade, Solidariedade e Persistência numa perspectiva de empoderamento.
Quem nos recebeu de braços abertos e quem connosco partilhou a história das vitórias, dos entraves, da generosidade dos apoios e da incompreensão e indiferença de alguns poderes, que têm moldado o percurso desta magnífica obra, foi Godelieve Meersschaert, que participou na fundação desta associação e continua a ser uma das suas grandes dinamizadoras.
Nesta nossa visita pudemos testemunhar, como facto mais marcante, a procura por parte desta comunidade de caminhos que a afastem da marginalização e que contribuam para o fim do estigma de violência que por vezes é associado a este bairro, e sentimos por isso a obrigação de transmitir esta convicção, contribuindo, embora modestamente, para que um novo olhar se projecte sobre a Cova da Moura.
Almoçámos uma tradicional cachupa, que nos deu energia para a segunda parte da visita, e alguns de nós não resistiram ao apelo de um digestivo grogue servido num dos vários estabelecimentos pertencentes ao Projecto Sabura (Saborear) que visa divulgar a música e os sabores africanos como meio de desenvolver as actividades económicas do bairro e de promover a sua especificidade cultural e étnica.
Depois de visitarmos algumas das instalações da ACMJ (biblioteca, sala de informática, sala de convívio e estúdio de gravação), sempre guiados pelo Claudino, colaborador na área de apoio infantil, fomos brindados com um espectáculo do Grupo de Batuque Finka-Pé (que foi criado em 1988 no âmbito das actividades desenvolvidas pela ACMJ) ao qual se juntou um outro grupo de batuque, da Cidade Velha, que por feliz coincidência estava presente neste dia na Cova da Moura.
O batuque é um dos géneros mais representativos do património musical da ilha de Santiago, havendo referências datadas do século XVII.
Através do batuque as mulheres, dançando e cantando, vão exprimindo os medos e as esperanças, vão dando conselhos, vão contando histórias e vão reflectindo sobre o seu papel de mulher.
Foi um momento de rara força e beleza que a todos contagiou pelo ritmo e pelo canto que sai pela boca vindo do coração. Foi o final adequado para um domingo diferente nas nossas vidas.
Finalizamos com excertos do poema “Na Cova da Moura” da autoria de Gisela Ramos Rosa.

Na Cova da Moura
há crianças há mães há pais há avós
há crioulo nas vozes que ecoam como cânticos
há sorrisos que esperam peregrinos
há mãos que labutam na espessura do dia da noite
há dedos gretados pela árdua matéria

Na Cova da Moura
há claros gritos sufocados à nascença
há desejo da terra firme lá longe
na distância que o mar separa e o tempo une
no concreto chão onde se mora
há horas em que só o silêncio chora

(para um conhecimento mais completo das actividade da ACMJ sugerimos a consulta ao seu site: http://www.moinhodajuventude.pt/)