sexta-feira, abril 21, 2017

O Concurso fotográfico “Um dia no Alentejo”

Na reunião de Coordenação do dia 1 de Abril, realizada em casa da Teresa, foi feita a votação por escrutínio secreto (mas sem a presença de um representante do Governo Civil…) para escolher a fotografia vencedora do Concurso Fotográfico “Um dia no Alentejo”, cujo tema era exactamente a nossa visita ao Alentejo do passado dia 25 de Março.

Concorreram um total de 8 fotógrafos e a classificação ficou assim ordenada:
 1º Lugar – Zé Carlos

 2º Lugar ex aequo – Alberto

 2º Lugar ex aequo – Marina

 4º Lugar ex aequo – Albano

 4º Lugar ex aequo – Fernanda

 4º Lugar ex aequo – Hirondina

 4º Lugar ex aequo – Jorge

4º Lugar ex aequo - Teresa

Uma jornada alentejana, com barros, mármores e uma pausa gastronómica e espiritual no Convento de S. Paulo


O dia 25 de Março começou bem cedo. Pelas sete e meia da madrugada o autocarro da Barraqueiro, levando a bordo uns ensonados viajantes, arrancou da Av. Do Colégio Militar, deixando para trás uma Lisboa ainda adormecida, e esgueirou-se velozmente pela autoestrada a caminho do nosso primeiro destino: A típica vila do Redondo, terra natal dos manos Janita e Vitorino.
Pouco passava das dez horas quando chegámos ao Redondo, e nos dirigimos ao Museu do Barro, onde nos esperava um guia bem-disposto, que com a típica ironia alentejana nos conduziu, como “baratas tontas” pelas diversas salas deste interessante museu, inaugurado em 2009, que pretende contribuir para a preservação e a revitalização da olaria tradicional do Redondo.
Foi uma visita descontraída e enriquecedora, que permitiu um conhecimento mais aprofundado de uma actividade, que constitui ainda uma das tradições mais vincadas do concelho.
De seguida fomos até à Olaria Jeremias, onde tivemos a oportunidade de, para além de apreciar e de adquirir algumas das peças aqui fabricadas, assistir ao trabalho do Mestre Oleiro, Prudêncio Jeremias, que nos fez uma demonstração ao vivo desta arte executada, como manda a tradição, numa roda manual.
Descendente de uma família de oleiros do Redondo, Prudêncio Jeremias cresceu entre os objectos de barro, na olaria que foi da sua avó e que mais tarde passou para seu pai, Mestre José Jeremias. Aqui aprendeu as técnicas e os truques para o fabrico destas bonitas peças, dando assim continuidade a um saber ancestral que é uma das imagens de marca do concelho.
Entretanto a hora do almoço chegou, e rumámos até à Serra da Ossa, onde numa das suas encostas se situa o Convento de São Paulo, um impressionante conjunto arquitectónico e um lugar mágico pela extraordinária paisagem que o envolve, pela beleza dos seus edifícios e pela qualidade das suas artes decorativas, nas quais sobressaem os excelentes painéis de azulejos que decoram grande parte das paredes do convento. Compostos por mais de 54 mil peças, estes painéis são considerados como a mais importante colecção de azulejos do mundo.
Fundado por frades eremitas, os monges da ordem de Jesus Cristo da Pobre Vida, no início do século XII, durante o reinado de D. Sancho I, este conjunto arquitectónico, hoje classificado como monumento nacional, em resultado da extinção das ordens religiosas em 1834, passou por uma fase de grande decadência, agravada por acções de saque e de vandalismo, que o transformaram numa verdadeira ruína.
A aquisição pela família Leotte em 1870, da Herdade da Ossa, onde se incluíam as ruínas do convento, foi decisiva para a recuperação do património, que veio a sofrer ao longo do tempo importantes obras de adaptação e restauro, tendo sido convertido em Hotel, em 1993, por vontade dos seus actuais proprietários, a Fundação Henrique Leotte.
O almoço decorreu numa das bonitas salas do convento, sendo de destacar a qualidade da doçaria, servida à sobremesa, que teve um efeito deveras devastador nas infelizes dietas de alguns dos comensais…
Por uma feliz coincidência, o nosso companheiro de viagem José Marques, à chegada ao convento cruzou-se com um dos membros da família Leotte, no qual reconheceu um amigo dos tempos da juventude, e assim, excepcionalmente, foi-nos facultada uma visita guiada por um funcionário do hotel, a todo o complexo, incluindo os jardins e a parte reservada aos hóspedes.
Tivemos então o privilégio de apreciar em toda a sua extensão a beleza deste conjunto arquitectónico, que nos impressionou pela excelência dos seus painéis de azulejos, pela calma que se respira e pela harmonia entre o património construído e toda a envolvente natural que o abraça.
Depois desta pausa retemperadora, para os estômagos e os espíritos, fomos até Borba, para o nosso último objectivo: os famosos mármores desta região alentejana.
Esta chamada Zona dos Mármores, que se insere no Anticlinal de Estremoz-Borba-Vila Viçosa, constitui um importante centro da actividade extractiva desta rocha ornamental. Para os menos versados em geologia, diremos que um anticlinal é uma dobra convexa na direcção dos estratos mais recentes, que assim ficam à superfície. Este Anticlinal de Estremoz-Borba-Vila Viçosa, situa-se no Alentejo, mais propriamente no distrito de Évora, e possui forma elíptica com cerca de 42 km de comprimento e 8 km de largura, começando em Sousel e acabando no Alandroal.
Os 27 km2 onde o mármore se concentra, constituem um local de forte extracção e de grande concentração de pedreiras, com um impacto ambiental significativo, onde a pedra é acumulada em agressivas escombreiras, que coexistem com a planície alentejana e os extensos olivais.
À nossa espera, para a visita guiada a uma das pedreiras, estavam o Luís Martins guia da rota “Tons de Mármore”, e o técnico de turismo da Câmara Municipal de Borba, João Paulo.
Acompanhados das preciosas explicações do Luís Martins, iniciámos a visita à Pedreira Plácido Simões, que começou a ser explorada em 1987, possui actualmente 84 m de fundo, com 14 pisos e uma área total de 40.000 metros quadrados. Os tipos de mármore, predominantes desta unidade, são os cremes e várias tonalidades cor-de-rosa.
A paisagem da pedreira é de facto impressionante, com as paredes brancas e rosa, que caiem na vertical, do alto dos seus quase noventa metros, sobre um espelho de água de um intenso verde.
A rota “Tons de Mármore”, é um projecto que pretende dar a conhecer o Património Cultural e Industrial do Alentejo através do riquíssimo espólio marmóreo do Anticlinal de Estremoz. Ela tem como base um conjunto de parcerias com entidades, industriais e comerciantes locais, contribuindo desta forma para o desenvolvimento sustentado da região.
Finalizada a visita à pedreira, rumámos até ao centro de Borba, onde guiados pelo João Paulo, deambulámos pelo Parque Temático de Borba terminando o percurso na Fonte das Bicas, considerado o ex-libris de Borba. Este monumento foi construído por ordem da Câmara Municipal de Borba, entre 1781 e 1785, com o projeto do Engenheiro Militar José Álvares de Barros, que se inspirou nos desenhos que Carlos Mardel fizera em 1752 para as fontes da cidade de Lisboa.
Antes do regresso a Lisboa, ainda houve tempo para uma visita “vinícola-cultural” à loja da Adega Cooperativa de Borba, onde tivemos oportunidade de proceder ao respectivo abastecimento líquido.
Foi um dia excelente, no qual pudemos conhecer algumas das preciosidades desta região alentejana, que não nos deixa de surpreender, sempre que temos a oportunidade de aqui voltar.

Como complemento sugerimos este vídeo do programa “Visita Guiada” da Paula Moura Pinheiro, sobre o Convento de S. Paulo.