sábado, junho 06, 2020

25 Abril 74 - as memórias da Fátima




Tinha 23 anos, havia casado há cerca de 6 meses.
Casámos em Setembro e no início de Outubro partimos de comboio para o Luxemburgo com ideia de lá ficar. Cheia de ilusões na bagagem e vontade de trabalhar, eu já lá tinha estado, o meu irmão que era refratário, vivia lá e iria dar- nos apoio.
Fomos como turistas e por lá andámos 3 meses em vacances. Luxemburgo e sul de França. Em Beziers estivemos com o Carlos, primo do Jorge.
A nossa ideia era mesmo ficar por lá, mas como estávamos de férias e “lua-de-mel” viemos a Portugal perto do Natal desse ano (73).
A carrinha que utilizamos de regresso era tão velha que lhe demos o nome de Gertrudes, como gozo à esposa do Américo Tomás. Regressámos na companhia de um casal donos da dita. Quis o destino que ficássemos por cá. Em Janeiro de 74 eu e o Jorge começámos a trabalhar e o sonho da emigração desapareceu...
24.4.74
Era uma manhã normal senão fosse acordar ao som de música militar.
A seguir à marcha militar, ouve-se a voz a pedir para ficarmos em casa, apercebi-me que algo estava acontecer no país.
Nunca mais esqueci a música, seguida da voz “Daqui Movimento das Forças Armadas...” penso que nem eu, nem ninguém!
O Jorge nem falava de excitação e saiu a correr para a paragem da camioneta!
Eu trabalhava num escritório de cinemas no Marquês de Pombal, para lá fui também!
Na camioneta olhávamos uns para os outros com cara de caso! Apenas falava com a companheira de viagem, muito excitadas e curiosas, falávamos baixinho... Chegada ao escritório já se sabia mais qualquer coisita.
O meu Chefe tinha ideais progressistas (soube mais tarde que era militante do PCP), nunca o demonstrou pois era uma pessoa muito reservada e educada. Ótimo Chefe, ótima pessoa.
Claro que não ficamos no escritório, fomos para a rua, do Jorge nada, passei o resto do dia no centro de Lisboa a ouvir e ver o desenrolar dos acontecimentos! Avenida, Restauradores, Rossio, Chiado. Etc.
Não me vou repetir, pois quase tudo já foi dito.
Tenho uma bala que me foi oferecida por um soldado.
Fátima Neves