quinta-feira, maio 07, 2020

25 Abril 74 - as memórias da Amparo



Contava na altura 9 anos. Estava na 4ª classe. A memória mais viva que tenho é que a professora, no dia 25 ou não chegou ou chegou bastante atrasada à escola, para onde se dirigia diariamente de Mirandela. Nos dias seguintes quase não dava aulas pois estava constantemente no carro a ouvir as notícias pelo rádio. Julgo que o canto do hino nacional, comum ao sábado de manhã, passou a ser substituído pela Grândola Vila Morena e também por Uma Papoila.
Lá por casa o rádio estava constantemente ligado e recordo-me que o meu padrinho lhe prestava especial atenção. Eu, claro, não percebia o que se passava, mas recordo que sentia algum receio. Medo mesmo sentia quando vários camiões do exército passavam pelas ruas da aldeia...aquelas fardas...aqueles capacetes...as armas...ai que medo, rapidamente fugia para casa perfeitamente assustada.
Depois tudo entrou na anormalidade do pós-revolução...entrada no, então, ciclo preparatório...instabilidade lectiva...não se sabia quando abriam as aulas. Marcava-se um dia, lá íamos nós mas eramos mandados para casa pois ainda não era nesse dia e, provavelmente só para a semana...as disciplinas mudavam constantemente...os professores mudavam ao longo do ano letivo e faltavam a muitas aulas... nós, os alunos, ficávamos contentes porque tínhamos mais um furo para as brincadeiras, a autoridade com que olhávamos os professores mudou...o modo como os professores exerciam a autoridade também mudou, que oscilava entre o autoritarismo de uns e o laxismo de outros...no final do ano, como não tinham sido leccionadas o número de aulas suficientes e, inclusive, havia disciplinas que ao longo do ano letivo nunca tiveram professor, os alunos passavam "administrativamente" a essas disciplinas... enfim...o início de uma nova forma de estar...
Beijinhos e bom 25 Abril