Num sábado
cinzento o Atrium foi até Sintra para descobrir os encantos do Palácio Biester,
um belo exemplar romântico dos finais do século XIX, da autoria do arquiteto
José Luiz Monteiro, e que foi residência de Frederico Biester e de Amélia de
Freitas Chamiço Biester.O palácio
está situado no meio de um exuberante parque de seis hectares, assinado pelo
paisagista François Nogré, implantado na encosta e desenhado em pequenos
patamares, aproveitando a linha de água que percorre toda a propriedade e que dá
origem a vários tanques, lagos e pequenas cascatas.
Aqui pudemos
apreciar espécies botânicas oriundas dos quatro cantos do mundo (cameleiras da
China e do Japão, faias verdes e vermelhas da Europa Central, acácias da
Austrália, abetos norte-americanos), além das vistas de espetaculares
miradouros.
Fomos
recebidos pelo Eduardo Laia, historiador e especialista em Arte e Património,
que nos guiou numa interessante visita pelo palácio e pelo parque.
Numa breve
descrição, diremos que o edifício constitui uma confluência de estilos
artísticos, do barroco inglês ao neogótico, apresentando elementos de arte
nova, fazendo dele uma autêntica obra de arte. No rés do chão encontramos
a entrada principal, o escritório, a sala de jantar, uma sala de bilhar, um
salão, a cozinha, a arrecadação e a casa de jantar dos criados. No primeiro
andar estão os quartos e as casas de banho.
Os
interiores são da autoria do prestigiado artista italiano Luigi Manini,
escolhido pessoalmente por José Luís Monteiro. As paredes de elementos
geométricos, os tetos altos em madeira, os azulejos e outros elementos decorativos
contribuem para um efeito cenográfico digno de destaque. Tal como no
período barroco, a habitação está repleta de detalhes exuberantes, dos
quais destacaremos os entalhes em madeira da autoria do mestre entalhador
Leandro de Sousa Braga, e as duas lareiras da casa, adornadas com azulejos de
Bordallo Pinheiro.
Aqui uma
especial referência para a Capela Neogótica, situada no piso superior, que é
sem dúvida uma das áreas mais espetaculares do palácio, profundamente ligada à
herança deixada pela Ordem dos Templários.
Toda a sua
decoração se reveste de um misticismo profundo e complexo, onde arte e religião
se encontram, num percurso de temas tão intrigantes como os Cavaleiros
Templários, Roma e a Cristandade, e até de ligações esotéricas às esferas do
Ocultismo. Destaque ainda para os vitrais, que transmitem um ambiente de
cores espetacular.
Uma
curiosidade “tecnológica” que pudemos apreciar, é o elevador com capacidade
para quatro pessoas, montado pela equipa de Mesnier du Ponsard (discípulo de
Gustave Eiffel e autor do elevador de Santa Justa). Apesar de constituir um
avanço técnico para a época, a forma como o aparelho funcionava tinha pouco de
sofisticado, pois era acionado por uma manivela existente na cave, movida pela
força dos braços de dois homens.
O almoço
realizou-se com recurso à Casa de Chá, a funcionar no Parque, que ficou
literalmente entupida com tanta procura de bens alimentares, demasiado exigente
para a sua dimensão. Espalhamo-nos pelas esplanadas, uma delas dentro da
estufa, e usufruímos uma refeição ligeira bem condimentada pela beleza do
local.
Antes de
abandonar o parque, lembremos que o Palácio Biester serviu de cenário ao filme
“A Nona Porta”, de Roman Polanski, com o ator Johnny Depp, filme baseado no
romance “Clube de Dumas” de Arturo Pérez-Reverte.
Após o
repasto, o grupo regressou ao bus, que nos tinha transportado de Lisboa, e
rumou até ao Palácio de Monserrate, a última visita do dia.
Este palácio
foi projetado pelos arquitetos Thomas James Knowles (pai e filho) e
construído em 1858, por ordem de Sir Francis Cook, visconde de
Monserrate.
Na construção
dos jardins, o aproveitamento das particularidades microclimáticas da Serra de
Sintra, deu origem a um magnífico parque, no qual se podem observar, ainda
hoje, mais de 3.000 espécies exóticas.
O palácio
foi a residência de Verão da família Cook, e construído sobre as ruínas da
mansão neogótica edificada pelo comerciante inglês Gerard de Visme, o
responsável pelo primeiro palácio de Monserrate.
É um
exemplar do Romantismo português, ao lado de outros palácios na região, como o
Palácio da Pena. Atualmente encontra-se classificado como Imóvel de Interesse
Público desde 1978.
Refira-se
que em 1809, o Palácio de Monserrate foi visitado por Lord Byron, poeta
anglo-escocês e figura grada do Movimento Romântico. O aspeto
sublime da propriedade foi fonte de inspiração para o poeta, na sua obra “A
Peregrinação de Childe Harold”, tornando-se visita
obrigatória para viajantes estrangeiros, mas sobretudo para ingleses,
que o descreveram em inúmeros relatos de viagens e o ilustraram em gravuras.
Era já
entardecer quando deixámos a romântica Sintra e nos pusemos a caminho da
capital.