sexta-feira, março 24, 2023

Uma sessão sobre D. Pedro IV de Portugal (Pedro I do Brasil) e a independência do Brasil

Foi no passado dia 4 de março que o Atrium assistiu a uma sessão sobre Pedro d’Alcântara de Bragança e o seu papel na independência do Brasil, sessão que foi orientada pelo nosso amigo João Azevedo.

Do texto de apoio à sessão, da autoria do João Azevedo, extraímos as seguintes passagens:

“Pedro d´Alcântara de Bragança, Pedro I no Brasil e Pedro IV em Portugal, viveu e influenciou uma época vibrante da história do mundo ocidental e das duas nações que sentia como pátrias, uma pelo nascimento e pela herança histórica, outra pela identificação e cumplicidade com o nascimento de uma nova realidade, em ambas com o desígnio de transmitir um legado.” (…)

“A independência dos Estados Unidos da América, a Revolução Francesa, a afirmação do liberalismo político e, sobretudo, a tomada de consciência de novas realidades nacionais foram a génese dos movimentos independentistas da América do Sul, quer nas províncias espanholas quer no Brasil.

Como fatores de diferenciação no processo brasileiro, há que reconhecer a forma diversa da ocupação francesa da península ibérica, no caso de Portugal com a deslocação da corte para o Brasil, a unidade territorial e política brasileira que a presença do monarca garantiu e, ainda, o facto de as elites brasileiras terem enveredado por um processo de continuidade baseado na figura de um imperador que, assumindo a rotura com Portugal, dava um sentido de legitimidade e continuidade a essa rotura.” (…)

“Figura carismática da afirmação da nação brasileira, Pedro foi também um participante ativo e empenhado na instituição de uma nova realidade política em Portugal, abraçando ideais de liberdade.”

 

Este quadro, “Independência ou Morte”, também conhecido como “O Grito do Ipiranga”, é um quadro do artista Pedro Américo de Figueiredo e Mello. Datado de 1888, exibe uma representação de Dom Pedro I proclamando a independência do Brasil. Feito sob encomenda, encontra-se atualmente no Museu Paulista (Museu do Ipiranga) e pode ser classificada como uma obra do Neoclassicismo. A cena retratada é a idealização de um facto histórico, o momento em que Dom Pedro I declara que o Brasil já não era mais colónia de Portugal.

Pela romântica Sintra descobrindo o Palácio Biester, com uma saltada ao Palácio de Monserrate

Num sábado cinzento o Atrium foi até Sintra para descobrir os encantos do Palácio Biester, um belo exemplar romântico dos finais do século XIX, da autoria do arquiteto José Luiz Monteiro, e que foi residência de Frederico Biester e de Amélia de Freitas Chamiço Biester.

O palácio está situado no meio de um exuberante parque de seis hectares, assinado pelo paisagista François Nogré, implantado na encosta e desenhado em pequenos patamares, aproveitando a linha de água que percorre toda a propriedade e que dá origem a vários tanques, lagos e pequenas cascatas.

Aqui pudemos apreciar espécies botânicas oriundas dos quatro cantos do mundo (cameleiras da China e do Japão, faias verdes e vermelhas da Europa Central, acácias da Austrália, abetos norte-americanos), além das vistas de espetaculares miradouros.

Fomos recebidos pelo Eduardo Laia, historiador e especialista em Arte e Património, que nos guiou numa interessante visita pelo palácio e pelo parque.

Numa breve descrição, diremos que o edifício constitui uma confluência de estilos artísticos, do barroco inglês ao neogótico, apresentando elementos de arte nova, fazendo dele uma autêntica obra de arte. No rés do chão encontramos a entrada principal, o escritório, a sala de jantar, uma sala de bilhar, um salão, a cozinha, a arrecadação e a casa de jantar dos criados. No primeiro andar estão os quartos e as casas de banho.

Os interiores são da autoria do prestigiado artista italiano Luigi Manini, escolhido pessoalmente por José Luís Monteiro. As paredes de elementos geométricos, os tetos altos em madeira, os azulejos e outros elementos decorativos contribuem para um efeito cenográfico digno de destaque. Tal como no período barroco, a habitação está repleta de detalhes exuberantes, dos quais destacaremos os entalhes em madeira da autoria do mestre entalhador Leandro de Sousa Braga, e as duas lareiras da casa, adornadas com azulejos de Bordallo Pinheiro.

Aqui uma especial referência para a Capela Neogótica, situada no piso superior, que é sem dúvida uma das áreas mais espetaculares do palácio, profundamente ligada à herança deixada pela Ordem dos Templários.

Toda a sua decoração se reveste de um misticismo profundo e complexo, onde arte e religião se encontram, num percurso de temas tão intrigantes como os Cavaleiros Templários, Roma e a Cristandade, e até de ligações esotéricas às esferas do Ocultismo. Destaque ainda para os vitrais, que transmitem um ambiente de cores espetacular.

Uma curiosidade “tecnológica” que pudemos apreciar, é o elevador com capacidade para quatro pessoas, montado pela equipa de Mesnier du Ponsard (discípulo de Gustave Eiffel e autor do elevador de Santa Justa). Apesar de constituir um avanço técnico para a época, a forma como o aparelho funcionava tinha pouco de sofisticado, pois era acionado por uma manivela existente na cave, movida pela força dos braços de dois homens.

O almoço realizou-se com recurso à Casa de Chá, a funcionar no Parque, que ficou literalmente entupida com tanta procura de bens alimentares, demasiado exigente para a sua dimensão. Espalhamo-nos pelas esplanadas, uma delas dentro da estufa, e usufruímos uma refeição ligeira bem condimentada pela beleza do local.

Antes de abandonar o parque, lembremos que o Palácio Biester serviu de cenário ao filme “A Nona Porta”, de Roman Polanski, com o ator Johnny Depp, filme baseado no romance “Clube de Dumas” de Arturo Pérez-Reverte.

Após o repasto, o grupo regressou ao bus, que nos tinha transportado de Lisboa, e rumou até ao Palácio de Monserrate, a última visita do dia.

Este palácio foi projetado pelos arquitetos Thomas James Knowles (pai e filho) e construído em 1858, por ordem de Sir Francis Cook, visconde de Monserrate. 

Na construção dos jardins, o aproveitamento das particularidades microclimáticas da Serra de Sintra, deu origem a um magnífico parque, no qual se podem observar, ainda hoje, mais de 3.000 espécies exóticas.

O palácio foi a residência de Verão da família Cook, e construído sobre as ruínas da mansão neogótica edificada pelo comerciante inglês Gerard de Visme, o responsável pelo primeiro palácio de Monserrate.

É um exemplar do Romantismo português, ao lado de outros palácios na região, como o Palácio da Pena. Atualmente encontra-se classificado como Imóvel de Interesse Público desde 1978.

Refira-se que em 1809, o Palácio de Monserrate foi visitado por Lord Byron, poeta anglo-escocês e figura grada do Movimento Romântico.  O aspeto sublime da propriedade foi fonte de inspiração para o poeta, na sua obra “A Peregrinação de Childe Harold”, tornando-se visita obrigatória para viajantes estrangeiros, mas sobretudo para ingleses, que o descreveram em inúmeros relatos de viagens e o ilustraram em gravuras.

Era já entardecer quando deixámos a romântica Sintra e nos pusemos a caminho da capital.