segunda-feira, junho 14, 2010

Passeio no Tejo a partir de Azambuja à descoberta de avieiros, mouchões e da natureza

No dia 5 de Junho partiram Atriunistas e amigos à descoberta do Tejo no Varino Vala Real partindo do cais na vala Real, junto a um palácio em ruínas onde a família real passava temporadas de lazer.
A embarcação é pertença da Câmara Municipal de Azambuja e após a recolha do ferro e desfeita a amarração fez-se ao Tejo por canais e zonas que a ainda maré alta permitiu percorrer.
A luz do sol estava na sua plenitude e a temperatura de 25º C era magnífica para se estar junto à águas sob a orientação do mestre José Manuel, antigo lobo do mar (43 anos na Marinha de Guerra) e coadjuvado pelo Sr. Tomás , marinheiro de água doce e nascido nas margens do Tejo.
O manancial de água doce é uma bênção para as lezírias do Tejo que recebem água do rio por postos de bombagem. É por essa razão e pelo carácter aluvial destas terras que a fertilidade é grande e existe uma cultura extensiva de tomate, milho e melancia.
As águas são férteis em pescado: a fataça, a saboga, o sável, a lampreia e a enguia. As enguias já começam a rarear devido à pesca furtiva das muito jovens crias.
As fataças saltavam em redor do barco mas não houve ninguém que as conseguisse fotografar.
E a viagem prosseguiu entre os tons verdes do rio e das margens e o azul reluzente do céu.
Margem de salgueirais aqui, canaviais de canas de pequeno porte ali. Várias espécies de aves foram identificadas: patos, garças reais, garças brancas, águias do rio, etc.
Passou-se junto ao mouchão da Casa Branca e avistaram-se potros (raças: lusitano, árabe, sorraia) a viverem em estado selvagem e são retirados dali após os 3 a 4 anos de idade para serem acasalados com éguas que também terão crescido em estado de selvagem noutros locais.
Ainda nas margens e em mouchões se observou gado bovino, éguas e um turismo de habitação.
Dos avieiros apenas se notaram algumas bóias artesanais que suspenderiam redes para a pesca.
Os avieiros foram imigrantes que vieram, a partir de meados do século 19, de Gandara e de Vieira de Leiria, entraram pelo Tejo (alguns também pelo Sado) e fixaram-se junto ao rio, vivendo da pesca. Fugiam da fúria do mar e viviam inicialmente nos barcos passando depois a construir casas palafíticas (em cima de estacas) junto a terra.
Eram comunidades muito trabalhadoras e fechadas e que mal conviviam com a outra população sendo, por estas mal vistos. Actualmente em todo o Tejo existem cerca de 10 aldeias avieiras esquecidas e em estado de degradação.
Os avieiros já serão poucos a viverem como antigamente tendo adoptado outros modos de vida.
Sabe-se que há esforços para a recuperação de algumas povoações e um programa QREN, liderado pelo Politécnico de Santarém para criar um novo destino turístico em aldeias avieiras.
Alves Redol escreveu o romance Os Avieiros publicado em 1942 vivendo com eles nas aldeias e acompanhando-os nos trabalhos da pesca.

No passeio pelo Tejo viram-se ainda pequenas aldeias nas margens e a vila de Valado do Ribatejo pertencente ao município do Cartaxo.
Foi ainda visível, entre outros, uma estação de captação de águas da Epal e a ponte rodo-ferroviária entre Muge e porto de Muge .
À chegada à aldeia de Escaropim deparámo-nos com instalações portuárias edificadas recentemente assim como construções palafíticas que servem de guarda os utensílios de pesca.
Foi também visitada uma pequena casa palafítica.
O almoço no restaurante Escaropim com uma ementa aceitável de cozinha regional foi considerado bom com especial destaque para as sobremesas.
O regresso ao cais de partida foi feito em amena cavaqueira e feita a revisão a alguns pontos da paisagem tendo a bênção da imensidão da água, da luz intensa, de uma pequena brisa e de uma temperatura adequada ao fim da primavera. Os urbanitas saíram deste passeio bem descontraídos após a imersão
na natureza.