domingo, junho 24, 2012

Um encontro com a ARA e a resistência armada à ditadura, conduzido por Raimundo Narciso, um dos seus principais responsáveis.

Estamos no final de Outubro do ano de 1970. O ditador Salazar deixara de pertencer ao mundo dos vivos em Julho desse ano, estava-se em plena era marcelista, que substituíra a do velho de Stª Comba Dão, em Setembro de 1968.   
As vagas esperanças de uma abertura do regime tinham-se evaporado. A repressão continuava a abater-se sobre todos aqueles que ousavam levantar a voz contra a ordem vigente. Os estudantes de Coimbra tinham experimentado a dureza dessa repressão na crise académica de Abril de 1969 que culminou no encerramento da Universidade e na perseguição e prisão de muitos estudantes, em resposta a uma greve aos exames.
Os jovens concentravam a sua luta num ponto que os atingia directamente: A Guerra Colonial, que já durava há mais de 9 anos. Para além da posição de repúdio por uma política que negava o mais elementar direito de independência aos povos das colónias, a mobilização forçada para uma guerra injusta, com a qual discordavam, era uma ameaça real às suas vidas. Ao cruzarem as portas dos quartéis para iniciarem o serviço militar, nascia neles o sentimento de que as suas vidas deixavam de lhes pertencer. Os projectos de vida quedavam-se desfeitos, o futuro tornava-se incerto, as alternativas eram desesperantes: ou a participação na guerra colonial, com todos os seus horrores, ou o exílio para França, sem data à vista para o regresso a casa.
É neste pano de fundo que na noite do dia 26 de Outubro, a chata Catraia III navega cautelosamente, protegida pela escuridão, na direcção da doca de Alcântara. No seu bojo uma carga preciosa, o engenho explosivo que iria assinalar a primeira acção armada da Acção Revolucionária Armada (ARA), danificando gravemente o navio de carga Cunene, utilizado para o transporte de materiais para as colónias portuguesas, e infligindo um rude golpe no regime, não só pelos estragos materiais causados, mas também, e sobretudo, pelo impacto na opinião pública e pelo fortalecimento da luta contra a criminosa Guerra Colonial.
Outras acções se seguiriam, entre 1970 e 73, todas elas tendo como alvo o aparelho repressivo e militar do regime fascista. Pela sua importância, espectacularidade e impacto político e militar, destacamos a sabotagem num hangar da Base Aérea de Tancos, que na madrugada do dia 8 de Março de 1971 atingiu 28 aviões ou helicópteros, dos quais 13 foram completamente destruídos.
Tudo isto nos foi recordado ao vivo e na primeira pessoa, pelo principal responsável operacional da ARA, Raimundo Narciso, numa sessão realizada no passado dia 20 de Junho, numa sala cedida ao Atrium pela Junta de Freguesia de Carnide.
Foi uma interessante conversa na qual o nosso convidado, com uma tocante simplicidade e um grande poder de comunicação, nos transportou aos tempos difíceis da ditadura e da resistência e nos relatou com grande riqueza de pormenores as acções da ARA, as dificuldades, a repressão, os medos e a coragem daqueles que, arriscando as suas vidas, lutaram pela liberdade através das acções armadas.

Um animado convívio na Costa da Caparica que juntou sardinhas com recordações do Uzbequistão e que terminou ao ritmo de umas alegres sevilhanas

No passado sábado, 16 de Junho, antecipámos a chegada do Verão, com um convívio na casa da Maria Manuela (Manecas), na Costa da Caparica. Depois de uma caminhada até ao largo areal da praia de S. João, onde nos refrescámos com a brisa fresca do mar, atacámos uma sardinhada regada com um bom tinto e acompanhada de uma frugal salada.
A tarde foi preenchida com a projecção de fotos sobre a recente viagem efectuada ao Uzbequistão.
No final da festa, num improviso extraprograma, fomos brindados com a exibição de umas graciosas sevilhanas, dançadas com muito salero, pelo casal Hirondina e Zé Maria, e de uns espontâneos dançarinos de tango.
A rematar estas linhas, dando-lhes o cunho artístico adequado, recordamos o poema “Os dias de Verão” da Sophia de Mello Breyner.
Os dias de verão vastos como um reino
Cintilantes de areia e maré lisa
Os quartos apuram seu fresco de penumbra
Irmão do lírio e da concha é nosso corpo.
Tempo é de repouso e festa
O instante é completo como um fruto
Irmão do universo é nosso corpo.