quarta-feira, setembro 22, 2010

Viagem ao Canadá e EUA – 4. Cidade de Ottawa

Já mais rotinados nas tarefas do partir e do chegar, do fazer e do desfazer as malas, lá iniciámos o dia 6 da viagem, partindo rumo à cidade de Ottawa, capital do país, distante 200 quilómetros de Montreal, que agora deixamos.
A chegada verificou-se cedo, a meio da manhã de um bonito dia de sol. A primeira paragem foi no centro da cidade frente ao Museu das Belas Artes do Canadá, um bonito edifício de granito e vidro, por si só uma obra de arte, inaugurado em 1988.
No exterior do museu presenciamos uma cerimónia de praxe académica, da qual eram objecto uns pobres caloiros (hoje era o primeiro dia de aulas...), que se desenrolava curiosamente sob a sombra protectora de uma gigantesca aranha de bronze carregando no seu ventre 26 ovos de mármore branco. A escultura é da autoria de Luise Bourgeois e o seu título é “Maman” (por quem bem poderiam gritar os seviciados caloiros...).
Frente ao museu, a Basílica de Notre-Dame, construída em 1839. Numa visita não muito alongada podemos apreciar a sua rica talha e o enorme órgão de tubos.
Retomámos o nosso autobus e passamos pela zona das embaixadas antes de uma nova paragem num miradouro sobre o rio Ottawa e a cidade vizinha de Hull, na margem oposta, onde se destacava a silhueta do Museu Canadiano das Civilizações, que visitaríamos da parte da tarde.
Regressámos ao coração da cidade para uma paragem no centro do poder do país desde 1855: O Parlamento Canadiano. Trata-se de um interessante conjunto de edifícios neogóticos (que nos fazem lembrar os da distante Inglaterra), que alberga a Câmara dos Comuns e o Senado.
Na alameda principal, homenageando a Confederação do Canadá, um monumento de pedra circular contendo os brasões de todas as províncias e territórios no qual, sob uma cortina de água, arde uma chama acesa em 1967 pelo então Primeiro Ministro Pierce.
Percorrendo os seus jardins bem tratados, deparamos com um sino de bronze danificado, salvo do incêndio que em 1916 destruiu a torre do relógio e alguns edifícios do Parlamento. A placa evocativa descreve esse acontecimento de uma forma poética. “As doze badaladas do velho relógio tocando à meia-noite soaram através de um mar de chamas como se uma voz humana se fizesse ouvir...”.
Ainda nos jardins do Parlamento, um outro apontamento que retivemos foi o conjunto escultórico evocando a luta das mulheres pela sua emancipação. “Women are persons” ou “Les femmes sont des personnes” (aqui na capital deste país multicultural não queremos ser acusados de prejudicar esse equilíbrio...).
Na altura pensámos como seria bom que esta óbvia constatação fosse ouvida e praticada em todos os cantos deste nosso mundo, onde a mulher ainda é tratada como propriedade dos seus senhores, em nome de princípios totalmente inaceitáveis.
Após uma pausa para o almoço no restaurante “Fish Market”, cuja ementa de Vieiras (?) não convenceu a generalidade dos viajantes, a parte da tarde foi ocupada com a visita guiada pelo Guidorrizi ao Museu Canadiano das Civilizações, situado na cidade de Hull.
Neste interessante museu conta-se, de uma forma viva, a história do Canadá nos últimos 1000 anos, desde a chegada dos Vikings até aos nossos dias. De destacar a riquíssima colecção de totens das tribos índias que habitavam estas terras.
Encerrámos o dia a assistir a uma projecção de imagens e sons nas paredes do edifício do Parlamento. Foi um belo espectáculo, no qual, acompanhando a impressão produzida pela beleza das imagens, emergiu uma total sintonia com o conteúdo da mensagem transmitida: multiculturalismo; respeito pela diferença; luta pela paz; defesa do ambiente.
O escuro da noite realçava as cores e as figuras e libertava o nosso espírito para uma viagem em direcção a um mundo melhor. Foi um bom final de dia!



Viagem ao Canadá e EUA – 3. Cidade de Montreal

No alvor do dia 5 abandonámos a Cidade do Quebeque no já habitual horário das 8h 30m, para percorrer os cerca de 300 quilómetros que nos separam do terceiro objectivo da viagem, a cidade de Montreal.
De registar a nossa passagem pela Universidade de Laval, cujas origens remontam a 1663, tendo sido a primeira universidade francófona a ser criada no continente americano. A história desta universidade confunde-se com a da província do Quebeque, ela formou a elite intelectual do Quebeque francófono e a sua influência ainda é hoje marcante.
A viagem decorreu sem nada de importante a assinalar e aproveitámos para recolher um conjunto de informações sobre a realidade canadiana, em conversa com o nosso guia Guidorizzi, que se mostrou bem documentado nesta matéria. Reproduzimos algumas delas: Na actual estrutura política o Chefe de Estado é a Rainha de Inglaterra a qual é representada no país por um Governador-Geral, nomeado para mandatos de 5 anos. Presentemente o cargo é ocupado por uma senhora de origem haitiana. O cargo é de natureza exclusivamente protocolar, e na constituição está previsto a possibilidade da sua extinção. Recorde-se que o Canadá pertence à Commonwealth.
O Chefe do Governo é o Primeiro-ministro, leader do partido mais votado nas eleições para o Parlamento Federal (Câmara dos Comuns). Para além da Câmara dos Comuns (Poder Legislativo) existe o Senado (Poder Fiscalizador) cujos membros são de nomeação vitalícia.
A idade geral para a reforma é de 65 anos, havendo excepções para profissões de desgaste rápido. O limiar de pobreza está fixado em $17.000 anuais, e abaixo desse valor a família pode beneficiar de ajuda financeira e tem acesso à saúde e à educação totalmente grátis.
Toda a medicina é convencionada, à excepção da cirurgia plástica estética e dos dentistas. Existem seguros de saúde facultativos que têm um carácter complementar do serviço público.
O imposto sobre o rendimento tem o escalão mais baixo de 17% e o mais alto ultrapassa os 50%. As férias são no geral de 2 semanas anuais e não existe o pagamento do 13º e 14º meses. Alguns ordenados mensais médios: polícia $5.000; professor primário: $4.000; professor universitário $6.000.
Chegados a Montreal, fomos almoçar a um restaurante situado na denominada “cidade subterrânea”. Trata-se de uma vasta rede de amplos corredores bem iluminados que se estendem por 32 km, ladeados por mais de 1.660 lojas, 200 restaurantes, hotéis, cinemas e outro equipamento social. Esta cidade subterrânea permite aos cidadãos continuarem a fazer a sua vida habitual com o mínimo de transtornos, durante os rigorosos invernos que por aqui se verificam. Idêntica solução viemos a encontrar mais adiante na cidade de Toronto.
Após o almoço fomos fazer uma visita guiada, da qual destacamos: a Basílica de Notre-Dame-de-Montreal, a excelente vista que contemplámos do Plateau Mont-Royal (na companhia de um atrevido e fotogénico guaxinim) e a cerimónia religiosa do Santo Cristo na igreja dos portugueses, que tivemos a oportunidade de presenciar do nosso autobus.
Fomos ainda surpreendidos, numa galeria comercial, com um espectáculo de bizarras personagens (loiríssimos travestis, reluzentes oficiais nazis das SS, insinuantes damas de coleantes vestidos de cabedal, com curiosas aberturas que deixavam vislumbrar reduzidas e transparentes peças de lingerie, decididas dominadoras que de chicote em punho faziam antever dolorosas sevícias e intensos orgasmos, duas sensuais jovens entretidas em arriscados jogos eróticos, empoleiradas num pedestal, enfim só saúde…).
À chegada ao Hôtel des Gouverneurs, encontrámos a explicação para a insólita visão com que tínhamos sido brindados. Nada mais, nada menos do que a realização de um fim-de-semana fetiche (o Montreal Fetish Weekend) para o qual tinha sido reservado todo o 4º piso do nosso hotel… as cores do arco-íris teimavam em nos perseguir!
O jantar decorreu num simpático restaurante do Porto Velho após o qual regressámos, numa revigorante caminhada a pé, ao hotel. Aí tivemos oportunidade de assistir mais uma vez ao desfile dos fetishes, devidamente ataviados, para a sua festa que se desenrolava num teatro perto do hotel.