sexta-feira, fevereiro 04, 2022

2021 Odisseia nas Férias (Crónica Quinta... e última)

E chegamos hoje ao fim da iniciativa "2021 - Odisseia nas Férias", com a publicação da última crónica, da autoria do Zé Carlos.

No total foram cinco as participações (número que ficou aquém das expectativas) que foram publicadas no nosso blogue, para memória futura.


2021 Odisseia nas férias

O que parecia tão simples, não é que se está a tornar bem complicado? Primeiro, para um aposentado (termo algo sofisticado para um simples reformado da função pública, mas os senhores juízes, esses ainda são mais requintados, quando arrumam a toga são jubilados …) o que significam “férias”? Não há horários a cumprir, livros de ponto para assinar, chefes incompetentes para aturar, reuniões chatas para dormitar, objectivos para atingir…

Na realidade elas estendem-se pelo ano inteiro, embora haja quem as não saiba programar (e aproveitar) e há mesmo quem se atrapalhe quando não tem nada para fazer (aqui recordo o saudoso Agostinho da Silva ao sentenciar que a nossa sociedade só nos educa para fazer coisas e nunca se preocupa em nos ensinar a não fazer nada…).

Depois há a exigência rigorosa de uma página de A4… nem mais uma linha nem menos uma linha! Ditadores…

E como se tudo isto não bastasse, escrever uma “Odisseia”!?

Ora segundo o dicionário uma “Odisseia” é: “uma longa viagem caracterizada por aventuras extraordinárias, eventos imprevistos e feitos singulares”. Então pensei cá para mim: “Estás arrumado; para a próxima pensa um pouco melhor antes de propores uma actividade…”.

Mas como não sou de desistir à primeira, vou tentar embarcar na viagem, fazendo coincidir os limites das ditas “férias” com as férias do Atrium, isto é, de 1 de julho a 30 de setembro, e desenvolvendo cada um dos pontos da definição acima transcrita.

Comecemos pela longa viagem: Ora a viagem foi mesmo um pouco longa, foram 1.690 quilómetros de Lisboa até à Horta e um total de 19 dias, e foi uma viagem marcante, pois os Açores são o meu destino de férias favorito, pelos bons e velhos amigos que por lá vivem e pela beleza daquelas ilhas. Mas esta foi também uma viagem singular, porque foi a primeira viagem depois dos terríveis confinamentos, causados pelo estúpido vírus que nos atacou, o que implicou zaragatoas à partida de Lisboa, zaragatoas à chegada ao Faial, muito gel nas mãos e os antipáticos e antissociais distanciamentos! Pandemia a quanto obrigas…

Ah! Mas foi uma aventura extraordinária pois foi a primeira grande viagem que contou com a companhia do mais novo elemento da família, o meu neto André! Incansável o rapaz não se poupou aos banhos naquelas convidativas piscinas naturais e às passeatas pelos trilhos perdidos da ilha do Pico, na companhia dos seus progenitores e das simpáticas vaquinhas (aquelas que o Cavaco descrevia como indo sorridentes pela manhã a caminho das pastagens…). Foram de facto uns dias extraordinários a que não faltaram os indispensáveis gins tónicos no Peter’s.

Um outro feito extraordinário, porque significou uma vitória sobre a pandemia, foi o retomar das actividades do “Grupo do King”, que voltou à prática semanal daquele jogo de sociedade, reavivando as saudáveis (nem sempre…) rivalidades entre os/as participantes.

O imprevisto também aconteceu neste período, infelizmente bem triste. Foi o falecimento de duas figuras ligadas à história recente de Portugal. No dia 25 de julho deixou-nos Otelo Saraiva de Carvalho, o comandante operacional da revolta militar que no dia 25 de Abril de 1974 derrubou a ditadura, que durante 48 anos oprimiu o nosso povo. E um mês e meio depois, em 10 de setembro, morre Jorge Sampaio que exerceu o cargo de PR entre os anos de 1996 e 2006 e pelo qual tenho uma profunda admiração pela sua coerência na luta pela liberdade, desde os tempos das crises estudantis dos anos 60 do século passado, até aos tempos mais recentes, como Alto Representante da ONU para a Aliança das Civilizações, num importante papel de apoio aos estudantes refugiados da Síria e do Afeganistão.

E pronto! Cheguei ao fim da minha Odisseia que espero ter contribuído para retardar um pouco o envelhecimento dos meus neurónios (como era recomendado…), e ter permitido, de algum modo, uns minutos de leitura minimamente agradável para quem tenha tido a paciência de chegar ao fim deste A4 (nem mais 1 linha, nem menos 1 linha)!