segunda-feira, dezembro 02, 2013

O Atrium num teatro da margem esquerda, em Direcção aos Céus…

Foi na noite do passado dia 28 de Novembro, que rumámos ao Teatro Municipal Joaquim Benite, em Almada, para assistir à peça Em Direcção aos Céus, da autoria do dramaturgo austro-húngaro, de língua e cultura alemãs, Odon von Horváth (1901 – 1938).
Horváth nasce em Fiume e fixa-se em Berlim na década de 20, para a partir daí reinventar o teatro popular de língua alemã. Em 1933, com a ascensão do nacional-socialismo, as suas peças são proibidas, e abandona o país, refugiando-se na Áustria, onde continua a escrever peças de teatro e romances. Mais tarde, com a invasão nazi da Áustria, em 1938, Horváth é obrigado mais uma vez a exilar-se, morrendo em Paris nesse mesmo ano, num estúpido acidente, atingido por um ramo de uma árvore na sequência de uma tempestade.
Em Direcção aos Céus, escrita em 1934, constitui uma metáfora sobre as relações políticas e sociais do seu tempo, e que o seu autor definiu como: "uma comédia sem truques de magia: dado o momento que vivemos, creio que este tipo de teatro pode ser bastante útil, uma vez que nos permite abordar temas de que não nos seria possível falar de outra forma". 
Ao vermos a representação do Inferno, com a férrea disciplina militar, as torturas e a violência, não podemos deixar de pensar na Alemanha nazi, nos campos de concentração e em todo o terror (mais ridículo que assustador na peça) que se instalou pela Europa, subjugada ao III Reich.
Para reflectir é também a ténue separação entre o Bem e o Mal, entre o Céu e o Inferno, onde as pessoas circulam de um para o outro, culminando com uma civilizada conversa entre os altos responsáveis dos dois poderes, no caso entre S. Pedro e o Diabo em pessoa…
Enfim um bom serão que além do entretimento nos deu algumas pistas para pensar o nosso tempo, a nossa sociedade e a nossa vida.
Deixamos aqui uma proposta, que é também um desafio, a quem desejar comentar Entre o Céu e o Inferno, que nos envie os seus textos que serão aqui publicados.
Em jeito de conclusão, reproduzimos um texto de Odon von Horváth, de uma terrível e assustadora actualidade.

“Vivemos numa época em que grande parte do Mundo é dominada por criminosos e loucos. O objectivo dos Estados é a estupidificação dos povos: quanto mais um Governo zelar por que o seu povo seja estúpido, mais esse Governo será forte.”