domingo, abril 19, 2020

Diários de Quarentena 12 - Um caso vivido pelo Jorge que nos convida à reflexão


Um caso vivido em tempo de confinamento

A Fátima chamou-me:

- Aquele senhor, ali na rua, está a algum tempo a falar sozinho, a dizer que não sabe onde está, que não vê ninguém, parece perdido.
Respondi:
- Vou lá ver o que se passa.
Desci tão rápido quanto pude. Encontrei-o. Era um cidadão com alguma dificuldade de locomoção, na casa dos oitenta.
Abordei-o perguntando se precisava de ajuda.
Proferiu algumas palavras pouco articuladas que não consegui entender.
- O senhor é daqui? Onde mora? - Insisti eu.
Respondeu pausadamente:
- Desci de casa… para ir ao centro… agora não sei onde estou…não encontro ninguém para perguntar.
Procurei acalmá-lo dizendo:
- Se quer ir para o Centro Cívico é só atravessar esta rua. É do outro lado.
Tudo isto enquanto tentava manter distanciamento físico. Noutras circunstâncias ter-lhe-ia pegado no braço e atravessado com ele.
Haja Deus! O inesperado também acontece. Vejo um carro da polícia. Mandei parar e expliquei-lhes que aquele cidadão me parecia perturbado, possivelmente necessitando de ajuda. De imediato dois polícias saem do carro e dirigem-se para a ele.
Ainda olhei, mas não fiquei para saber o final da história, tudo indica que feliz.
Regressei a casa a meditar nas pessoas que com algumas limitações, tentando sair de casa poderão viver situações idênticas em sítios que lhes eram familiares, agora estranhamente despidos da movimentação que os caracterizava.

A todos desejo uma boa quarentena, se é que isso existe.