quarta-feira, janeiro 19, 2022

2021 - Odisseia nas Férias (Crónica Primeira)

Dando seguimento à actividade “"2021 - Odisseia nas Férias", na qual era pedida uma breve crónica de umas férias vividas em tempos de pandemia, “acompanhadas de muitas vacinas, máscaras faciais e gel desinfectante”, iremos iniciar a publicação das poucas colaborações que nos foram enviadas (a quantidade não abundou, mas o mesmo não aconteceu com a qualidade, como terão a oportunidade de comprovar…).

Elas irão sendo publicadas no nosso blogue, com um intervalo de 3 dias, pela ordem da sua chegada, pelo que hoje poderão apreciar a colaboração da Lena Alves.


2021 Odisseia nas férias”

Breve crónica de umas férias vividas em tempos de pandemia, acompanhadas de muitas vacinas, máscaras faciais e gel desinfectante   

 

Começo por dissecar três palavras do título proposto para depois falar de tudo e de nada.

Odisseia é uma palavra de origem grega e que significa “longa viagem caracterizada por aventuras extraordinárias, eventos imprevistos e feitos singulares”. É, também, o título da História de Ulisses contada por Homero, poeta grego que viveu no séc. IX AC.

Feriae, étimo de férias, é uma palavra latina que se referia aos dias em que os romanos não trabalhavam por motivos religiosos.

Crónica, embora retrate acontecimentos do dia a dia, não tem a finalidade exclusiva de informar. O objetivo da narrativa é, na verdade, provocar uma reflexão sobre o assunto abordado.

Finalmente, e para cumprir com o formato A4, Arial 11, cito uma frase atribuída a William Shakespeare (mas, parece-me muito duvidoso que a tenha escrito …!)

“Se todo o ano fosse de férias alegres, divertirmo-nos tornar-se-ia mais aborrecido do que trabalhar “.

Não concordo com a douta opinião do dramaturgo, pois seria um privilégio podermos organizar o nosso tempo conforme nos aprouvesse, com os necessários recursos.

Se interpretássemos a frase em função de cada extracto social na respectiva latitude ou longitude, poder-se-ia elaborar um tratado sociológico, antropológico e até de ciência política.... de economia ou direito … possivelmente, até de ciências biomédicas e outras ciências da natureza ou das humanidades e, se calhar, até mesmo na área da computorização e da robótica…! Parece-me previsível que o PC e o robot venham a pedir férias … porque não?!

Na minha circunstância e no meu cantinho dir-vos-ei:

Sinto-me em férias desde que me reformei. Faço o que me “apetece”. Vejo quem me “apetece” e entretenho-me como me “apetece” (sempre “entre aspas” para relativizar, não exageremos!). Gosto de estar em casa, de sair e conviver e de aprender.  Sinto-me privilegiada, sobretudo, com a paz que me envolve. É bom ter tempo, não sentir o torvelinho das azáfamas, apreciar o sol, apressar ou desacelerar com a chuva, experienciar a música, deslumbrar com uma ideia, apreciar o altruísmo e a gentileza, captar a fantasia. E, caminhando por esse trajecto …. mas, introduzindo perturbação nessa minha envolvente pacifica …. 

Partilho a indignação de quem não se conforma com a estupidez, a cupidez e a hostilidade e com o sofrimento escusado de tanto semelhante. Irrita-me a mesquinhez e a intolerância, a soberba, a inveja, a injustiça e a mentira. Aprecio a generosidade, a lealdade e a cortesia. Não é fácil dialogar com blocos de cimento “armado”, ou com aqueles que impõem a sua razão com desrespeito.  Acredito que encontrar consensos e ser útil é uma forma elevada de existir. O trabalho hercúleo destes últimos tempos, de pessoas que tentam servir e cumprir o seu dever tem sido uma bênção que (n)os eleva, enquanto Humanidade, estão noutra grandeza. São vozes mágicas que dão sentido às vidas das formigas insignificantes que somos perante os cataclismos que nos assolam.

Como dizia um amigo “o mundo é como é, tudo faz parte, o bom, o mau e o assim assim”. Não me contento com o mau e, também, não tenho grande fé no Homem. Mas, podemos replicar a generosidade. Veja-se o que foi feito nesta pandemia!

Toda a vida é uma Odisseia, uma viagem sem férias, com férias, navegamos, batalhamos e temos uma crónica “desen”quadrada do objecto mas que fala do essencial, ou seja da abnegação e trabalho dos que labutam e partilham princípios que eleva  e perpetua a Humanidade. 

M. Helena Alves