sábado, abril 10, 2021

O Ano em que nasci – Parte III (1945)

Continuamos hoje a divulgar as colaborações dos atriunistas no âmbito da actividade O Ano em que nasci.

Como dissemos anteriormente, a publicação segue a ordem cronológica dos nascimentos dos intervenientes, dos anos mais antigos para os anos mais recentes, hoje apresentamos as participações, ambas referentes ao ano de 1945, da Manuela Aguiar e do José Manuel Boavida.


1945 - ANO DA GUERRA E PAZ 

Nasci uns dias depois de terminar a 2ª Guerra Mundial. Oficialmente na Europa a 8 de Maio, após a rendição da Alemanha e do Japão a 2 de Setembro, depois do lançamento pelos americanos, de duas bombas atómicas sobre Hiroxima e Nagasáqui.

Não irei escrever sobre o Holocausto, os bombardeamentos, da morte de 50 a 55 milhões de pessoas civis e militares, da destruição das cidades, mas do Tempo da Paz.

O tempo da paz, foi um tempo em que os países vencidos e vencedores, se confrontaram com os mesmos problemas. Caos, grande criminalidade, violência, vinganças, e deslocação de populações. Por todo o lado havia roubos, insegurança e escassez de alimentos. Os operários, eram pagos com bens alimentares como aconteceu na Hungria.

A economia estava destruída.

A Europa estava semimorta.

O após guerra na Alemanha foi violento. Milhares de mulheres alemãs foram violadas, espancadas, não só pelos soldados russos, mas também pelos americanos. Estudando os processos instaurados pela justiça militar dos Estados Unidos contra violadores, verificou-se pelo menos a existência de 11 mil crimes sexuais graves, cometidos até Novembro de 1945. Após o fim da Guerra, ao Aliados iniciam um processo de “Desnazificação”, da população civil na Alemanha.

Foram impressos 13 milhões de questionários entregues aos alemães que tinham um passado pouco claro, o que correspondia aproximadamente ao número de membros do Partido Nazi. Quem não preenchesse este questionário, não arranjaria emprego e não receberia senhas de alimentos distribuídas pelos americanos. A qualquer resposta suspeita o entrevistado poderia ser declarado prisioneiro de guerra e seria enviado para novos campos de detenção criados pelos libertadores. Nem todos os alemães aceitaram a derrota. Antigos soldados e oficiais formaram grupos de guerrilha e fizeram sabotagens, emboscadas e atentados até Novembro de 1945.

Em Setembro de 1945 prepararam-se os processos de Nuremberga cujos julgamentos começaram em Novembro e terminaram em 1946.

Não havia instituições confiáveis, mas havia pessoas que tentaram reconstruí-las, o que voltou a tornar a Europa civilizada. Queriam fundar instituições que assegurassem a sobrevivência material do Continente. Jean Monnet, Robert Schumann, Konrad Adenauer trabalharam de maneira que os Europeus conseguissem ultrapassar os seus nacionalismos e reconstruir a prosperidade da Europa.

Em 26 de Junho de 1945, é criada a Carta das Nações Unidas, tratado fundamental de nações, uma organização intergovernamental, que foi assinada na cidade de S. Francisco por 50 países, com o compromisso de defender os direitos humanos, as liberdades fundamentais dos cidadãos, abordando problemas económicos, sociais e sanitários. Entrou vigor, em 24 de Outubro de 1945.

Com o fim da 2ª Guerra Mundial, surgiram movimentos independentistas no Sri Lanka, na Indonésia, no Vietname e na Índia. A 20 de Setembro de 1945 Gandhi e Nehru exigem a saída dos britânicos da Índia.

Uma das participações de Portugal na 2ª Guerra Mundial, foi o envio de tropas, “Forças Expedicionárias” para Cabo Verde, a partir de Maio de 1941. O contingente militar, foi distribuído pelas ilhas de Santo Antão, Sal e S. Vicente e a sua missão era defender ataques ou possível invasão. Aliás nos mares de Cabo Verde, havia uma grande movimentação de submarinos alemães e vários foram afundados. Em Cabo Verde instalarem-se 5820 homens ficando em S. Vicente 3000. Imagine-se a alteração na vida da cidade do Mindelo com a ida destes jovens. A marca de influência das tropas foi enorme, pois além do cruzamento da população, da mitigação da fome endémica, houve uma grande melhoria dos cuidados de saúde com a ida de médicos de várias especialidades.

Em 1945, pela 1ª vez chegaria um avião militar a S. Vicente e a Cabo Verde com embalagens de penicilina.

 

Bibliografia

- Courrier International - Setembro de 2015

         1945- Doze Meses que Abalaram o Mundo

- Forças Expedicionárias em Cabo Verde da 2ª Guerra Mundial

         Coronel Adriano Miranda Lima

Março de 2021

Maria Manuela Aguiar



1945 - Principais acontecimentos

O principal acontecimento deste ano, claro que foi o meu nascimento!

Para além do primeiro acontecimento já referido, está o final da Segunda Guerra Mundial.

Este conflito que se iniciou em 1 de Setembro de 1939, estendeu-se até 9 de Setembro de 1945. Embora tenha sido assinado o Pacto de Não Agressão entre Hitler e Stalin em 23 de Agosto deste mesmo ano. o Japão só se rendeu em 2 de Setembro.

De facto, o conflito continuou até ao final do ano, com a Noruega a declarar guerra ao Japão.

A primeira Bomba Atómica Trinity lançada sobre Hiroshima pelo B-29 Enola Gay.

A segunda Bomba Atómica Fat Man, lançada sobre Nagasaki pelo B-29 Bock's Car.

O navio de guerra norte-americano USS Indianapolis (CA-35) a ser afundado por um submarino japonês

A União Soviética declara guerra ao Japão.

Philippe Pétain, chefe do regime de Vichy condenado à morte por um tribunal de guerra francês.

Imperador japonês Hirohito aceita os termos da Declaração de Potsdam.

Realiza-se a Conferência de Potsdam entre o presidente norte-americano Harry S. Truman, o líder soviético Josef Stalin e o primeiro-ministro britânico Winston Churchill.

Em 24 de Outubro foi fundada a Organização das Nações Unidas, inicialmente composta por 51 países e atualmente por 193 Estados-membros. O objetivo da ONU é o de unir todas as nações do mundo em prol da paz e do desenvolvimento, com base nos princípios da justiça, dignidade humana e no bem-estar de todos.

A ONU dá aos países a oportunidade de procurar soluções em conjunto para os desafios do mundo, preservando os interesses e a soberania nacional. A missão e o trabalho das Nações Unidas são guiados pelos propósitos e princípios contidos na sua Carta fundadora – a Carta das Nações Unidas.

Em 29 de Outubro, o presidente do Brasil foi deposto e é instaurada a República Nova ou República de 46. O General Eurico Gaspar Dutra foi o presidente eleito e empossado no ano seguinte, ano em que foi promulgada nova Constituição, mais democrática que a anterior, restaurando direitos individuais.

A Segunda Grande Guerra no Mundo e em Portugal

5.1 Breve imagem do Mundo

A Segunda Guerra Mundial foi um conflito extenso, marcado por uma infinidade de acontecimentos e muitas reviravoltas. O mundo no período da guerra centrou-se e viveu todas as peripécias de alianças e ataques entre os diversos países que nela entram. Importa ter presente os principais acontecimentos.

A guerra iniciou-se com a invasão da Polónia pelos germânicos, em Setembro de 1939, tendo sido o seu território dividido entre alemães e soviéticos por conta de uma cláusula do Tratado de Não-Agressão.

De 1939 a 1940, houve um período de pouca ação conhecido como Guerra de Mentira, a partir do qual os alemães iniciaram as suas ofensivas pela Europa e conquistaram uma dezena de países (Noruega, Dinamarca, Bélgica, Holanda, França, Jugoslávia, Grécia etc.). As grandes conquistas alemãs deixaram o Alto Comando nazi entusiasmado com a capacidade de guerra do país.

Esses avanços só foram possíveis por causa da blitzkrieg, uma táctica de guerra inovadora para a época e que coordenava ataques múltiplos de diversas forças do exército alemão. Movido pelo sucesso da blitzkrieg, Adolf Hitler ordenou a realização de um ataque contra a União Soviética. Esse acontecimento mudou o destino da Segunda Guerra Mundial.

A Operação Barbarossa cujo objetivo era conquistar a União Soviética em até oito semanas, foi iniciada pelos alemães em 22 de junho de 1941 e mobilizou mais de três milhões de soldados, além de milhares de aviões, tanques e peças de artilharia.

O ataque iniciou-se baseado na já referida tática da ´blitzkrieg` e possibilitou rápidos avanços para os alemães, os quais no final de 1941, possuíam três grandes alvos a serem conquistados na URSS.

No entanto o esforço de guerra dos soviéticos e a falta de recursos da Alemanha para lutar em duas frentes de guerra foram determinantes para a interrupção do avanço germânico. De facto, a derrota em Estalinegrado enfraqueceu consideravelmente a Alemanha, obrigando-a a uma redução drástica da quantidade de recursos disponíveis para o país e logo da sua capacidade industrial. Para além desta, houve derrotas sofridas no território soviético, com destaque para a batalha de Kursk, que obrigou os alemães a recuar e a reforçar as suas linhas na Itália. Com a expulsão do norte de África, os alemães invadiram a Itália pelo sul.

Entretanto os Aliados reconquistaram a Itália, cujo líder do fascismo italiano, Mussolini, foi morto por guerrilheiros que lutavam contra os nazis. No leste europeu, os alemães foram empurrados por milhões de soldados soviéticos. Locais como Estónia, Polónia, Hungria, entre outros, foram reconquistados à medida que as forças soviéticas avançavam.

O Dia D, (6 junho de 1944), abriu uma nova frente de guerra dos Aliados contra os nazis e aumentou a pressão sobre os alemães. Em 1945, os Aliados entraram em território alemão, e Berlim, a capital do país, foi conquistada em Abril. Adolf Hitler cometeu suicídio e, em maio de 1945, a Alemanha rendeu-se.

Entretanto e mesmo face ao lançamento de duas Bombas Atómicas em Hiroshima e Nagasaki (6 e 9 de Agosto), não foi suficiente para convencer membros do governo japonês a oferecerem rendição. Só após a invasão da Manchúria pelas tropas soviéticas, iniciada ao mesmo tempo que o lançamento da segunda bomba atómica, o governo japonês assinou a rendição (2 de Setembro de 1945). o que colocou fim à Segunda Guerra Mundial.

5.2 Breve imagem de Portugal

Portugal foi neutral durante a II Guerra Mundial, mas a localização dos seus diversos territórios, colocaram o país directamente nas rotas da guerra. O país foi porta de entrada e saída da Europa para refugiados, espiões, emissários especiais e todo o tipo de personalidades, mais ou menos obscuras.

Apesar desta situação, o governo fascista/nacionalista, liderado por António Oliveira Salazar, fez tudo para evitar a entrada no conflito, assumindo uma “neutralidade colaborante”, primeiro com os nazis e depois com os aliados.

A neutralidade permitiu-lhe colaborar e fazer comércio com os dois blocos em conflito, num jogo de cedências e resistências que se foi adaptando ao desenrolar dos acontecimentos.

Parte da população (de um modo geral pobre e alheada dos principais acontecimentos mundiais) foi, apesar de tudo, testemunha ou participante acidental em alguns acontecimentos relacionados com o conflito.

Os anos da Segunda Guerra Mundial em Portugal legaram à posteridade a imagem de um Portugal triste, provinciano, mas feliz. Saint-Exupéry, que também por cá passou, cunhou a frase "um paraíso triste".

Dos milhares de refugiados que passaram por Lisboa não ficou nada senão a imagem de uma ditadura benigna, onde havia paz, alguma carne e manteiga. Lisboa foi então uma placa giratória de culturas europeias que só o zelo da vigilante polícia política registava.

Há conjunturas onde a tão criticada cultura da Europa do Sul apresenta virtualidades inesperadas. A generosidade, a pressão internacional, alguma corrupção e "um jeito" deram vistos de trânsito a muitos refugiados judeus.

A gigantesca maioria partiu, mas com a certeza de que essa passagem lhes foi vital. Muitos chegaram aos EUA em barcos com nomes do império português, como Serpa Pinto ou Lourenço Marques. Ao Estoril e à Madeira, tinham, entretanto, chegado vários reis sem reino e outros se lhes juntariam após a guerra, num exílio pouco dourado.

O ditador português não desafiou a sua sorte em política externa. Preocupado com o império, Salazar temeu as aventuras de Mussolini em África e ficou tranquilo com as opções continentais da Alemanha nazi. Manteve a Aliança Inglesa e assustou-se fundamentalmente com o vizinho Franco, mais próximo do Eixo.

A sorte e a geografia ajudaram. Hitler parou nos Pirenéus, desistiu da invasão de Inglaterra e esqueceu a ocupação de Gibraltar. O alto preço de uma Espanha destruída pela guerra civil e as reivindicações de Franco no Norte de África também ajudaram. A operação "Félix", prevendo a invasão-relâmpago da Península Ibérica, ficou no papel.

A partir de 1943, o ditador tentará fazer pagar caro aos Aliados uma neutralidade mais "colaborante".

Açores e volfrâmio preenchem a grande maioria da correspondência diplomática. Perante a resistência de Salazar, a ocupação simples do arquipélago e os cenários de derrube do regime enquanto arma de arremesso são várias vezes equacionados, sobretudo pelos norte-americanos. Discretamente, o grande instrumento de pressão externa do regime, destinado ao sucesso nas relações bilaterais com os EUA, entra em cena.

O nascimento do Movimento de Unidade Democrática (MUD), em 1945, a sua rapidíssima expansão e o quase imediato inquérito à autenticidade das assinaturas nas listas de adesão às suas reivindicações são assuntos hoje praticamente esquecidos, mesmo pelos historiadores. A constituição do MUD e o inquérito, são quase ignorados, até na memorialística. Embora o MUD e o MUD Juvenil ainda sejam referidos , não existe qualquer estudo aprofundado sobre ambos.

Eleições legislativas portuguesas de 1945.

As eleições legislativas portuguesas de 1945 foram realizadas no dia 18 de Novembro, sendo eleitos os 120 deputados da Assembleia Nacional. Estas eleições foram antecipadas de um ano, após a dissolução do Parlamento em 6 de julho de 1945. A totalidade dos deputados eleitos pertence à União Nacional.

PS: o texto acima foi construído a partir da consulta da internet, respigando os elementos entendidos como mais relevantes para a descrição do ano de 1945

Março de 2021

José Manuel Boavida