segunda-feira, abril 15, 2013

O Atrium nos «Desastres da Guerra» de Graça Morais

O medo tornou-se uma presença constante no tempo em que vivemos. Já não é o medo da guerra, como nos anos 60 e 70 do século passado, quando a Guerra Colonial era um pesadelo para as gerações dos jovens de então.

Hoje é o medo mais sofisticado, que se entranha de mansinho nas nossas vidas e nos nossos espíritos como uma nódoa de gordura a alastrar-se no tecido. É o medo de perder o emprego, é o medo do aumento dos impostos, é o medo de se perder a pensão, para a qual se descontou uma vida inteira de trabalho, é o medo do despejo pelo aumento brutal da renda, é o medo das medidas de austeridade cada vez mais gravosas é o medo da bancarrota e do caos financeiro, tão apregoados pelos órgãos de comunicação social, caixas-de-ressonância do poder financeiro que comanda as nossas vidas e o nosso futuro. E o medo é terrível! O medo paralisa os corpos e os espíritos. Ele impede a revolta e a luta pela mudança. É a terrível ideia de que “é melhor não mudar porque senão ainda pode ser pior…”.

É sobre estes medos que Graça Morais propõe uma reflexão e faz uma denúncia, na exposição “Os desastres da guerra”, que o Atrium visitou no passado dia 6 de Abril, na Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva.

É dela o seguinte depoimento: «É preciso pensar o que está a acontecer! Não posso ficar calada. Como é possível fazer uma pintura decorativa que ignore o que está a acontecer?

As leis que são feitas, são de uma grande desumanidade e insensibilidade social, há muitas pessoas a sofrer. Revolta-me que tantos seres humanos sejam desprotegidos e desamparados. Não posso ficar calada! Todos estamos a sofrer uma grande injustiça, que se reflecte no nosso dia-a-dia. É preciso ver o que se está a passar com tanta gente desempregada, com tantos deprimidos.

As mulheres são sempre as maiores vítimas, particularmente em tempos de crise e numa situação de grande desemprego.

São o elo mais fraco, que sofrem a violência psíquica e física. Basta ler os jornais. Ando mesmo impressionada com o número de mulheres que se suicidam e antes matam os filhos. Desempregadas, desesperadas e abandonadas pela sociedade, sem perspectivas, há uma carga imensa sobre esta espécie de «Medeias», que não querem deixar os seus filhos nesta desgraça. É uma tragédia para a própria Humanidade e é preciso que as pessoas pensem no que está a acontecer

Após a visita guiada pela própria artista (a visita possível, dado o grande número de presenças, cerca de duzentas pessoas), realizou-se um debate no anfiteatro da Fundação que contou com a presença, entre outras da Graça Morais, do Viriato Soromenho-Marques e do Adelino Gomes.

Foi numa sala a transbordar, onde não couberam todos os que desejavam assistir, que se desenrolou uma muito interessante reflexão sobre o tempo que vivemos, sobre a guerra de que somos vítimas, a tal guerra insidiosa e subterrânea que veio substituir aquela outra que Clausewitz dissecou no seu “Da Guerra”. Esta, que vem dos lados de Berlim (uma vez mais?), é a guerra menos ética das instituições financeiras contra os povos do mundo.

Como Soromenho-Marques afirmou, «…se Clausewitz nos ensinou que a guerra deve ser a continuação da política, o ministro Schäuble (o ministro das Finanças alemão), na sua declaração sobre Portugal, recordou que a política de austeridade pode ser a continuação da guerra por outros meios…».

Talvez esteja a aproximar-se o tempo de reinventar a coragem!