sexta-feira, janeiro 03, 2020

Uma interessante Tertúlia mostrou-nos algumas das obras preferidas dos atriunistas


Foi um serão, no dia 12 de Dezembro, em casa da Marina e do José Carlos, no qual cada um dos participantes apresentou uma obra por si escolhida, pelo significado particular que lhe atribuiu.
Foram sete os voluntários nesta primeira sessão (que poderá ser replicada noutras coordenações), cujas apresentações aqui recordamos resumidamente.
O Albano trouxe-nos a obra de um pintor, Manuel Amado. Falecido há pouco tempo, em 14 de Outubro 2019, as suas obras convidam à serenidade. Sobre ele disse o seu amigo José Cardoso Pires: “Em Manuel Amado o silêncio faz-se palavra pela celebração da luz. Vai mais longe: confere vida à cidade com a discretíssima insinuação de poesia e de segredo que paira nesse mundo deserto de personagens”. A projecção de alguns dos quadros do pintor, selecionados e comentados pelo Albano, ilustrou a apresentação.
A seguir o Alberto recordou-nos um livro que povoou a nossa infância, “O Principezinho”, a obra de Antoine de Saint-Exupéry que é considerado um dos grandes clássicos da literatura infantil e um inspirador para leitores de todas as idades. Pode-se dizer que esta história de um rapazinho com cabelos cor de ouro e de um piloto perdido do deserto vai encantando geração atrás de geração, como nos mostrou o Alberto. A apresentação foi completada com a leitura de partes do livro, pelo Alberto e pela Manuela.
O Fernando veio denunciar a situação a que a Mulher é remetida nas nossas sociedades. E fez isso através da apresentação do livro “Fêmea – uma história ilustrada das mulheres”, da autoria de Inês Brasão (texto) e Ana Biscaia (ilustrações), que é composto por 36 pequenas histórias ilustradas, que pretendem suscitar o debate em torno de cada um desses fragmentos. Neste pequeno extrato do livro está sintetizado o essencial da denúncia: “Sabemos que a história oficial fez das mulheres sujeitos sem história. Fez das mulheres sujeitos sem desejo de falar, de se exprimir, de ter prazer, de se associar a partidos ou a causas. Fez delas profissionais de desejo, material de desejo, mas não sujeito de desejo. Fez da mulher um sujeito sem direito ao desejo de não fazer nada”.
A colaboração seguinte foi a da Fernanda, que através da música imortal de Leonard Cohen, recordou e partilhou com os presentes, algumas agradáveis recordações de momentos significativos da sua vida, nos quais o Pedro foi personagem fulcral…
O José Maria trouxe-nos a apresentação de um livro que é uma análise, feita na primeira pessoa, de uma cultura em crise - a dos americanos brancos e pobres. O livro é o “Lamento de Uma América em Ruínas” e nele o seu autor, J. D. Vance, escreve sobre a sua experiência de vida, desde a mais tenra idade até ao presente. Vance que nasceu na região desindustrializada da América, conta com detalhe um desfile de desgraças, tragédias e frustrações que atravessaram a sua infância e adolescência.
Trata-se no fundo de uma reflexão urgente sobre a perda do Sonho Americano para um largo espetro da população.
Da Lena veio a apresentação seguinte, baseada num velho livro de receitas, que nos trouxe algumas curiosidades sobre a capivara, esta singular espécie de mamífero roedor, considerado mesmo o maior roedor do mundo, originário da América do Sul.
A última colaboração pertenceu à Maria que nos falou sobre Graça Morais e a sua obra, através de uma apresentação de diapositivos, que significativamente intitulou “Graça Morais - O seu trabalho é um modo de fúria!”.
Natural de Vieiro, uma pequena aldeia de Trás-os-Montes, a sua obra sempre exprimiu a sua reflexão e a sua indignação com aquilo que se passa no mundo de hoje; as injustiças, as desigualdades, a violência contra os mais fracos, a condição das mulheres, a crise dos refugiados.
De uma entrevista recente transcrevemos um trecho que define o seu posicionamento como artista: “Como artistas, não podemos ser meros espectadores. Eu recuso esse papel de espectadora (…) desde sempre olhei para a condição humana e, nos últimos anos, desde 2011, as minhas obras são uma grande reflexão sobre a grande barbárie, os grandes dramas e a minha pintura é a luta contra essa maldade (...). Através da arte eu sinto que me liberto (...) Eu falo desse mundo mas há sempre uma esperança na minha pintura".
Uma última referência para uma simples homenagem que foi feita à memória do José Mário Branco, no início da sessão, em que escutámos algumas das suas músicas e foram declamados dois dos seus versos pela Amparo e pela Celeste.











Percorrendo os Dias das Pequenas Coisas, da Sarah Affonso


Foi no Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado, que no dia 20 de Novembro, conduzidos pela curadora da exposição, Maria Aires Silveira, apreciámos as obras da Sarah Affonso reunidas nesta mostra sob o título “ Os dias das pequenas coisas”.
A exposição oferece uma abordagem ao conjunto da obra da artista, convidando-nos para uma viagem pelo percurso Sarah Affonso na qual descobrimos uma artista multifacetada, com obra que vai de uma variedade de registos, do desenho à pintura passando pelo bordado. De destacar a sua relação com a paisagem, particularmente relacionada com a casa da família em Bicesse (Cascais).
Para completar esta breve crónica, juntamos um texto extraído do site da Direcção-Geral do Património Cultural.
"Última aluna de Columbano Bordalo Pinheiro, na Escola de Belas-Artes de Lisboa, Sarah Affonso parte para Paris em 1924, onde frequenta a Académie de la Grande Chaumière. Na sua segunda estada parisiense, entre 1928 e 1929, expõe no Salon d’Automne, com boa receção crítica, e trabalha num atelier de modista, executando croquis de moda, prática a que em Portugal dará continuidade na imprensa. Ilustradora (na imprensa periódica e para diversos livros de escritores nacionais, como Fernanda de Castro), mantém ao longo de várias décadas atividade como pintora, com particular destaque para o retrato. Reconhecida pelos pares e pela crítica, premiada (Prémio Amadeo de Souza-Cardoso em 1944), organizou várias exposições individuais nas décadas de 1920 e 1930. Contudo, em 1978, cinco anos antes da sua morte, a crítica Sílvia Chicó, escrevendo para um catálogo de uma exposição que reunia retratos de Sarah Affonso de 1927 a 1947, referia a mostra como “uma importante contribuição para o conhecimento de uma obra, em grande parte ignorada pelo público”, sustentando que “toda a mostra que faça sair uma obra da obscuridade, se torna relevante, num país onde a história da arte do século XX é ainda mal conhecida, e onde Sarah Affonso tem um lugar preciso.”.




O já tradicional Magusto do Atrium é em Caneças


Como já vem sendo hábito, no passado dia 16 de Novembro, lá nos reunimos na casa da Teresa, em Caneças, para comemorar o São Martinho.
Foi mais um bem animado convívio, que para além das comidas e bebidas, sempre presentes, houve poesia, música ao vivo e um bem disputado concurso sobre as memórias deste nosso Atrium, que já são muitas, de mais de 37 anos.
O dia já ia adiantado quando regressámos a nossas casas. A tradição tinha sido cumprida mas (e aqui não resistimos a introduzir um toque “Pessoano”…), faltará ainda cumprir Portugal? Vai-se cumprindo, vai-se cumprindo, mas devagarinho…