quarta-feira, abril 21, 2010

O ATRIUM PELAS LINHAS DE TORRES VEDRAS REVISITANDO A GUERRA PENINSULAR

Do grito de revolta e de coragem de Jacinto Correia (1), perante os juízes franceses que o condenariam à morte, “...Se todos os portugueses fossem como eu, nem um francês ficaria vivo para me fuzilar...”, até ao sinistro “...Vivá Virgem Maria! Morra a Liberdade! gritado pela fradalhada e os rurais, de chuços assestados aos buchos dos franceses.” (2), se fazia a resistência ao invasor vindo de terras francesas.
No outro lado da barricada, pelos salões dos palácios senhoriais, alguns fidalgos ilustrados convivem fraternalmente com os garbosos oficiais franceses, ao som da Marselhesa, tocada nalgum clavicórnio pela recatada filha de família, sonhando com os ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade que lançariam Portugal na era das luzes e da modernidade, num tempo em que os herdeiros da Revolução já se tinham transformado em soldados do Império.
Entre todas estas contradições se desenvolveu a Guerra Peninsular, inserida numa luta mais vasta entre o Antigo Regime, personificado nas velhas coroas da Europa, e as novas ideias nascidas na Revolução Francesa.
Com a simpatia e o saber do Paulo Correia, o Atrium revisitou no passado dia 18 de Abril, todos estes episódios históricos da Guerra Peninsular e das Invasões Francesas, numa visão não estritamente bélica, mas com a compreensão da mudança de uma era na história político-social da Europa do início de século XIX.
A primeira parte da jornada iniciou-se no Museu Municipal Leonel Trindade de Torres Vedras, com a visita à exposição “Guerra Peninsular 1807 -1814”, dividida em 3 núcleos: 1 - Não passarão! A importância das Linhas de Torres Vedras na defesa de Lisboa. 2 – Invasões francesas: memórias e relatos. 3 – De Ciudad Rodrigo a Torres Vedras: uma viagem pelas gravuras da época.
A segunda parte centrou-se nas Linhas de Torres Vedras (a comemorarem o bicentenário da sua construção), excepcional obra de engenharia militar levada a cabo por portugueses e ingleses, para defesa da cidade de Lisboa, e que constituiu um factor determinante para a derrota final das tropas invasoras, na 3ª tentativa efectuada sob o comando do General Massena.
Ajudados pelos profundos conhecimentos do Paulo Correia visitámos algumas das 152 fortificações que compunham as Linhas e apercebemo-nos directamente no terreno, da importância estratégica deste sistema defensivo, abordando diversos aspectos tais como a sua inserção no relevo do terreno, as características do armamento utilizado, os sistemas de transmissão utilizados, o quotidiano da vida militar de então, etc.
Entretanto, no meio da jornada e para retemperar as forças, tivemos oportunidade de apreciar uma excelente refeição com Ementa da Época (3) no restaurante Moinho do Paúl, inserida nas Jornadas Gastronómicas denominadas “Sabores nas Linhas” que pretendem recriar as receitas do início do século XIX, da dieta regimental (a ração do exército), passando pelos simples mas apetitosos comeres do povo, até à requintada gastronomia das classes altas e aos doces conventuais.
__________________________________________________________
(1) Jacinto Correia era um camponês de Atouguia, de 46 anos, que aprendeu a ler com os frades do Convento de Mafra, e que ali foi fuzilado no final de Janeiro de 1808 por ter assassinado, com a sua foice roçadeira, 2 soldados franceses que lhe queriam roubar um molhe de lenha e um cabaz de fruta.
(2) in “Razões de Coração – Romance de paixões acontecidas em Mafra ocupada pelos franceses no ano de 1808” de Álvaro Guerra.
(3) A “Ementa da Época” é constituída por:
- Sopa de Sustança (galo do campo com feijão branco): Iremos noutro post do blogue divulgar a receita desta sopa
- Bacalhau do Regimento
- Mexilhão à Inglesa
- Pimentos Recheados c/ carne de Porco
- Galinha do Povo
- Arroz doce
- Fruta