segunda-feira, fevereiro 27, 2012

O Museu do Neo-Realismo revisitado pelo Atrium, no centenário de Alves Redol

O Atrium foi de novo até Vila Franca de Xira, no passado dia 11 de Fevereiro, para visitar o Museu do Neo-Realismo, que no âmbito das comemorações do centenário do nascimento de Alves Redol, tem patentes três exposições evocativas da vida e da obra deste que foi um dos mais importantes nomes da cultura portuguesa na corrente neo-realista.
Uma mostra biobibliográfica (Horizonte Revelado), outra fotográfica (Alves Redol e a fotografia) e uma terceira de banda desenhada (Alves Redol em BD).
Antes da visita às exposições de Alves Redol tivemos ocasião de apreciar a exposição documental permanente do museu, denominada “Da Batalha pelo Conteúdo”. Nela é apresentada a génese do movimento neo-realista, portador dos ideais de libertação, em resposta aos graves problemas sociais nascidos com a grande depressão dos anos de 1930, nos EUA, e com o crescimento das ideias fascistas na Europa.
Mais do que um apurado estilo literário e artístico impunha-se dar a conhecer o sofrimento e a exploração a que estava sujeita uma grande parte da população trabalhadora.
As influências do exterior foram várias, das quais se destacam: da Europa, o romance social, do Brasil, Jorge Amado, Graciliano Ramos e Cândido Portinari, do México, Diego Rivera, David Siqueiros e José Orozco. Em Portugal é de destacar o papel de Bento de Jesus Caraça e da sua Biblioteca Cosmos, que publicou 114 títulos de obras de divulgação dando corpo à sua divisa de promover a cultura integral do indivíduo.
A música teve o seu lugar neste movimento, sendo o seu maior divulgador o maestro Fernando Lopes Graça que soube conciliar a música popular com a música erudita.
O cinema, não sendo comparável ao neo-realismo italiano, utilizou guiões baseados em autores neo-realistas. Como curiosidade refira-se que o filme Nazaré teve a colaboração directa de Alves Redol. Mais tarde realizadores como Paulo Rocha e Fernando Lopes, do denominado Novo Cinema Português assumem que sofreram influência do neo-realismo.
Horizonte Revelado é uma exposição biobibliográfica que dá a conhecer uma visão alargada e, até certo ponto, inovadora do percurso literário e de cidadão de Alves Redol (romancista, dramaturgo, escritor de livros infantis, cronista da imprensa, animador cultural, palestrante, professor e activista político), empenhado em denunciar o sofrimento daqueles que possuíam apenas a sua força de trabalho para sobreviver e eram as vítimas da exploração do homem pelo homem.
Vê os seu livros apreendidos ou censurados mas nunca desiste Está com o Movimento de Unidade Democrática e participa nas lutas políticas de então. Está presente clandestinamente em congressos na Europa de Leste e vai ao Brasil receber um título honorário das mãos de Jorge Amado. Convidado por Pablo Neruda para um congresso na América Latina não é autorizado a sair do pais.
Alves Redol e a Fotografia, mostra a importância da fotografia na fase “etnografista” bem como na denúncia das difíceis condições dos trabalhadores, nomeadamente na denúncia ao trabalho infantil.
Alves Redol em BD expõe uma selecção de trabalhos apresentados num concurso de Banda Desenhada para os jovens, sobre o tema “A obra de Alves Redol”.