Na Casa dos Açores o Atrium confrontou-se com os desafios da Inteligência Artificial (IA)
Foi uma sessão subordinada ao tema “A Inteligência artificial e o impacto no mercado de Trabalho: notas introdutórias”, efetuada no passado dia 9 de dezembro na Casa dos Açores, e animada pelo investigador Nuno Boavida, que nos apresentou o resultado das suas investigações sobre a IA, aplicada ao setor automóvel, e também uma análise mais abrangente das questões levantadas por esta tecnologia.
Como complemento desta
interessante sessão, que nos alertou para os principais desafios da IA, transcrevemos
em baixo algumas passagens de uma entrevista concedida ao jornal Público (em
17.12.2023) por Paolo Benanti, o frade franciscano conselheiro do Papa
Francisco sobre tecnologia, e que faz parte do conselho de peritos em IA da
Organização das Nações Unidas.
De túnica cinzenta com
uma corda branca à cintura, este frade franciscano destaca-se dos restantes
membros, reunidos pela primeira vez no começo de dezembro, em Nova Iorque,
tendo ao seu lado políticos, governantes, académicos e representantes de
grandes nomes da tecnologia, como a Microsoft, a Sony e a OpenAI.
Foram todos convocados
pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, para a missão de pensar numa
nova agência internacional para supervisionar os desenvolvimentos em IA, com o
objectivo de reduzir os riscos e maximizar os benefícios da utilização da
tecnologia.
Aqui ficam algumas das palavras
de Paolo Benanti:
“… Temos de ser
muito claros: este debate sobre IA não é uma questão nova: Na primeira vez que
um membro da espécie humana agarrou num bastão, podia estar a pegar numa arma
ou numa ferramenta. Isto há dezenas de milhares de anos…”.
“… Não há
tecnologia que não possa ser usada como ferramenta. E não há ferramenta que não
possa ser usada como arma. Por isso é que é muito mais importante perceber como
é que os humanos olham para a inovação…”.
“… um chatbot ainda
se engana e mente com facilidade…”.
“…. Agora que a
tecnologia já não molda só o ferro, como aconteceu na primeira revolução
tecnológica, vemos a tecnologia como o motor da cultura. Ao moldar a linguagem,
a tecnologia torna-se na ferramenta de manipulação perfeita para a sociedade…”.
“…. Em 2023 o poder
da tecnologia está com um pequeno grupo de empresas, e isso é algo que me
preocupa. Não é bom ter uma sociedade dominada por uma mão-cheia de pontos de
vista. Perceber a humanidade não é fácil. Há diferentes culturas, povos com
diferentes sensibilidades. Se a IA não considerar diferentes culturas, vai
esmagar a humanidade…”.
“…. É preciso
questionar a tecnologia. É isso que se faz numa reflexão ética. É um processo
cultural fundamental que tem de juntar a sociedade civil, com empresas, com
organizações não-governamentais, com reguladores e universidades…”.
“…. Estamos num
ponto de viragem para a tecnologia e para a humanidade. O futuro pode levar a
um fosso maior entre diferentes povos. Com ricos mais ricos e pobres mais
pobres. Ou podemos usar a tecnologia para melhorar a vida de diferentes pessoas
em todo o mundo…”.
Mas qual o principal
risco que a IA nos coloca?
A esta questão, que nos
preocupa nos dias de hoje, deixamos a resposta do reputado neurocientista
António Damásio:
“… O risco
principal é o perigo das pessoas não compreenderem que a IA é de facto
artificial e muito diferente daquilo que é a inteligência humana. A
inteligência humana é um derivado da biológica…”.