terça-feira, dezembro 09, 2025

No Palácio Anjos o Atrium visitou a exposição do World Press Cartoon


 Foi na manhã de domingo, dia 7, que nos encontrámos no café junto ao Palácio Anjos, para uma visita guiada à World Press Cartoon, que celebra este ano o seu vigésimo aniversário.

Como é descrito no folheto de apoio à exposição, o cartoon é uma arma, pela liberdade, e foi isso mesmo que confirmámos, guiados pelo traço dos cartoonistas que nas suas obras apontam com precisão as falhas os erros e as malfeitorias das personagens que hoje são os detentores do poder e que dominam na geopolítica internacional. Por outro lado, e em contraponto, eles homenageiam aqueles que são coerentes na defesa dos direitos humanos e nas ideias de progresso, exemplos tão importantes nos dias difíceis que o mundo atravessa.

Os principais temas nesta edição são o regresso de Donald Trump, acompanhado por Vladimir Putin, não esquecendo a figura sempre presente de Elon Musk. Nela são também retratados temas como a sombra da guerra que paira na Europa e na Palestina, os direitos das mulheres, silenciados em diversas culturas e as questões ambientais.

Os novos desafios criados pela dita “Inteligência Artificial” estão também retratados, especialmente ligados aos jovens. (refira-se que para alguns autores, a própria expressão IA é enganadora, uma vez que a “inteligência” é característica dos seres biológicos, para além de ela não ter nada de “artificial”, porque foi pensada e construída por homens e mulheres…).

No total, são quase três centenas de trabalhos, representando autores de mais de 41 países, que permitem ter uma imagem do que foi o andar do mundo entre 1 de janeiro de 2024 e 31 de maio de 2025.

A exposição tem a curadoria do consagrado cartoonista António, e os trabalhos expostos foram selecionados por um júri internacional que se reuniu em Oeiras no mês de junho e que integrou, para além do seu curador, os cartoonistas Niels Bo Bojensen, da Dinamarca, e Tchavdar Nikolov, da Bulgária, a ilustradora francesa Anne Derenne, e o historiador de arte português Paulo Morais-Alexandre.

Uma última referência à parceria da Câmara Municipal de Oeiras na realização do evento.

Foi uma visita enriquecedora, que nos despertou ainda mais para os tempos difíceis que hoje, de uma maneira ou de outra, estamos enfrentando.

No final um retemperador almoço no café Império do Restelo, para (re)ganhar a energia necessária.


















Vencedora do Grande Prémio
Vencedora na categoria caricatura
Vencedora na categoria de desenho humorístico

quarta-feira, novembro 26, 2025

O Atrium em Almada, revivendo o 25 de Abril na exposição “Venham mais cinco”

 

O encontro foi no Parque Empresarial da Mutela, junto à antiga Lisnave, no passado dia 21 de novembro, hoje transformado numa imensa galeria onde esta exposição está instalada.

Integrada nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril ela reúne cerca de 200 fotografias em grande formato de 30 conceituados fotojornalistas e fotógrafos internacionais, que retrataram a Revolução Portuguesa, e também a independência das ex-colónias.

Os trabalhos de pesquisa e curadoria foram feitos pelo realizador Sérgio Tréfaut e pela investigadora Margarida Medeiros (que morreu em 2024) e incluiu contacto com os autores das fotografias e recolha de material nos arquivos das agências internacionais.

Nas palavras de Tréfaut a exposição mostra aquele que “Foi o único momento em que Portugal esteve no centro do mundo” e é “um momento único na História de Portugal”.

As fotografias são mostradas em quatro núcleos: 'A Festa da Liberdade', 'Novas Formas de Poder', 'Independências', 'Um País Dividido'.

Além do brasileiro Sebastião Salgado, a exposição revela as imagens captadas pelas câmaras fotográficas de nomes como Fausto Giaccone, Jean-Claude Francolon, Jean-Paul Paireault, Michel Puech e Vojta Dukát.

Foi uma viagem pelo tempo que nos fez recordar situações e acontecimentos, de um período único da nossa história recente, que muitos de nós tivemos o privilégio de viver intensamente.

A manhã terminou com um animado repasto no restaurante “Almada Minhota”.

Um novo elemento do Atrium esteve presente...










 

terça-feira, novembro 18, 2025

Um Magusto por terras do Ribatejo

 

Este ano festejámos o São Martinho nas Boiças, em casa da Marina e do Zé Carlos, no passado dia 9 de novembro.

Foi uma jornada que proporcionou momentos de alegre convívio, que se iniciou com um suculento almoço, ao qual não faltaram as indispensáveis castanhas e a água-pé.

Seguiram-se algumas actividades, de interpretação artística de poesia, de orientação espacial às apalpadelas e de destreza e pontaria no derrube de algumas personagens pouco recomendáveis.

As boas condições meteorológicas ajudaram ao êxito deste Magusto de 2025.






quarta-feira, outubro 29, 2025

Os painéis de Almada que incomodaram o regime salazarista

 

Os senhores do regime queriam as gares marítimas, de Alcântara e da Rocha do Conde de Óbidos, decoradas com painéis espetaculares que servissem de instrumentos de propaganda à sua ideologia fascista, mas foi Almada Negreiros que fez o seu espetáculo.

Com irreverência e sem cedências, retratou o Portugal triste dos anos quarenta do século passado, a Lisboa ribeirinha, com varinas de pés descalços, pescadores, marinheiros, saltimbancos que pedem esmola e também com o drama dos imigrantes que tinham de partir para fugir à miséria. No fundo eram as cenas reais da vida que ali acontecia mesmo, no cais da capital do então império.

A afronta ao regime foi tal que a sua destruição chegou a ser sugerida ao velho ditador, valendo a intervenção de António Ferro defendendo a qualidade inquestionável dos murais e também do arquiteto Porfírio Pardal Monteiro, autor dos projectos das duas gares marítimas.

E foi no passado dia 23 de outubro que o Atrium efectuou uma visita guiada aos painéis das duas gares, que se iniciou no Centro Interpretativo, situado no piso 0 da Gare Marítima de Alcântara, que conta com nove salas que nos conduzem numa viagem pela história do Porto de Lisboa, mostrando a importância da construção das Gares Marítimas e o processo criativo de Almada Negreiros na elaboração dos murais, na década de 1940.

Nas salas «Cais», «Passagens», «Partidas» e «Chegadas» é apresentada a história da construção das Gares de Alcântara e da Rocha do Conde de Óbidos, bem como a passagem de alguns acontecimentos históricos pelas mesmas, como a II Guerra Mundial (êxodo sem precedentes de gente em fuga da guerra da Europa, escapando aos regimes nazi e fascista da Alemanha e da Itália), a emigração, os embarques para a Guerra Colonial (foi daqui que partiram ao longo de 13 anos de guerra, 800 mil soldados com 500 mil africanos incorporados no exército português) e a subsequente descolonização e regresso dos portugueses das ex-colónias. As gares abriram pela primeira vez em 1943 e 1949, distam entre si cerca de 800 metros.

Os icónicos painéis de Almada mostram o eterno transgressor, e apesar da obra ter resultado de uma encomenda, tudo o que neles se vê é exclusivo do seu talento que ajustou o tom provocatório às narrativas que se propôs contar.

Escolheu a Nau Catrineta, lengalenga popular que falava das desventuras dos marinheiros numa travessia marítima para evocar os Descobrimentos, ilustrou o milagre de D. Fuas Roupinho salvo à beira do abismo, retratou o Portugal rústico e a Lisboa ribeirinha, com varinas de corpos robustos e pés descalços, pescadores e marinheiros em primeiro plano.

As pinturas, destinadas a receber ilustres viajantes estrangeiros no novíssimo cais de Lisboa, foram mal acolhidas pelo ministro Duarte Pacheco que terá mesmo classificá-las como “uns mamarrachos”. Obviamente, o país retratado com modernismo e realismo social a mais, não servia o figurino da política cultural então vigente.

Se na Gare de Alcântara ainda existia alguma ligação temática à História de Portugal, na Rocha do Conde de Óbidos a perspetiva foi colocada nos que sofrem, no drama dos que têm de partir para fugir à miséria, nos saltimbancos que pedem esmola.

A concluir, recorde-se que o restauro dos 14 murais das Gares foi finalizado recentemente, através de um financiamento garantido pela World Monuments Fund, uma organização sem fins lucrativos que tem como missão a salvaguarda de património cultural insubstituível em todo o mundo, com um programa bianual designado World Monuments Watch que a cada edição seleciona 25 lugares em diferentes geografias com notória relevância histórico-artística.

Foi uma visita enriquecedora que terminou num animado almoço no restaurante “O último porto”.