sexta-feira, abril 26, 2024

VIVER ABRIL HOJE E SEMPRE – O Atrium nos 50 anos de Abril

No grandioso desfile, que tornou pequena a Avenida da Liberdade, o Atrium juntou-se aos milhares de manifestantes, para festejar os 50 anos da Revolução dos Cravos.

Foi uma jornada que este ano atingiu uma participação extraordinária - muitos consideraram a maior manifestação do 25 de Abril de sempre - numa demonstração de que passados 50 anos, o povo português não perdeu a capacidade de lutar pela Liberdade, derrubando o medo e o ódio que os inimigos de Abril não desistem de introduzir na sociedade.

Gritou-se alto e bom som; “25 de Abril sempre! Fascismo nunca mais!” e cantou-se em uníssono a Grândola Vila Morena.

Cansados, mas felizes regressamos a nossas casas, mais conscientes que passados cinquenta anos Abril está vivo, e com ele os sonhos de um povo que, um dia, enfeitou as armas de guerra com flores de paz e liberdade.

25 de Abril sempre!











terça-feira, abril 23, 2024

Um mergulho na obra de João Abel Manta, um artista da revolução

 

A visita guiada ao Palácio Anjos, no passado dia 17 de abril, onde está patente a exposição “João Abel Manta livre” foi o reencontro com a obra de um artista, conhecido sobretudo como o mais alto criador da arte gráfica ligada à luta contra a ditadura e à revolução do 25 de abril.

Mas para além dos cartoons e cartazes revolucionários de João Abel Manta (JAM), nesta exposição é mostrada também a grande diversidade da obra do artista. Assim, pudemos apreciar os cartazes de filmes e colóquios, os painéis de azulejos, as tapeçarias, os selos, as colagens, os figurinos e cenários de teatro, as ilustrações de livros, os muitos desenhos feitos por simples prazer, e as pinturas quase desconhecidas.

Peças nunca antes expostas, originárias da casa do artista e da coleção particular dos herdeiros de Vasco Gonçalves, podem ser aqui apreciadas.

Uma referência especial às caricaturas de Salazar, onde JAM analisou e fixou a fisionomia do ditador ao longo do tempo, constituindo um retrato satírico do seu envelhecimento.

Nascido em Lisboa em 1928, foi resistente ao regime de Salazar, foi arquitecto premiado, desenhador, artista gráfico, ilustrador, cartoonista e o autor de algumas das mais emblemáticas imagens da revolução portuguesa de 1974-75.

Recorde-se que JAM foi preso pela PIDE em fevereiro de 1948, aos 20 anos, no Forte de Caxias, por suposta pertença ao MUD Juvenil, e aqui, no Palácio Anjos, é mostrada pela primeira vez, uma selecção dos desenhos que ali produziu.

Das suas obras de maior impacto, fora do cartoon, destacaremos a famosa a tapeçaria do Salão Nobre da Fundação Gulbenkian e o mural de azulejos da Avenida Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

João Abel Manta, atualmente com 96 anos, está impossibilitando de sair de casa por razões de saúde, mas acompanhou todo o processo de organização da sua coleção de obras, então espalhadas pela casa da família, levado a cabo pela sua neta, Mariana Manta Aires, e ficou entusiasmado com a ideia de ver a sua obra exposta. "Ele está muito orgulhoso e muito contente que finalmente se fizesse uma exposição que abrangesse todo o tipo de trabalho. Ele não fez só cartoon, ele não fez só pintura. Fez tantas outras coisas que faltava serem mostradas. E ficou tão satisfeito, tão feliz. Há quase vinte anos que sente que a obra dele foi esquecida", confidenciou Mariana aos jornalistas durante uma visita à exposição.

A exposição conta com curadoria de Pedro Piedade Marques, design gráfico e expositivo de Jorge Silva e colaboração de uma das netas do artista, Mariana Manta Aires.

Foi uma excelente e enriquecedora tarde, que se iniciou com um café e um animado convívio, na esplanada vizinha do Palácio Anjos.
















sexta-feira, abril 19, 2024

Celebrámos os 50 anos do 25 de Abril com um Pedipaper que percorreu três lugares simbólicos

Nos 50 anos do 25 de Abril, o Atrium não poderia deixar de se associar à comemoração desta data, em que Portugal se libertou da ditadura, que o oprimia há uns longos 48 anos.

Para tal organizámos um pedipaper que, no passado dia 24 de Março, percorreu três lugares simbólicos daquele dia histórico: o Terreiro do Paço, o Largo do Carmo e a Rua António Maria Cardoso.

No primeiro deu-se o embate inicial entre as forças revoltosas da EPC, comandadas por Salgueiro Maia, e os tanques de Cavalaria 7 enviados pelo Governo, no segundo concretizou-se a rendição e a prisão de Marcello Caetano e no terceiro ocorreu o cerco, e mais tarde a ocupação, da sede da PIDE/DGS, tristemente marcado pela morte de 4 manifestantes, atingidos pelas balas dos esbirros daquela polícia política.
Foi uma viagem no tempo e no espaço, que trouxe à recordação dos participantes, aquele dia excepcional que a nossa geração teve o privilégio de viver.
Uma referência às 9 equipas presentes, que com a sua entusiástica e esforçada participação, emprestaram a esta iniciativa um brilho que superou as espectativas dos organizadores.
Destacamos também a presença de 5 jovens que se juntaram a nós nesta jornada de celebração.
E no final, a jornada terminou com um animado e retemperador almoço, na histórica Cervejaria Trindade!
Para memória futura, aqui incluímos as fotografias dos participantes.

Equipas 1 e 2 (Ana, Andreia, João e Madalena, Sara e Luísa)
Equipa 3 (Alice, Maria e Glória)
Equipa 4 (Bárbara, Cândida, Maria e Albano)
Equipa 5 (Elizabet e Bernard)
Equipa 6 (Hirondina e José Maria)
Equipa 7 (Fátima, Lurdes e Jorge)
Equipa 8 (Teresa, Teresa Cristina, Marina e Rui)
Equipa 9 (Rosa e Amparo)

quinta-feira, abril 18, 2024

O Atrium recordou Maria Lamas e com ela As Mulheres do Nosso País

Foram duas as actividades que dedicámos à obra desta mulher extraordinária, lutadora pelos direitos humanos e cívicos em tempos de ditadura, porventura a mais notável mulher portuguesa no século XX.

A primeira realizada no dia 29 de fevereiro, foi a visita guiada à exposição “As Mulheres do Meu País”, patente na Fundação Gulbenkian.

Passados mais de 75 anos sobre o início da publicação em fascículos de “As Mulheres do Meu País”, esta exposição, com a curadoria de Jorge Calado, apresenta pela primeira vez em Portugal a obra fotográfica de Maria Lamas (1893–1983), jornalista e escritora, pedagoga e investigadora, tradutora e fotógrafa, que entre 1947 e 1949, andou por serras, arrozais, grandes e pequenas cidades a observar as condições de vida das mulheres portuguesas.

Tivemos a oportunidade de apreciar uma seleção de 67 das suas fotografias, de pequenas dimensões, que documentam a arrepiante constatação da vida da mulher, no campo, na cidade, no interior e na beira-mar. Logo na abertura do livro “As Mulheres do Meu País”, escreve Maria Lamas: “A nossa vida é muito escrava. Todas se exprimem assim, tal-qualmente ou por outras lavras, conforme lhes é usual. O sentido, porém, é sempre o mesmo, como arrastado é sempre o seu viver, na serra, na lezíria, à beira-mar ou na charneca ressequida e sem fim.

O livro, como conta a sua neta Maria José Metello de Seixas no prefácio à segunda edição, foi a resposta da autora ao governador civil de Lisboa de então, que mandou encerrar o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas – a que Maria Lamas presidia e ao qual tinha dado um dinamismo “inconveniente” – alegando que esta não deveria ter tanto trabalho nem preocupar-se tanto com a situação das mulheres, a quem o Conselho Nacional não era necessário, uma vez que o “Estado Novo” confiava à Obra das Mães o encargo de as «educar e orientar». «A esta afronta feita à cidadã respondeu a jornalista: iria verificar e depois informaria.».

A segunda actividade, realizada no dia 9 de março, teve lugar na Casa dos Açores, e nela foi exibido o filme “Um nome para o que sou”, e contámos com a presença da sua realizadora, Marta Pessoa, e também da argumentista, a escritora Susana Moreira Marques, que fizeram a apresentação do filme, um documento sobre o processo de escrita do livro “As Mulheres do Meu País” (através do espólio e dos diários de Maria Lamas), e também uma reflexão sobre a própria escritora, enquanto figura destacada do feminismo português.

Seguiu-se uma interessante conversa, no decurso da qual foi destacado o espírito combativo de Maria Lamas, que conseguiu furar o cerco montado pelo regime a qualquer reflexão jornalística ou sociológica sobre a condição feminina.

Pressionada pelo governo, a administração do jornal "O Século", proprietária da revista "Modas & Bordados", então dirigida pela escritora, faz-lhe um ultimato, obrigando-a a escolher entre a revista e o trabalho no Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas. Maria Lamas não hesitou na escolha, mas o preço a pagar foi muito alto, como escreve Maria Antónia Fiadeiro na biografia que lhe consagrou: “Maria Lamas no desemprego, nunca mais encontrará trabalho certo e será perseguida e assediada policialmente. Tem 54 anos. Conhecerá a prisão e o exílio. Não sem antes empreender a realização de As Mulheres do Meu País, partindo, ao desafio da descoberta das condições de vida das mulheres portuguesas”,

Foram duas actividades enriquecedoras, que nos permitiram conhecer melhor a vida e a obra desta Mulher Portuguesa, uma excecional lutadora pela emancipação da mulher e pelos direitos humanos no nosso país.







quinta-feira, fevereiro 22, 2024

Uma visita guiada às Identidades Partilhadas do MNAA

Na manhã do passado dia 15 de Fevereiro, fomos até ao Palácio Alvor, que alberga há quase 113 anos o Museu Nacional de Arte Antiga, para uma visita guiada à exposição “Identidades Partilhadas: Pintura Espanhola em Portugal”, que apresenta pinturas de grandes mestres espanhóis, com ligações a Portugal desde o século XIV.

Recorde-se que este palácio foi mandado construir em finais do século XVII pelo 1º conde de Alvor, D. Francisco de Távora, após o seu regresso da Índia, onde foi vice-rei entre 1681 e 1686. Em 1883 o palácio é comprado pelo Estado para a instalação do Museu Nacional de Belas Artes e mais tarde, em 1911, em resultado da divisão do acervo museológico, foi nele criado o Museu Nacional de Arte Antiga.

A exposição que visitámos, mostra a presença da pintura espanhola em Portugal, que é uma consequência das relações culturais que existiram entre os dois países, e destaca ainda a importância da marca deixada pelos artistas espanhóis em Portugal, seja por razões ligadas ao gosto, ao mecenato, ao colecionismo, a doações, a ofertas diplomáticas ou a aquisições de museus e instituições eclesiásticas.

As peças que vimos contam uma parte dessa história, através de obras de arte compradas por igrejas, conventos e mosteiros, ou reunidas em coleções particulares. Do século XIV ao início do século XX, estão aqui presentes as grandes correntes da pintura espanhola, cada época revelada pelos artistas mais representativos do seu tempo.

Constituída por 82 obras, a mostra distribui-se por oito salas num circuito que nos levou a conhecer as grandes correntes da pintura espanhola e alguns dos seus principais representantes. Referiremos por exemplo, Luís de Morales, pintor espanhol do séc. XVI que tinha a sua oficina em Badajoz e recebia encomendas de Elvas, Évora e Portalegre, Vasco Pereira Lusitano, pintor português sediado em Sevilha, do qual se apresentam quatro obras importantes, e também El Greco, Francisco de Zurbarán ou Bartolomé Murillo, expoentes da pintura espanhola, numa cronologia que vai do século XIV ao início do século XX.

Foi uma interessante visita, enriquecida pelas explicações da nossa guia.